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Crise climática ignora Trump: pelo menos 40 mortos após tornados nos EUA

Após governo norte-americano anunciar cortes em agências climáticas e desregulação no controle de emissões, país é atingido por megatempestade

Nos seus dois meses de governo, Donald Trump já promoveu demissões de centenas de funcionários, principalmente meteorologistas, de agências federais e, na semana passada, anunciou a revisão de uma série de limitações para controle das emissões de carbono, propulsoras do aquecimento global. O negacionismo de Trump, entretanto, não evita os eventos climáticos extremos. No fim de semana, um sistema de megatempestades atingiu o Centro-Oeste e o sul dos Estados Unidos com uma combinação devastadora de tornados, incêndios florestais, ventos de alta velocidade, inundações e tempestades de poeira: pelo menos 40 pessoas morreram em sete estados.
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O estado do Missouri sofreu o maior impacto dos tornados, que começaram a surgir na noite de sexta-feira: pelo menos 12 pessoas morreram. Ventos fortes no Texas e Kansas provocaram tempestades de poeira que resultaram em engavetamentos de veículos e uma dúzia de mortes nos dois estados. No Kansas, pelo menos oito pessoas morreram depois que mais de 55 veículos bateram devido a uma tempestade de poeira. No Texas, outra tempestade de poeira causou um engavetamento de cerca de 38 carros, deixando pelo menos quatro pessoas mortas.
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Veja o que já enviamosEm Oklahoma, quase 150 incêndios florestais causados por ventos que atingiram mais de 130 km/h e derrubaram até caminhões: foram registradas quatro vítimas fatais. Seis pessoas morreram no Mississippi quando tornados varreram o estado e tornados mataram outras três no Alabama, incluindo uma mulher de 82 anos. No estado do Arkansas, as autoridades relataram três mortes e 29 pessoas feridas. A previsão é que as tempestades estejam se movendo para leste, embora perdendo força. Outros estados do sul e sudeste também estão sob alerta.
Mais de 320 mil pessoas na região atingida pelos tornados, ventanias, tempestades de areia e incêndios estavam sem energia na noite de domingo, de acordo com o rastreador PowerOutage US. Partes dos estados do Texas, Louisiana, Alabama, Arkansas, Tennessee, Mississippi, Geórgia, Kentucky e Carolina do Norte estavam sob alertas de inundação. Foi declarado estado de emergência no Arkansas, Georgia e Oklahoma.
No Missouri, o governador Mike Kehoe divulgou um comunicado que “a escala da devastação é impressionante”, no estado do Meio Oeste. “Centenas de casas, escolas e empresas foram destruídas ou severamente danificadas”, acrescentou Kehoe.

O meteorologista Marc Chenard, do Serviço Nacional de Meteorologia, disse que tornados e outros eventos de clima extremo são comuns na região nessa época do ano – fim de inverno e primeiros meses de primavera no Hemisfério Norte – mas a multiplicação de tornados e a força dos ventos e tempestades de areia levaram a denominação de “alto risco”, raramente usada. ” O impacto foi ainda mais forte do que normalmente veríamos”, comentou o meteorologista em entrevista à AP.
Chenard destacou que foram registrados 46 tornados na sexta-feira e 41 no sábado, de acordo com uma contagem preliminar. Na noite de domingo, houve muitos relatos de danos causados pelo vento, especialmente nos estados de Ohio, West Virginia, Pensilvânia e Nova York. Ventos fortes e baixa umidade aumentam o risco de incêndios florestais, informou o Serviço Nacional de Meteorologia, que emitiu alertas para 13 estados. Condições climáticas extremamente críticas para incêndios também são esperadas na terça-feira no sudeste do Novo México e no noroeste do Texas.
Só após quase dois dias de tornados e tempestades numa área onde moram 100 milhões de estadunidentes, o presidente Donald Trump se manifestou para dizer que a Casa Branca estava “monitorando as tempestades” e ajudaria autoridades estaduais e locais na recuperação, informando ainda que tropas da Guarda Nacional foram enviadas para Arkansas. “Por favor, juntem-se a Melania e a mim em orações por todos os afetados por essas terríveis tempestades!”, postou Trump em sua rede social no domingo.
Os americanos vão precisar mais do que postagens e orações para enfrentar a temporada de tornados e outros eventos extremos. Pesquisas mostram que as mudanças climáticas criam condições de tempestade favoráveis à ocorrência de tornados, e que o momento e a localização dos tornados estão mudando com o aquecimento global e se tornando cada vez mais imprevisíveis.
As tempestades ocorrem poucas semanas após o governo Trump promover cortes nas agências federais que cuidam do clima e da previsão do tempo. O New York Times relatou, na semana passada, que a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), responsável por alertas de tornados e outras previsões meteorológicas, está cortando 20% de sua força de trabalho.
Meteorologistas e cientistas alertaram que o desmonte de agências meteorológicas colocaria em risco a segurança pública. “Isso afetará a segurança. Afetará a economia”, alertou o ex-administrador da NOAA, Rick Spinrad, em uma entrevista na semana passada, apontando que o país estava entrando na época mais crítica para tornados.
Na quarta-feira, o chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), Lee Zeldin, anunciou nesta quarta-feira a revogação de 31 regulamentações ambientais, incluindo regras sobre mudanças climáticas, poluição de usinas a carvão e produção de veículos. Os anúncios incluem a revogação de limites de emissões para usinas de energia e automóveis, bem como a redução das proteções para cursos d’água. A EPA também anunciou o encerramento de programas de diversidade e justiça ambiental, que buscavam melhorar condições em áreas afetadas pela poluição industrial.

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade