Com parte de seu território dentro do Círculo Polar Ártico, o estado americano do Alasca vem enfrentando temperaturas recordes – algumas quase 30 graus acima da média no mês – que assusta a população. Em Deadhorse, uma pequena comunidade industrial no extremo norte do estado, ao longo da costa sul do Oceano Ártico, o calor alcançou a alta histórica, passando dos 32º C (89º na escala Fahrenheit) na primeira semana de agosto: estava mais quente do que a maioria dos lugares na Flórida. Na mesma semana, as altas temperaturas provocaram uma inundação na cidade de Jounou, capital do Alaska, quase na divisa com o Canadá, depois que uma geleira derreteu, provocando o transbordamento do Rio Mendhall: mais de 800 pessoas foram obrigadas a deixar suas casas.
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O Alasca está esquentando mais rápido do que a média global, com temperaturas médias anuais aumentando em todo o estado desde 1971, de acordo com uma avaliação climática nacional dos EUA divulgada no ano passado. O Alasca é o estado americano onde a temperatura mais aumentou em 50 anos: mais de 1ºC acima da média da década de 1970. Em Deadhorse, a faixa normal de temperatura para Deadhorse nesta época do ano fica em torno de 10º C. As ilhas Barter, no Mar de Beaufort, na costa do Alasca atingiram um recorde de temperatura para agosto de 23º,3 C. superando o recorde anterior de 22,2º C, estabelecido em agosto de 1957.
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Veja o que já enviamosA onda de calor se espalhou por todo o Ártico, afetando uma região que aqueceu três vezes mais que a média global. O calor intenso avançou do norte do Alasca, atravessou o Canadá, até chegar a Baía de Hudson, no nordeste canadense, gerando recordes após recordes históricos de temperaturas altas. Uma onda de calor menos intensa, mas igualmente persistente, tem atingido partes do Ártico da Escandinávia no lado oposto do Polo Norte.
No Canadá, as temperaturas subiram para quase 37 graus em Norman Wells, Canadá, a apenas 150 quilômetros ao sul do Círculo Polar Ártico. O calor no norte do Canadá intensificou a seca e os incêndios estão devastando muitas áreas. O historiador meteorológico canadense Thierry Goose tem compilado um número crescente de registros de temperatura. Foram registradas máximas históricas no Noroeste do país: Little Chicago (36,3º C), Fort McPherson (35,1º C), Inuvik (34,8º C), Trail Valley (33,6º C) e Paulatuk a 88 graus (31º C). Também foram registrados ricos para agosto em vários cidades do extremo norte do Canadá.
No lado oposto, o calor histórico foi observado ao norte do Círculo Polar Ártico na Escandinávia nos últimos dias. A cidade de Longyearbyen – localizada nas Ilhas Svalbard da Noruega entre os mares da Groenlândia e de Barents e considerada a última cidade ao norte do planeta (depois é só gelo) – atingiu sua maior temperatura registrada, em 11 de agosto, com uma máxima de 20,2° C, (2,2º C, acima do recorde mensal anterior. No dia seguinte, superou novamente o recorde, chegando perto de 20º C: essas máximas consecutivas não têm precedentes.
Inundação após explosão glacial
A onda de calor no Alasca também atingiu Juneau, a capital do estado, perto da divisa do Canadá: o Rio Mendenhall, que atravessa o norte da cidade, ultrapassou o estágio de grande inundação, alagando ruas, casas e comércio e desalojando moradores. A inundação foi causada por uma ‘explosão glacial’, quando a água represada por uma geleira repentinamente cede e é liberada rio abaixo. Essa explosão glacial ocorreu quase um ano após a data do evento semelhante no ano passado – com as mudanças climáticas, o calor mais intenso faz o gelo derreter e libera a água, explicaram especialistas.
Em comunicado, a Prefeitura de Jeneau explicou que as explosões glaciais acontecem quando um verdadeiro lago formado de neve e gelo derretidos e chuva “escorre rapidamente – como se estivesse puxando a tampa de uma banheira cheia” depois de acumular-se tão alto que ultrapassa a geleira que o segura. O medidor do nível do Rio Mendenhall atingiu o pico de quase cinco metros (4,87 metros) no começo de agosto, excedendo em um centímetro o recorde anterior, estabelecido no ano passado. No pico do nível das águas, o medidor do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) registrou um fluxo de água superior a 934 metros cúbicos por segundo, mais de 226 metros cúbicos acima dos níveis já considerados recordes históricos em 2023.
As primeiras estimativas mostram que cerca de 14,6 bilhões de galões de água foram liberados da Bacia do Suicídio (da qual o Rio Mendenhall faz parte), de acordo com Aaron Jacobs, hidrólogo do Serviço Meteorológico Nacional baseado em Juneau; essa quantidade de água encheria mais de 22 mil piscinas olímpicas. Essas liberações de água após explosões glaciais nos últimos dois anos fazem os cientistas se perguntarem se esse é o novo normal da geleira. “Essa é a pergunta que todos nós estamos tentando responder, e como monitorar e identificar os momentos em que há uma liberação parcial versus uma liberação total”, disse Jacobs a jornais do Alasca. Mais pesquisas estão sendo feitas por cientistas na área para entender melhor esse complexo sistema glacial, e melhorias nos programas de monitoramento e previsão também estão em andamento.
As medidas de mitigação tomadas após a enchente do ano passado – como a estabilização das margens do rio – minimizaram o impacto em algumas regiões. Mas quase 300 casas foram inundadas este ano porque mais água foi liberada da geleira e empurrada rio abaixo, o que provocou o transbordamento e inundou as comunidades.