Em vez de mais uma caipirinha na Praia de Copacabana, um ‘Jacalhau’ no Vale Encantado. Na mala, além de mascotes de pelúcia dos Jogos Rio 2016, também houve espaço para o artesanato feito com cipó e bambu do Quilombo do Campinho. Muitos dos forasteiros que povoaram o Rio Olímpico foram atraídos por um tipo de turismo que proporciona mergulhos não só nas ondas do mar, mas também na cultura afro-brasileira e nos costumes de comunidades tradicionais, como quilombolas, indígenas e ribeirinhos.
[g1_quote author_name=”Thais Rosa” author_description=”Turismólogo” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Desde adolescente, sempre viajei por comunidades tradicionais. Uma vez, na Bahia, soube que haviam retirado moradores de um local para construir um resort, e fiquei muito incomodada. Durante meus estudos, percebi que as comunidades podem e devem ser incluídas no processo de desenvolvimento turístico.
[/g1_quote]“No turismo de base comunitária, é possível conhecer a história do local a partir do ponto de vista dos próprios moradores e do contato com saberes como artesanato, culinária e música”, conta Thais Rosa Pinheiro, turismóloga e mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Ela está à frente da agência carioca Conectando Territórios, que realiza roteiros baseados na sustentabilidade ambiental e social das comunidades visitadas.
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Veja o que já enviamosOs estrangeiros, conta Thais, ainda são os que mais procuram este tipo de experiência. “O brasileiro ainda olha muito para fora. Mas, com o tempo, isso vai mudar. Muitos universitários do Brasil, das áreas de Humanas e Biologia, têm se interessado”, conta a turismóloga, que pretende apresentar seu projeto em escolas e universidades.
O Vale Encantado, um dos roteiros, é situado bem no meio de uma das maiores matas urbanas do mundo: a Floresta da Tijuca, na zona norte do município. A comunidade, de 20 casas, é formada por descendentes de pequenos agricultores de café, que ali se estabeleceram na época da fundação da cidade. Com o tempo, tornaram-se coletores de flores e, mais recentemente, passaram a buscar a sustentabilidade também através do turismo ecológico. Uma das atrações locais é a criativa culinária, cujo prato principal é o tal Jacalhau, espécie de salada feita com jacas, fruto abundante na floresta.
Outro roteiro, desta vez na Costa Verde do Estado do Rio, é o Quilombo Campinho da Independência, no município de Paraty. Além dos pratos típicos e do artesanato quilombola, um grande atrativo é o bate-papo com os moradores do local sobre a luta de seus antepassados pela liberdade. No Campinho, todos são descendentes de três ex-escravas: Antonica, Marcelina e Luiza. Segundo Thais, através do turismo de base comunitária, os moradores de lugares como estes vêm buscando oportunidades de trabalho e geração de renda para as suas famílias.
Do Porto Maravilha a Madureira
Com a revitalização da Zona Portuária do Rio, a agência tem feito o Circuito da Herança Africana. Entre os pontos percorridos estão o Cais do Valongo, por onde chegavam os africanos escravizados, e a Pedra do Sal, referência de encontro, resistência e celebração dos negros forçados a vir para o Brasil. Para valorizar a cultura urbana contemporânea, Thais também leva turistas e cariocas para curtir o baile charme do Viaduto de Madureira, no subúrbio da cidade. “Ele tem mais de 20 anos de tradição e é muito importante para valorizar a influência da black music americana na cultura black carioca”, comenta.
[g1_quote author_name=”Thais Rosa” author_description=”turismóloga” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O brasileiro ainda olha muito para fora. Mas, com o tempo, isso vai mudar. Muitos universitários do Brasil, das áreas de Humanas e Biologia, têm se interessado
[/g1_quote]Em outros recantos do Brasil, mais territórios são conectados ao mundo através dos roteiros turísticos. Entre eles, o Quilombo do Remanso, em Lençóis, na Chapada Diamantina (Bahia), com sua natureza exuberante; e a Ilha de Cotijuba, em Belém (Pará), área de proteção ambiental habitada por uma comunidade de artesãs.
“Desde adolescente, sempre viajei por comunidades tradicionais. Uma vez, na Bahia, soube que haviam retirado moradores de um local para construir um resort, e fiquei muito incomodada. Durante meus estudos, percebi que as comunidades podem e devem ser incluídas no processo de desenvolvimento turístico”, conta Thais, que em 2012 criou, inicialmente apenas como blog, a Conectando Territórios. Hoje a iniciativa conta com o apoio da StartUpRio, em parceria com Faperj e Secretaria de Ciência e Tecnologia, que financiaram o projeto.