ODS 1
Pandemia inviabiliza (de novo) festas juninas do Nordeste
Com eventos cancelados pelo segundo ano, palcos dos festejos mais populares sofrem com prejuízo: alguns municípios cancelam até São João virtual
No segundo junho de pandemia, cidades do Nordeste, palcos das maiores e mais tradicionais festas juninas da região, enfrentam como podem essa temporada que costumava reunir animação e grande movimentação financeira. Cálculos feitos pelos estados, em 2020, apontavam prejuízo de mais de R$ 1 bilhão no Nordeste, com a suspensão das festas. Os municípios chegaram a fazer planos para este 2021, suspensos com mortes e casos de covid-19 ainda em alta. Listamos seis municípios conhecidos por suas festas juninas para contar como será a temporada junina.
1.Campina Grande, Paraíba
A cidade do Agreste paraibano vangloria-se de ter Maior São João do Mundo, como a festa é chamada na cidade e vendida para os turistas. A pandemia tornou a temporada junina modesta e virtual. Campina Grande prepara apresentações em seu canal do YouTube. No dia 23/06, véspera de São João, a paraibana Elba Ramalho se apresenta com a campeã do BBB 21, Juliette, nascida na cidade. A prefeitura organizou um calendário com lives de artistas que fazem suas apresentações sem auxílio municipal, mas que já tinham tradição de se apresentar no São João da cidade, como o cantor Wesley Safadão, que, no dia 19/06, se apresenta com Alceu Valença. Além dessas apresentações, 473 projetos foram contemplados pela Lei Emergencial Cultural Aldir Blanc, beneficiando cerca de cinco mil artistas. No espaço dos festejos juninos, foi montado um palco de onde serão transmitidas os shows sem público. Em 2019, cerca de dois milhões de pessoas passaram pelos 31 dias de festa, com visitantes, em sua maioria do Nordeste, mas também dos Estados Unidos, Filipinas e Portugal, de acordo com a pesquisa 6Sigma, encomendada pelo Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Campina Grande (SindCampina), entre junho e julho daquele ano.
2. Caruaru, Pernambuco
A prefeitura da Capital do Forró – apelido da cidade pernambucana – estima que R$ 200 milhões foram movimentados durante o mês de junho de 2019, gerando 12 mil empregos diretos e indiretos. Em 2021, porém, não há nem apresentações virtuais previstas, já que os recursos estão sendo destinados todos para a área de saúde, no combate à pandemia. Com os prejuízos causados pelo segundo ano consecutivo sem o São João de Caruaru, a Câmara de Vereadores aprovou, no dia 10/06, o BEM São João, um benefício emergencial para contemplar artistas que participaram da festa em 2019, moram em Caruaru e são cadastrados na prefeitura. O pagamento será uma parcela única em valores que variam de R$ 1 mil a R$ 3 mil. Em 2019, foram mais de 800 apresentações em quase um mês de festa junina.
3. Mossoró, Rio Grande do Norte
O Mossoró Cidade Junina 2021 Virtual já começou e vai até 27 de junho, com mais 80 atrações no canal do YouTube da prefeitura. Os shows também são retransmitidos por três emissoras de TV locais. A programação completa pode ser acessada neste link. Os valores dos cachês variam de R$ 800 a R$ 7 mil por show. A organização do evento online garante que todos os artistas só entram para gravar com máscaras, testados (via teste rápido) e com a temperatura aferida. Cerca de R$ 950 mil foram investidos no Mossoró Cidade Junina 2021 Virtual. Com o baque causado pelo cancelamento da festa na cidade, foram repassados R$ 1.605.400 a projetos artísticos-culturais contemplados com recursos nos editais da Lei Aldir Blanc. Na última edição presencial do Mossoró Cidade Junina, em 2019, foram 10 dias de festas e a prefeitura calcula que um milhão de pessoas circulou pelo município.
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Veja o que já enviamos4. Amargosa, Bahia
Na Bahia, as festas juninas levam milhares de turistas ao interior do estado, onde estão os festejos mais tradicionais, com guerras de espadas e concursos de quadrilha. Em Amargosa, que disputa com Senhor do Bonfim e Cruz das Almas o título de São João mais popular da Bahia, este ano não vai ter sequer programação de lives. A prefeitura está elaborando um edital de apoio financeiro para os artistas locais para compensar o segundo ano de prejuízo. Antes da pandemia, de acordo com o prefeito Júlio Pinheiro (PT), a cidade recebia cerca de 40 mil pessoas que aproveitavam até 10 dias de festa, fazendo com que a população da cidade duplicasse. “Acreditamos que em torno de R$ 20 milhões de reais circulavam aqui durante o período, o que impacta diretamente na economia”, explicou o prefeito.
5. Crato, Ceará
Uma dos mais tradicionais concursos de quadrilha das festas juninas cearenses tinha como palco a cidade do Crato: em 2019, mais de 60 grupos se apresentaram nos oitos dias de festas juninas, que tiveram também 20 conjuntos regionais de forró. No São João mais popular do Cariri, a prefeitura vai realizar uma live no dia 25/06, no canal do YouTube da cidade, com tema São João do Crato: entre memórias, transições e identidades. Participam quadrilhas, trios pé de serra e a mestra da cultura Zulena Galdino, famosa líder de quadrilhas juninas do Ceará. Também vão fazer parte do encontro virtual artistas financiados com créditos da Lei Aldir Blanc: de acordo com a prefeitura, 120 projetos foram aprovados e mais de R$ 900 mil investidos na cultura para compensar os efeitos da pandemia.
6. Patos, Paraíba
No último São João de Patos, o mais famoso do sertão paraibano, Wesley Safadão, Xand Avião, Jorge e Mateus e Gusttavo Lima estavam entre as atrações musicais dos cinco dias de festa, que atraíram cerca de 100 mil pessoas diariamente. De acordo com Secretaria Municipal de Desenvolvimento, cerca de R$ 10 milhões eram injetados na economia da cidade, movimentando setores de hotelaria, alimentação, comércio e serviços – um movimento que gerava 4 mil empregos diretos e indiretos. Em crise financeira, o prefeito Nabor Wanderley (Republicanos) anunciou no começo de junho o cancelamento do São João Virtual de Patos: “É uma decisão difícil que nós tomamos, mas a gente precisa mostrar às pessoas que temos que evitar aglomeração, festas, e mantermos o foco na nossa saúde”, disse o prefeito. A Câmara de Vereadores aprovou a lei de auxílio emergencial municipal para os trabalhadores culturais: cada um receberá R$ 900 em três parcelas.
Jornalista, especialista em Marketing, com passagens pela TVU Recife, Portal LeiaJá e Rede Globo NE. Como repórter freelancer, escreveu para Ponte Jornalismo, #Colabora, Folha de São Paulo, The Intercept Brasil, El País e Revista Continente. Atualmente, pesquisa linguagens audiovisuais no mestrado em Comunicação na UFPE.