ODS 1
A miséria salta aos olhos: 75% da população percebe avanço da fome
Pesquisa sobre desigualdades revela também que quase metade dos brasileiros foi obrigada a recorrer a bicos para sobreviver no último ano
Em junho, inquérito da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) apontou que 33 milhões de brasileiros não têm o que comer – 14 milhões a mais em situação de fome desde a conclusão do estudo anterior em 2021. No começo da semana, o 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles, elaborado pelo IBGE nas 22 principais áreas metropolitanas do país, aponta que a pobreza alcançou 19,8 milhões de moradores das regiões metropolitanas do Brasil em 2021: 23,7% dos habitantes dessas cidades, o maior número registrado desde o início da série histórica, em 2012.
Pesquisa feita pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) para o Instituto Cidades Sustentáveis mostra que o que está nos dados estatísticos salta aos olhos dos brasileiros: 74% da população percebeu o aumento de pessoas em situação de pobreza, em consequência do cenário de desemprego e fome nos últimos doze meses. Os dados da pesquisa Cidades Sustentáveis: Desigualdades mostram mais: quase a metade dos brasileiros (47%) disse conhecer pessoas que têm dificuldade para comprar alimentos; 34% afirma ter percebido o aumento da população em situação de rua; 29% também dizem constatar o crescimento no número de pessoas trabalhando nas ruas ou nos sinais de trânsito; e o aumento de barracos, favelas e áreas ocupadas foi percebido por 17%.
Coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão alertou, no lançamento da pesquisa nesta quarta (10/08), que o agravamento da fome e da pobreza precisa ser enfrentada. “Nós fomos incapazes de distribuir a riqueza em nosso país. A desigualdade é um problema gravíssimo da nossa sociedade”, afirmou. A pesquisa aponta ainda que essa percepção das desigualdades é ainda maior entre os entrevistados residentes nos estados do Sudeste, capitais, periferias metropolitanas e, por consequência, municípios com mais de 50 mil habitantes.
O levantamento do Ipec – que entrevistou duas mil pessoas, com 16 anos ou mais, em 128 municípios distribuídos em todos os estados, contemplando todas as regiões brasileiras – aponta que os brasileiros percebem também outras desigualdades. Para 75% dos entrevistados, há diferença de tratamento entre pessoas negras e brancas, principalmente em shoppings, cinemas, supermercados, farmácias e outros estabelecimentos comerciais, escolas e faculdades, conforme 38%. Locais de trabalho foram lembrados por 36%, ruas e espaços públicos por 29% e transporte público por 26%. “Temos um governo que só tem contribuído para o retrocesso do ponto de vista de renda, de distribuição de renda, de precarização de trabalho, nas questões de racismo e de orientação sexual. Há um agravamento das desigualdades e a pesquisa traz isso aqui para nós”, destacou Jorge Abrahão, na abertura do debate no Sesc/SP, que marcou o lançamento da pesquisa.
Presente ao lançamento, o padre Júlio Lancelotti – pedagogo, pároco da igreja São Miguel Arcanjo, na Mooca, e conhecido por seu trabalho com a população de rua – afirmou que a pesquisa deve ser de incômodo para tornar mais evidente aquilo que “todos fabricamos e muitas vezes somos coniventes”. Para o religioso, a percepção deveria levar à ação. “A desigualdade é fruto de uma tirania: é fruto do estado neoliberal, do capitalismo neoliberal. Essas pesquisas devem criar um compromisso de luta contra a desigualdade”, afirmou Lancelotti.
O padre propôs um questionamento. “Como estamos em tudo isso? Não podemos ser conhecedores neutros, que conhecemos e temos mais um dado acadêmico. Esses dados têm dramaticidade muito grande, mas temos de ter compromisso muito grande de luta, um compromisso de estar junto com nosso povo. Temos de mostrar a desigualdade e lutar contra ela no micro e no macro”, ponderou Júlio Lancellotti, no debate que contou ainda com da pesquisadora e professora de Serviço Social da PUC de São Paulo, Aldaíza Sposati. “A percepção é importante porque ela tem tem uma dimensão ética porque significa que as pessoas sabem o que está acontecendo. A percepção leva a uma ação e a uma ação ética. A percepção tem que levar a ações e reações da sociedade civil mas também no poder pública”, disse a pesquisadora.
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O estudo também aponta que 45% dos brasileiros – mais de 76 milhões de pessoas – tiveram de recorrer a atividades extras para complementar a renda no último ano. Os serviços gerais, como faxina, manutenção e marido de aluguel, foram as atividades mais procuradas (13%). A venda de alimentos aparece como a segunda atividade mais citada (8%), seguida da venda de roupas e de artigos usados (6%). Mediadora do debate, a historiadora Gisele dos Anjos Santos, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, destacou esse dado. “A faxina é o dado que mais aparece. Por que? Qual é cara da fome no brasil? Qual é a cara da pobreza? “os dados confirmam que a população sabe do drama da desigualdade. qual é cara da fome no brasil? qual é a cara da pobreza? As mulheres negras são as mais afetadas pela pobreza e pela fome. São elas que mais buscam esse trabalho extra”, afirmou a historiadora.
A necessidade é percebida em todas as regiões do País, com mais expressividade no Norte/Centro-Oeste, onde 48% da população faz algum tipo de “bico”. No Sul, 63% responderam que não precisaram recorrer a atividades extras. A pesquisa mostrou também que essa necessidade de fazer algum tipo de bico para ajudar a compor a renda foi maior entre as famílias com renda até um salário mínimo e que se declaram evangélicos. A necessidade de complementar a renda maior nas regiões Norte e Centro Oeste, com 16% das respostas afirmativas, seguida do Sudeste, com 13%, Nordeste, com 11% e Sul, com 9%.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade
O Neoliberalismo realmente “afundou” a Economia dos Países. Quem iria imaginar que a Alemanha, uma Economia tão Industrializada, vive o paradoxo, de passados quase 33 anos Sem o domínio russo em sua parte oriental, todo País tem grande dependência do gás russo! Mas talvez o Brasil, graças ao FHC, seja o País que mais tenha sofrido e ainda sofre com o Neoliberalismo: Privatizações em que as empresas não pagaram a vista, com financiamento pelo BNDES na modalidade de “pai para filho” e, Não precisaram pagar por CEO/s, o Governo pensou também nisso: Agências Reguladoras! Se lembram do início do Isolamento Social pela Covid-19 que afetou as viagens aéreas, a preocupação ficou a cargo da Agência Reguladora do Setor, que tratou com o Ministério da Economia, a concessão de uma linha de Crédito Especial, claro em nome da manutenção dos contratos de trabalho, nas mais diversas áreas, que atuam até a decolagem dos voos, em tempos que vigorou o Isolamento Social!!!!!