Relatório De Olho no Transporte – produzido pela Casa Fluminense, com base no acompanhamento dos dados gerados pelo GPS dos ônibus do Rio de Janeiro, disponibilizados pela Prefeitura no portal Data.Rio – aponta que a oferta da frota de ônibus em circulação permanece muito abaixo dos 100% determinado pela Secretaria Municipal de Transporte em junho de 2020, contrariando a resolução 392 da prefeitura. De acordo com o relatório, em outubro, de cada cinco ônibus que deveriam estar nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, apenas dois estão em circulação, o que representa 38,3% da frota determinada.
O estudo da Casa Fluminense – organização com foco no debate de políticas públicas para a redução das desigualdades no Região Metropolitana do Rio – indica ainda que, no último trimestre analisado, de agosto a outubro, 20% das linhas de ônibus (uma em cada cinco) não estavam operantes. Na análise territorial, a Cas Fluminense aponta que a Zona Oeste é a região mais afetada pela baixa oferta de ônibus em circulação. “Este projeto busca contribuir para o debate sobre a responsabilidade da Prefeitura em garantir a circulação mínima de ônibus para evitar a superlotação e a qualidade na prestação deste serviço”, afirma Guilherme Braga, especialista em políticas públicas, pesquisador da Casa Fluminense e responsável pelo levantamento das informações do De Olho no Transporte.
Nesta quinta-feira (19/11), às 10h, em evento virtual conjunto, serão lançados o estudo da Casa Fluminense, com base nos dados gerados pelo GPS dos ônibus, e também relatório do ITDP – Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento, organização internacional especializada no tema – reunindo dados e propostas para melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida dos cariocas. O projeto tem parceria com o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e apoio do Instituto Clima e Sociedade; para o lançamento, vai debater os principais desafios da mobilidade e propostas para a próxima gestão municipal, foram convidados representantes das candidaturas de Eduardo Paes e Marcelo Crivella. O evento será transmitido ao vivo pelas páginas do facebook das organizações e pelo youtube da Casa Fluminense.
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Veja o que já enviamosOs pesquisadores das duas entidades constataram progressivo desaparecimento dos ônibus da cidade do Rio de Janeiro e de linhas inteiras, o que tem prejudicado bastante a população carioca, principalmente em favelas e bairros da periferia onde vivem aqueles que mais dependem do sistema de transporte público. O estudo da Casa Fluminense conclui que a crise no transporte público, agravada pelo pela pandemia do novo coronavírus e suas consequências, evidenciou os problemas estruturais históricos do setor que presta um serviço essencial mas cada vez mais inacessível. “A crise escancarou problemas como a falta de transparência e de fiscalização e a necessidade de mudanças nos modelos de financiamento e remuneração”, argumenta Vitor Mihessen, coordenador de Informação da Casa Fluminense.
O estudo com base no sistema de GPS dos ônibus reforça as queixas constantes dos moradores da Zona Oeste sobre o sumiço dos coletivos. De acordo com o relatório da Casa Fluminense, o consórcio Santa Cruz apresentou maior diminuição do percentual da frota em circulação nas ruas em relação ao total determinado. A cada quatro ônibus que deveriam estar servindo a população da Zona Oeste, apenas um está nas ruas. Tanto a determinação da Secretaria Municipal de Transportes quanto o relatório De Olho no Transporte consideram as linhas de ônibus regulares que integram as frotas dos consórcios Intersul, Internorte, Transcarioca, Santa Cruz e o sistema de BRT. O relatório com base em dados do GPS aponta que também o BRT está com sua frota abaixo do recomendado, com apenas dois ônibus circulando para cada cinco que deveriam estar atendendo a população nas ruas.
Responsável pelo estudo, Guilherme Braga explica que este relatório é apenas o primeiro: o projeto De Olho no Transporte quer contribuir de maneira permanente para a melhoria da mobilidade urbana no Rio de Janeiro. “A análise dos dados apresentada no relatório vem acompanhada de propostas para a melhoria deste cenário descrito tais como: a ampliação da fiscalização sobre os consórcios para assegurar a oferta determinada de ônibus esteja de fato na rua; e a disponibilização dos dados com a qualidade necessária para monitoramento cidadão dos transportes. Ou seja, uniformização das informações exibidas nos letreiros dos ônibus, nos registros de GPS e na contagem de passageiros que passam pela catraca”, destaca Braga.