É bom ser turista. Conhecer outras lugares, países, comidas, costumes. Tirar fotos para dar inveja aos amigos nas redes sociais. Fazer compras e voltar com histórias para contar. O que já não é tão bom é estar do outro lado. Viver em uma cidade onde milhões de pessoas passam as suas férias. Conviver com um turismo de massas que descaracteriza a própria cidade. Ver o comércio tradicional ser expulso de bairros centrais pela pressão imobiliária, sentir na pele o preço alto dos aluguéis, conviver com ruas sujas e gente bêbada dormindo em qualquer canto e até mesmo fazendo sexo pelas calçadas. Este é o retrato do turismo em Barcelona, que fez com que este seja considerado o principal problema da cidade por seus moradores- segundo pesquisa da prefeitura – superando em muito o desemprego, relegado ao segundo posto.
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A Espanha está batendo recordes de visitantes. Em 2016, foram 75,3 milhões de turistas, segundo dados do Ministério de Energia, Turismo e Agenda Digital. Lembrando que a população do país é de 45 milhões de pessoas.
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Veja o que já enviamosA Espanha como um todo está batendo recordes de visitantes. Em 2016, foram 75,3 milhões de turistas, segundo dados do Ministério de Energia, Turismo e Agenda Digital. Lembrando que a população do país é de 45 milhões de pessoas. Para este 2017, o governo espanhol espera superar esta cifra, devendo passar os 80 milhões de visitantes. A Espanha é o terceiro país do mundo que mais recebe turistas, somente ficando atrás da França e dos Estados Unidos. Uma atividade econômica importantíssima para o país, pois representa 11% do PIB nacional.
Um dos motivos que traz cada vez a mais pessoas a passear por aqui é o medo aos atentados terroristas no norte da África. Egito, Turquia, Tunísia vivem momentos de calamidade no setor. Um drama para a economia destes países. O fluxo de visitantes se desviou para outros destinos também de sol e considerados mais seguros. A Espanha, que sempre recebeu muitos visitantes, a cada ano bate um novo recorde.
A região da Catalunha é a que mais recebe turistas. Ano passado foram 17 milhões, oito milhões apenas na capital Barcelona, uma cidade que mal supera os dois milhões de habitantes. E, como em todo o país, se espera um número maior este ano. Daí a animosidade dos locais contra os de fora, que fez com que o jornal inglês “The Independent” colocasse Barcelona na lista das cidades que odeiam os turistas, junto com Veneza.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]Como tentar diminuir o chamado “turismo de bebedeira”, que tantos transtornos provocam, sem cair no turismo elitista e endinheirado e muito menos numeroso?
[/g1_quote]Por decisão da prefeita Ada Colau, do partido Barcelona em Comum, foram canceladas a emissão de novas licenças para aberturas de alojamentos turísticos. Também a prefeitura está dando uma dura em plataformas digitais de aluguéis de apartamentos como Airbnb, para tentar coibir a oferta de hospedagem sem licença para exercer esta atividade econômica. Ano passado, a prefeitura já aplicou uma multa de 600 mil euros a Airbnb e Homeway (aproximadamente R$ 2,2 milhões). E este ano está ameaçando proibir o trabalho destas empresas na cidade, caso elas não colaborem em frear os anúncios ilegais. Foi criada uma força tarefa com 40 pessoas para verificar cada oferta. Mais de seis mil apartamentos foram autuados, sendo que 137 fechados definitivamente. Janet Sanz, secretaria de Ecologia e Urbanismo de Barcelona, disse, em entrevista coletiva, que “estas empresas estão roubando a cidade. Existe uma legislação vigente, que deve ser cumprida por todos os cidadãos. Por que deveria se diferente para elas? Airbnb necessita muito mais das cidades, que as cidades do Airbnb.”
O que a prefeitura quer é conter a subida dos aumentos dos aluguéis para quem mora na cidade, que dispararam no último ano, com muitos proprietários preferindo o aluguel diário ao turista, que um contrato a longo prazo para um morador. Além de tentar impedir malandragem bastante comum de quem aluga um apartamento para uma longa temporada como se fosse para viver e depois realuga para o turista.
Claro que com tudo isto a cidade corre o risco de perder visitantes, o que não seria nada bom para um país submerso há dez anos em uma grave crise econômica. A cidade – ou melhor, a Espanha – necessita do turista. O problema é, utilizando uma expressão espanhola, “não morrer de êxito”. Como encontrar o equilíbrio entre a cidade autêntica, que atraia o visitante por sua cultura, pelo bom tempo, pelas praias e o turismo massivo que sucumbe a paella feita por chineses? Como tentar diminuir o chamado “turismo de bebedeira”, que tantos transtornos provocam, sem cair no turismo elitista e endinheirado e muito menos numeroso?
Não será uma escolha fácil para a cidade de Miró e Gaudí. Mas uma decisão importante se não quiserem ver seus bairros mais característicos transformados em parques temáticos.