ODS 1
O verdinho básico das grifes de moda
Marcas investem em reflorestamento, patrocínios e até criação de parques florestais
Não basta lançar tendências e ser uma marca queridinha do público. É preciso alinhavar uma relação de empatia e responsabilidade com os consumidores que extrapole as fronteiras fashionistas. De olho na onda de sustentabilidade que mobiliza cada vez mais gente mundo afora, um número crescente de grifes brasileiras se preocupa também em desenvolver ações ambientais. Com isso, solidificam uma imagem positiva. O que começou com o uso de materiais inteligentes em seus produtos parte agora para as iniciativas de campo. Há desde patrocínios para ações de reflorestamento até a criação de parques florestais.
[g1_quote author_name=”Taise Beduschi” author_description=”Grupo Malwee” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Temos um compromisso, até 2020, de quantificar o impacto ambiental de 100% dos produtos, alcançar 70% dos modelos produzidos usando matérias-primas ou processos que contribuam para o desenvolvimento sustentável, atingir 10% dos modelos desenvolvidos pela marca com viés sustentável e restringir o uso de produtos químicos utilizados nos processos têxteis aplicando padrões definidos pela legislação internacional.
[/g1_quote]O gigante grupo Malwee, fundado há 47 anos, por exemplo, é um pioneiro no tema. Dona de dez marcas de moda, a empresa catarinense mantém, na cidade de Jaraguá do Sul, o Parque Malwee, com 1,5 milhão de metros quadrados de área totalmente implantada, onde existem 16 lagoas (a maior delas com cem mil metros quadrados), cerca de 35 mil árvores (espécies nativas, brasileiras e estrangeiras) e fauna variada. A direção do grupo estima que já tenham sido investidos cerca de R$ 58 milhões na manutenção dessa área verde, aberta ao público.
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Veja o que já enviamosA gestora de Sustentabilidade do grupo Malwee, a engenheira química Taise Beduschi, afirma que o parque é a maior demonstração de responsabilidade que a empresa tem com o meio ambiente. Quando o espaço verde foi inaugurado, em 1978, segundo ela, o termo sustentabilidade ainda não era moda:
– O parque, que está aberto à comunidade de forma gratuita todos os dias, disponibiliza diversos espaços que proporcionam o contato com a natureza e específicos para o esporte e lazer. A área abriga uma rica variedade de plantas e animais. A oportunidade que o visitante tem de conviver em harmonia com tantas espécies é singular. E tudo isso sem custo algum para a comunidade ou o estado. Os benefícios da preservação de um lugar como esse são imensuráveis tanto do ponto de vista social quanto ambiental.
A Associação Recreativa Malwee administra o parque, que recebe recursos da ordem de R$ 1,2 milhão ao ano (investidos com folha de pessoal e na manutenção da área).
– Além de espécies nativas, outras árvores foram agregadas ao ambiente, como araucárias, jambos, palmeiras (originárias da Polinésia), quatro mil ciprestes Bidwille, limoeiros raros, exemplares de côco-anão, nozeiras pecan, flamboyants, cerejeiras e uma plantação de palmito. Coabitam ainda no parque animais de pequeno e médio porte e centenas de espécies de aves. Nenhum é mantido em cativeiro – acrescenta Taise.
A carioquíssima Cantão, que arrasta uma legião de consumidores jovens às suas lojas a cada lançamento de coleção, também surfa na onda da sustentabilidade há tempos, optando por materiais mais sustentáveis em suas peças. Recentemente, a marca produziu, por exemplo, uma linha de jeans, cujo tecido inteligente exige menos lavagens e, consequentemente, reduz o consumo de água. Mas, de acordo com a coordenadora de branding da marca, Monique Motta, a empresa quis ir além e se uniu ao movimento Floresta Viva em Mim, que desenvolve projetos ambientais. A ideia era elaborar projetos em conjunto e duas coleções especiais, em parceria com artesãs de uma tribo indígena da Amazônia acreana.
Dessa parceria surgiu uma linha de camisetas-manifesto com a etiqueta do Cantão. Todo o valor da venda foi destinado ao Instituto Canto Vivo, ONG que promove ações de reflorestamento pelo país. A grife carioca patrocinou o plantio de 200 mudas de árvores de espécies nativas da Mata Atlântica na Quinta da Boa Vista e outras áreas da cidade. A primeira fase de replantio envolveu crianças do Instituto EMARCA de Pesquisa e Educação Profissional.
Dessa forma, diz Monique, a empresa retornou ao ambiente, por meio de um projeto sustentável, 100% dos recursos obtidos com a venda das camisetas “Floresta Viva em Mim”. Entre as espécies, havia exemplares de ipê amarelo, pau-brasil e ipê rosa. As ações de plantio ainda estão em curso. Ela explica que o conceito da campanha era fazer a conexão entre as florestas nativas e as urbanas.
– A marca está cada vez mais atenta às questões sociais e ambientais. Por isso, criamos uma parceria muito sólida com o Instituto Canto Vivo e continuaremos apoiando a organização em ações de reflorestamento pelo país, buscando ainda unir estas a trabalhos sociais – conta Monique, citando o projeto “Reciclagem Cantão, criado há quase 10 anos, como outro exemplo de preocupação com o ambiente, já que parte da matéria-prima usada pela marca é reaproveitada em projetos sustentáveis e novos produtos.
Sustentabilidade também está na pauta da Mercatto, marca também carioca, que apoia o projeto “Dá Pé”, que promove ações de replantio de árvores, em parceria com a fundação SOS Mata Atlântica.
– A Mercatto tem buscado incansavelmente parcerias para trazer generosidade, diversidade e felicidade para a vida das nossas clientes. Com isso, criamos várias experiências do bem, muitas relacionadas à proteção da natureza. Já faz tempo que a ecologia inspira a moda, então nada melhor do que unir boas ações ao nosso sonho de mudar um pouquinho o mundo. Contribuir para o reflorestamento do Brasil virou nosso objetivo nessa estação e isso pode até influenciar o meio ambiente em escala mundial. Essa vibração colaborativa tem um peso enorme – afirma Renato Cohen, diretor da marca.
Segundo o executivo, a Mercatto e o projeto Dá Pé pretendem conscientizar o público consumidor sobre a importância da preservação ambiental e levá-lo a ajudar essa causa por meio da moda. Por isso, a marca também criou uma camiseta, à venda nas lojas, com lucro revertido para o replantio de áreas devastadas no país. A expectativa da empresa era arrecadar entre R$ 50 mil e R$ 70 mil.
O engajamento das grifes à questão ambiental é um indício de que a preocupação com a sustentabilidade não sairá de moda tão cedo. Taise Beduschi, da Malwee, por exemplo, garante que a marca tem outras metas que vão além do Parque em Santa Catarina.
– No desenvolvimento de novos produtos, o Grupo Malwee se compromete, até 2020, a quantificar o impacto ambiental de 100% dos produtos, alcançar 70% dos modelos produzidos usando matérias-primas ou processos que contribuam para o desenvolvimento sustentável, atingir 10% dos modelos desenvolvidos pela marca com viés sustentável e restringir o uso de produtos químicos utilizados nos processos têxteis aplicando padrões definidos pela legislação internacional. Além disso, o Grupo tem meta para reduzir em 20% as emissões atmosféricas – conclui a executiva da empresa, hoje com oito unidades fabris, 40 mil pontos de vendas multimarcas e mais de 350 lojas.
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Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.