#RioéRua em clima de #AdeusCrivella

Alegoria da Mangueira com imagem de Crivella e a frase ‘Pecado é não brincar o Carnaval’: prefeito fez ataques à folia e a outras manifestações populares (Foto: Reprodução)

Uma lista de 10 atentados à cidade e ao espírito carioca pelo prefeito que deixa o cargo sem deixar saudades

Por Oscar Valporto | ODS 11 • Publicada em 28 de dezembro de 2020 - 10:30 • Atualizada em 1 de janeiro de 2021 - 15:01

Alegoria da Mangueira com imagem de Crivella e a frase ‘Pecado é não brincar o Carnaval’: prefeito fez ataques à folia e a outras manifestações populares (Foto: Reprodução)

O (ainda) prefeito Marcelo Crivella foi obrigado a mudar sua rotina de fim de ano – não, não foi devido à sua prisão pelas acusações de comandar um esquema de corrupção. Nos seus três anos anteriores como prefeito, Crivella dava adeus ao Rio de Janeiro uns 10 dias antes do Natal, embarcava para a Flórida, onde mora uma de suas filhas, e só reaparecia na cidade às vésperas do Réveillon. Aqui, fazia uma presença em Copacabana no dia 30 ou 31 para mostrar que estava ligado na missão de governar e dizer que passaria a virada recolhido em casa com a família. Apesar da importância – cidade lotada de turistas, dois milhões de pessoas na orla – da festa para o Rio, seu prefeito deixava organização, providências e entrevistas para o presidente da Riotur, Marcelo Alves, irmão de outro acusado de envolvimento no esquema que levou seu ex-chefe (Alves deixou o cargo em março de 2020) à cadeia.

Crivella só foi preso no dia 22 porque os Estados Unidos restringiram a entrada de visitantes por conta da pandemia que tornou trágico o ano de 2020. Todos os cariocas tiveram um ano, particularmente, horrível devido à covid-19; a cidade sob a gestão do bispo licenciado é a capital brasileira com maior taxa de letalidade pela doença – 7,5%, o que significa que a cada 13 pessoas afetadas pelo novo coronavírus, uma morre. Mas o Rio de Janeiro teve um grande alento: vai ficar livre de um prefeito – apontado por muitos como o pior da história – que parece detestar a cidade sob sua responsabilidade e tudo o que ela representa. Para juntar-se a hashtag #AdeusCrivella, este #RioéRua lembra 10 atentados ao Rio e ao espírito carioca cometidos pelo derrotado nas urnas.

1. As ofensas de Crivella ao Rio começaram com a recusa em entregar a chave da cidade ao Rei Momo em seu primeiro Carnaval como prefeito, uma tradição de décadas. E não apareceu no Sambódromo – a primeira ausência de um prefeito desde a construção da Passarela do Samba. Crivella cortou ainda a subvenção das escolas de samba – e se orgulha disso. Na única vez que apareceu na cerimônia de entrega das chaves, o prefeito disse que o Carnaval “é uma festa apenas”.

2. As escolas de samba não foram o único alvo carnavalesco do bispo licenciado: a atual gestão criou entraves variados aos blocos de rua, outra tradição da cidade, e a outros eventos na rua. Quis mudar os horários da Banda de Ipanema e do Simpatia é Quase Amor. Os blocos resistem, mas muitas rodas de samba, por exemplo, foram obrigadas a suspender e cancelar apresentações devido a restrições impostas pela prefeitura.

3. E, como quem não gosta de Carnaval também não gosta de samba, Crivella retirou o apoio da prefeitura ao Trem do Samba, que, até 2018, celebrava o Dia Nacional do Samba com apresentações na Central do Brasil, dentro dos vagões e nas praças do subúrbio.

4. A prefeitura do Rio, sob Crivella, atrasou repasses e ameaçou até cortar verbas para o Museu de Arte do Rio e para o Museu do Amanhã, duas jóias da cidade. O MAR é uma celebração permanente da cidade e o Museu do Amanhã é o mais visitado da América Latina.

5. Crivella deixa a prefeitura empenhado em construir um autódromo dentro da Floresta do Camboatá – o que significaria a derrubada de 200 mil árvores, entre outros prejuízos ambientais. Espera-se que a ideia – rejeitada pela maior estrela do esporte, o piloto Lewis Hamilton, heptacampeão de Fórmula 1 – seja sepultada pelo novo prefeito.

Votação do pedido de impeachment de Marcelo Crivella na Câmara: prefeito escapou, por pouco, de dois pedidos de impeachment mas não da surra nas urnas (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Votação do pedido de impeachment de Marcelo Crivella na Câmara: prefeito escapou, por pouco, de dois pedidos de impeachment mas não da surra nas urnas (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

6. Ainda na área ambiental, o prefeito conseguiu esculhambar com a Comlurb, empresa pública municipal de recolhimento de lixo que parecia estar blindada contra ingerências políticas. Mas, na gestão do bispo licenciado, a empresa teve quatro presidentes em quatro anos, diretorias técnicas foram ocupadas por indicações políticas, principalmente na gestão Rubens Teixeira, pastor evangélico que conseguiu a façanha de nomear 67 pessoas de fora da empresa para cargos de chefia em dois meses. Crivella também conseguiu colocar a empresa no centro de um escândalo político: funcionários da Comlurb foram levados a participar de um encontro, em ônibus da companhia, que serviu de lançamento do filho do prefeito para deputado federal.

7. Como ambiente não costuma ser prioridade para os gestores nesta cidade que abriga a maior floresta urbana do mundo, com quase 4 mil hectares de Mata Atlântica, a centenária Fundação Parques e Jardins vem sofrendo esvaziamento há anos. Crivella, que jamais mostrou preocupação ambiental, extrapolou na ofensa ao verde da cidade: transferiu a instituição para a Secretaria de Envelhecimento Saudável e Qualidade, num arranjo político que sucateou ainda mais a FPJ.

8. Com essa balbúrdia em tantas áreas estratégicas, só podia dar ruim na hora da enchente – uma infeliz rotina da cidade. Nas primeiros temporais trágicos de sua administração, Crivella não deu as caras. Pegou mal naturalmente. Depois, ele passou a aparecer para dar declarações infelizes como culpar a população e a TV Globo, “que faz drama com coisas corriqueiras” – após 10 mortes nos temporais de 2019 e a decretação de estado de calamidade. O prefeito também disse que cariocas gostam de morar perto de áreas de risco para “se verem livres dos esgotos” e gastarem “menos tubos para colocar cocô e xixi”. De concreto, a prefeitura cortou as verbas para combate às enchentes.

9. No ocaso de sua gestão, já reprovado pela maioria da população, Crivella enviou, em meados de 2020, o projeto e conseguiu a aprovação na Câmara da chamada Lei do Puxadinho, que flexibiliza as regras urbanísticas no Rio e permite a legalização de construções mediante pagamento à prefeitura. A lei sancionada pelo prefeito tem a oposição de urbanistas e arquitetos que apontam mais ameaças à paisagem urbana da cidade.

10. Já demitido nas urnas pelos cariocas, Marcelo Crivella ainda fez uma última afronta ao Rio de Janeiro: uma semana antes do Natal, baixou decreto para trocar o nome da Estrada do Cabuçu – palavra de origem tupi, que, há dois séculos, denomina rio, engenho e via de Campo Grande – para Estrada Bispo Daniel Malafaia (primo do Silas). Moradores e historiadores protestaram; o futuro prefeito prometeu revogar esta.

#AdeusCrivella
#RioéRua

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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