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Transformadores elaboram políticas para suas cidades, em Sao Paulo, em 2016. Foto de Divulgacao

Projeto Transformadores prepara jovens para ajudar a resolver os problemas de suas cidades

Por Florência Costa | ODS 11 • Publicada em 7 de abril de 2017 - 19:39 • Atualizada em 11 de abril de 2017 - 15:02

Transformadores elaboram políticas para suas cidades, em Sao Paulo, em 2016. Foto de Divulgacao
Transformadores elaboram políticas para suas cidades, em Sao Paulo, em 2016. Foto de Divulgacao
Jovem  do Projeto Transformadores coloca ideias no papel para ajudar a reescrever a historia de sua cidade. Foto de Divulgação

Na era da economia compartilhada, a gestão pública também começa a se tornar colaborativa. Já há várias iniciativas no país que aliam as novas tecnologias digitais ao exercício da cidadania. Um deles é o Colab.re, aplicativo que funciona como uma ponte entre os cidadãos – que usam a plataforma para denunciar problemas em sua cidade –  e os poderes municipais. Mais de 130 prefeituras já fizeram parcerias com o aplicativo.  Mas e se alguém quiser ir além da reclamação para elaborar e propor políticas públicas aos gestores?

Pensando nisso, os criadores do Colab.re – um administrador de empresas, alguns publicitários e profissionais da tecnologia da informação, baseados no Recife (PE) – criaram o Projeto Transformadores, que tem ajudado a mudar a percepção dos jovens sobre o cotidiano da administração pública, contribuindo para que se transformem em cidadãos mais  conscientes, bem informados e atuantes.

Desde 2016, o grupo prepara potenciais líderes locais, que possam ajudar a melhorar a gestão pública das cidades onde vivem.  Pessoas de vários locais do país são selecionadas e levadas para São Paulo. Neste processo, são identificados os jovens mais engajados e interessados em propor políticas públicas. Na maior cidade do país, eles observam de perto como funcionam alguns órgãos administrativos municipais, os grupos de pressão, como movimentos sociais, e as sedes de empresas da nova tecnologia.

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A ideia é colocar a mão na massa e ir a campo para conhecer os desafios e os trabalhos da gestão pública, além de entender as demandas e dificuldades dos movimentos sociais e das organizações da sociedade civil. Com isso, alimentamos um processo de autoconhecimento e de aproximação com o cotidiano prático da política

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Na primeira edição, em maio do ano passado, logo no primeiro dia, o grupo visitou a sede do Facebook.  “Depois, almoçamos num restaurante do Projeto Bom Prato, voltado para pessoas de baixa renda. Visitamos movimentos populares e coletivos, para ver a realidade que essas pessoas enfrentam e como elas se organizam. Nos deslocamos sempre de trem, metrô e ônibus”, conta o administrador de empresas Bruno Aracaty, co-fundador do Colab.re e idealizador do Projeto Transformadores.

Na experiência de 2016, 500 pessoas entre 18 e 30 anos se inscreveram e 30 foram selecionadas. O encontro da segunda turma foi em fevereiro deste ano, com 44 jovens de 29 cidades. Para a terceira edição, foram 800 inscritos e 50 selecionados, que se reunirão em São Paulo em meados de 2017. Os organizadores do projeto captam dinheiro para bancar passagem, hospedagem e outros custo do programa para os candidatos sem condições financeiras de arcar com a viagem à capital paulista.

Os participantes do projeto, em São Paulo: intercâmbio de ideias. Foto de Divulgação

No ano passado, no segundo dia do encontro, a turma fez uma imersão na cidade, identificando atores antagônicos. Na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, os jovens conversaram com policiais e moradores, inclusive os que vivem nas calçadas.  “Os moradores de rua falaram sobre o temor que tinham dos PMs. Já os dos prédios afirmaram estar satisfeitos com a presença deles porque se sentem mais seguros. É o processo de identificação de forças antagônicas”, explica Aracaty.

No terceiro dia, os jovens visitaram as prefeituras de São Paulo e de Campinas, divididos em grupos, para conversar com funcionários de secretarias relacionadas com os locais onde foram no dia anterior. Depois, no final, os participantes fizeram um exercício, criando soluções coletivas para aplicar nas suas cidades. “A ideia é colocar a mão na massa e ir a campo para conhecer os desafios e os trabalhos da gestão pública, para entender as demandas e dificuldades dos movimentos sociais e das organizações da sociedade civil. Com isso, alimentamos um processo de autoconhecimento e de aproximação com o cotidiano prático da política”, ressalta o coordenador do projeto.

O objetivo final é que cada “transformador” retorne para a sua comunidade apto a colocar em prática os planos pensados. “É uma forma de expandir a consciência cidadã e plantar a semente de jovens mais engajados na participação política, com foco na prática, no dia a dia da mudança, favorecendo a construção de uma administração pública mais democrática e eficiente. Vários grupos deram certo e estão fazendo transformações em suas cidades. Abrimos os olhos dos jovens  para realidades com as quais eles não tinham contato. O nível de conhecimento deles deu um salto, saíram do caminho da ingenuidade”, conclui Aracaty.

Florência Costa

Jornalista freelance especializada em cobertura internacional e política. Foi correspondente na Rússia do Jornal do Brasil e do serviço brasileiro da BBC. Em 2006 mudou-se para a Índia e foi correspondente do jornal O Globo. É autora do livro "Os indianos" (Editora Contexto) e colaboradora, no Brasil, do website The Wire, com sede na Índia (https://thewire.in/).

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