Nasce um mapa da agricultura ecológica no mundo

Quem são as pessoas que materializam esse ideal, outrora improvável, que é produzir alimento e conservar a natureza em um único ato? Projeto busca identificar aqueles que estão por trás dessas iniciativas de cultivo com baixo impacto ambiental

Por Henrique Kugler | ODS 12ODS 2 • Publicada em 5 de julho de 2020 - 13:35 • Atualizada em 3 de agosto de 2020 - 21:44

Quem são as pessoas que materializam esse ideal, outrora improvável, que é produzir alimento e conservar a natureza em um único ato? Projeto busca identificar aqueles que estão por trás dessas iniciativas de cultivo com baixo impacto ambiental

Por Henrique Kugler | ODS 12ODS 2 • Publicada em 5 de julho de 2020 - 13:35 • Atualizada em 3 de agosto de 2020 - 21:44

“Estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém.” Essas linhas foram redigidas em 1755, pelo filósofo genovês Jean-Jacques Rousseau, nas páginas do célebre “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”. Em seu idealismo libertário, Rousseau provavelmente não imaginava que a emblemática frase atravessaria os séculos – e ganharia interpretações que transcendem a própria filosofia. Hoje, vivemos uma pandemia global. E, enquanto nações inteiras reconfiguram suas engrenagens, um esquecido debate retorna ao centro das atenções. Não, não mais interessa debater apenas a propriedade, a terra e o alimento. Discutimos, agora, a segurança alimentar e nutricional dos povos.

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Com o auxílio de um mapa digital interativo, e de metodologias de jornalismo transfronteiriço (ou cross-border journalism, no termo consagrado em inglês), vamos conhecer a dimensão humana da agricultura ecológica em diferentes latitudes e longitudes

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Por isso, precisamos falar em agricultura. Não uma agricultura que faça da terra um limite fundiário, do agricultor um comerciante de números, e do alimento um mero produto. Nesses novos tempos, somos convidados a pensar em uma agricultura que valoriza a terra como suporte sagrado da vida, o agricultor como intérprete da natureza, e o alimento como fonte primária de nossa sobrevivência. Afinal, o sinal dos tempos é claro. Nesse delicado equilíbrio entre natureza e civilização, aprendemos a distinguir o supérfluo do essencial.

Leia as reportagens da série ‘Plantando o futuro: a agricultura ecológica no século 21’

E essencial, todos sabemos, é manter a vitalidade de nossos ecossistemas. Disso depende a qualidade do ar que respiramos; da água que bebemos; do alimento que nos sustenta. A agricultura de base ecológica, em suas variadas manifestações, pode ser um virtuoso caminho na busca pela harmonia entre produção e conservação. Agricultura orgânica, agricultura natural, agroecologia, agricultura biodinâmica, permacultura, sistemas agroflorestais… Há amplo vocabulário conceitual para nomear tantas práticas que, apesar de distintas, têm em comum uma característica: abrem mão do uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos ou demais insumos químicos prejudiciais à saúde humana e ao ambiente natural.

A agricultura de base ecológica, em suas variadas manifestações, pode ser um virtuoso caminho na busca pela harmonia entre produção e conservação
A agricultura de base ecológica, em suas variadas manifestações, pode ser um virtuoso caminho na busca pela harmonia entre produção e conservação (Foto Henrique Kugler)

Diversos trabalhos científicos têm destacado a relevância desses métodos produtivos, em todos os continentes, diante dos múltiplos desafios globais enfrentados pelas sociedades contemporâneas. Alguns exemplos são o estudo Organic agriculture in the twenty-first century, publicado pela Nature Plants em 2016, ou o artigo Strategies for feeding the world more sustainably with organic agriculture, publicado na Nature Communications em 2017. As virtudes e potencialidades da agricultura ecológica são também endossadas pelo relatório Critical perspective on food systems, food crises and the future of the right to food, publicado pelas Nações Unidas no início de 2020.

Mas essa história tem ainda um capítulo não escrito. Por um lado, há décadas de pesquisas acerca dos aspectos técnicos concernentes aos sistemas agronômicos de base ecológica. Por outro lado, pouco sabemos sobre a dimensão humana desse fenômeno: quem são os atores anônimos por trás dessa revolução silenciosa que pode, quem sabe, oferecer um novo horizonte para as demandas alimentares da humanidade? São agricultores e agricultoras, e eles têm faces e nomes. Também sobrenomes. Quem são, onde vivem e como trabalham? Quais são suas motivações, seus objetivos e suas dificuldades?

Para encontrar tais respostas, inauguramos o projeto Farming for the future: ecological agriculture and food security in the 21st century. Jornalistas e fotógrafos visitarão propriedades rurais ecológicas em vários países com um só objetivo: narrar as histórias de vida dos agricultores e agricultoras que materializam esse ideal outrora improvável, que é produzir alimento e conservar a natureza em um único ato. Com o auxílio de um mapa digital interativo, e de metodologias de jornalismo transfronteiriço (ou cross-border journalism, no termo consagrado em inglês), vamos conhecer a dimensão humana da agricultura ecológica em diferentes latitudes e longitudes. E, com o apoio do projeto #Colabora, temos a honra de publicar agora as duas primeiras reportagens desse audacioso projeto. 
Navegue abaixo pelo mapa digital:

*Esta reportagem foi uma das vencedoras da 1ª Bolsa #Colabora

Henrique Kugler

Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná, é mestre em meio ambiente e desenvolvimento pela Universidade de Edimburgo. Atualmente, vive na Noruega e escreve como freelancer sobre temas científicos e ambientais. Foi vencedor do Prêmio Imprensa Embratel, Prêmio Allianz de Jornalismo e Prêmio Jornalista & Cia HSBC de Imprensa e Sustentabilidade. É embaixador da organização Hostwriter.org, sediada na Alemanha, e diretor de relações internacionais da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência.

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5 comentários “Nasce um mapa da agricultura ecológica no mundo

  1. Márcio Piratello disse:

    Bom dia, Henrique.
    Inicialmente, parabéns pela poderosa iniciativa.
    O meu interesse sobre o assunto é voltado para a identificação de experiências eco/agroecológicas e de mecanismos de organização e controle social destas iniciativas.
    Além de atuar nessa área, neste momento, sou pré-candidato a vereador por Rio das Ostras, RJ.
    Como a proposta é coletiva, campanha e mandato, seria de grande valia trocar ideias informações e, quiçá, transformá-las em propostas de política pública para o município.
    Obrigado.
    Abraços

  2. Emílio Colzani disse:

    Parabéns pelo artigo e pela iniciativa, vcs poderiam criar um link para que os interessados pudessem contribuir com novas informações no mapa, e assim ampliar esse conhecimento, existem muitos produtores que estão começando e outros que já produzem que ainda não estão no mapa… Abraço

  3. Vera Lucia Caldas Vidal disse:

    Minha luta é para barrar o uso de técnicas que envenenam a produção de alimentos: agrotóxicos, adubos químicos, hormônios e antibióticos. Luto pela agroecologia, agrofloresta, produção orgânica, agricultura familiar. Considero que a mais eficiente forma de vitória nesta luta é mapear os produtores, reuni- los de forma a oferecerem seus produtos num unico site onde o comprador escolhe e paga on line e recebe o produto a domicilio. Cada produtor especifica sua area de entrega.
    Quero me unir ao trabalho deste grupo no esforço de localizar e reunir os produtores que defendem essa bandeira da produção alimentar LIMPA.
    Esta aproximação de produtor e consumidor num site unificador, conjugado com a entrega a domicilio facilita a opção pelo uso de produtos orgânicos: facilidade de encontrar produto e produtor com entrega a domicilio. Este site dinamizaria o consumo de orgânicos, aumentando a produção, diminuindo o espaço dos atravessadores e melhorando a renda do produtor.

  4. Maria Alice Pedotti disse:

    Gostei muito. Moro em Curitiba e pretendo conhecer os locais. Acho importante, também, reconhece os sistemas de vida dos nossos povos originários e formas de preservação da natureza.

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