O protagonismo das empresas na década da sustentabilidade

Mais do que nunca, critérios ambientais, sociais e de governança vão pautar as decisões de investimentos e a continuidade dos negócios

Por Marina Grossi | ODS 12 • Publicada em 19 de fevereiro de 2021 - 09:03 • Atualizada em 23 de fevereiro de 2021 - 09:07

Arte Claudio Duarte

A chegada de 2021 consolida o protagonismo que o setor privado deve continuar desempenhando na mudança das bases da economia mundial. Um novo passo em direção ao futuro. Afinal, dobramos a esquina de uma década e temos pela frente nove anos para implementar as metas para um desenvolvimento mais sustentável. A tarefa exigirá aumento no ritmo de transformações que as companhias vêm implementando e deve também acelerar tendências rumo a uma nova configuração do sistema capitalista. A pandemia deixou ainda mais clara a necessidade de um novo contrato social, possível apenas com a participação de empresas, governos e sociedade civil. Caminhamos para uma economia do cuidado, na qual critérios Ambientais, Sociais e de Governança (ESG, na sigla em inglês) vão pautar cada vez mais as decisões sobre investimentos e a continuidade dos negócios. Uma economia também regenerativa, em que empresas deverão não apenas impedir a deterioração e preservar o meio ambiente, como também recuperar ativos naturais, sistemas hídricos e biomas.

O mercado mundial vem mudando rapidamente, num ritmo ainda maior durante a pandemia. A tônica na Europa e nos Estados Unidos tem sido a de buscar uma economia circular, com eliminação de resíduos desde a fábrica até o consumidor, ao mesmo tempo em que se preservam ativos naturais com maior racionalidade no uso de produtos.

Antes de iniciar a década final de implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o setor privado brasileiro vem realizando seu dever de casa, que se tornou mais urgente com a pandemia do coronavírus. Grosso modo, em uma simplificação, podemos dizer que o mais importante foi a definição do foco nas pessoas – sejam elas funcionárias, prestadoras de serviço, da cadeia de fornecedores e, principalmente, os consumidores. O chamado capitalismo de stakeholders representa apenas um primeiro degrau.

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Bancos e investidores acompanham cada vez mais de perto o desempenho social de empresas, uma vez que erros na relação com a comunidade ou na contratação de terceirizados se transformam, rapidamente, em danos para a imagem, com efeitos nos resultados corporativos. A adoção de critérios ESG e práticas voltadas a uma economia circular e de baixo carbono serão não apenas mais valorizados, como também sinônimo de maior competitividade e acesso a mercados internacionais de grande poder aquisitivo.

Por isso, a agenda do setor privado em todo o mundo precisa caminhar na direção de maior presença de equipes diversas em todos os graus de hierarquia, políticas de proteção contra o preconceito e o assédio, critérios de direitos humanos na contratação e interlocução com fornecedores, entre outros.

A complexidade social do Brasil, com desigualdade extrema, racismo estrutural e resistências à maior representatividade feminina na liderança, significa que boas práticas e programas de inclusão ganham mais importância e servem de exemplo aqui e lá fora. Em outras palavras: ao fazer sua parte, empresas contribuem para superarmos dificuldades com as quais a sociedade convive há muito tempo e isso atribui valor às nossas marcas e produtos – da mesma forma que produtos da Amazônia, quando fabricados de forma responsável com a natureza, atendem à forte demanda de consumidores de todo o planeta.

Abraçar os critérios ESG equivale, portanto, a maior responsabilidade com recursos naturais, com as pessoas e com o ambiente corporativo. A cada dia, este se mostra o novo trilho da locomotiva econômica global. E isso não se deve apenas a uma maior conscientização, e sim a uma necessidade. O posto de chegada desta corrida prevê um enorme esforço para neutralidade de carbono nas próximas décadas.

Este assunto, do qual falarei em meus próximos textos, será tratado no fim do ano na Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas sobre clima, em Glasgow, Escócia. Os principais governos de todo o mundo já trabalham para mostrar uma maior ambição, a fim de atingir até meados do século emissão líquida zero, em conformidade com as metas do Acordo de Paris.

Na próxima COP, os governos voltam à mesa de negociação para discutir o Acordo de Paris e podemos esperar mais exigências para a conduta das empresas. O setor privado brasileiro, em especial as associadas ao CEBDS, acompanha o tema proativamente e a exemplo do que vem fazendo, deixará claro para a sociedade sua contribuição para o atingimento dos objetivos que beneficiarão a todos.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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