Pezão, Crivella e a pós-verdade do metrô

Os sete erros da proposta que troca gabaritos por estações

Por Agostinho Vieira | Mobilidade UrbanaODS 16 • Publicada em 27 de março de 2017 - 20:11 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 22:55

A intenção de Pezão e Crivella é de que as obras do metrõ comecem ainda este ano. Foto Shana Reis/Governo do Estado
A intenção de Pezão e Crivella é de que as obras do metrõ comecem ainda este ano. Foto Shana Reis/Governo do Estado
A intenção de Pezão e Crivella é de que as obras do metrõ comecem ainda este ano. Foto Shana Reis/Governo do Estado

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e o prefeito Marcelo Crivella resolveram juntar seus baixos índices de popularidade e a falta de recursos em caixa para criar um projeto inovador. De acordo com o Blog do Moreno, publicado no jornal O Globo, os dois têm se reunido para discutir a proposta de extensão do metrô da Barra até o Recreio. E o melhor: “sem que o estado e o município gastem um tostão pela obra”. Será?

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Por que levar o metrô até a o Recreio e não concluir as obras da estação da Gávea? Não custa lembrar que a estação Morro de São João, perto do Rio Sul, e a estação Carioca 2 estão com 80% das suas estruturas prontas. Isso sem falar na esquecida Linha 3, que levaria o metrô até São Gonçalo. Essa sim um obra prioritária

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Ainda de acordo com o jornal, a ideia mágica é aumentar em até um andar e meio o gabarito dos prédios nesses dois bairros da zona oeste da cidade. Em troca, os empresários que investissem em construções e reformas na região patrocinariam a ampliação do metrô, do Jardim Oceânico, na Barra, até o Recreio dos Bandeirantes. Para completar, o projeto ficaria pronto até junho e as operações começariam ainda este ano.

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Obras do metrô, em qualquer parte do mundo, são caras, envolvem muito planejamento e, invariavelmente, atrasam. A Linha 4, por exemplo, inaugurada parcialmente nos Jogos Olímpicos do Rio, custou R$ 10, 4 bilhões, mais de R$ 2 bilhões por estação. Documentos da Lava Jato indicam que o ex-governador Sérgio Cabral teria recebido R$ 2,5 milhões em propinas da Odebrecht relacionadas à obra. Mas ele nega.

O BRT na Barra da Tijuca e a nova concorrência do metrô até o Recreio. Foto de Yosuyoshi Chiba/AFP

Em tempos de notícias curtas e rápidas, nem sempre é possível parar e refletir muito sobre cada uma delas. Neste caso, no entanto, resolvemos relacionar sete pontos que podemos chamar de reflexões, dúvidas ou mesmo erros. Você decide:

Gabaritos – Em teoria, os gabaritos das construções deveriam ser objeto de uma política urbanística, obedecendo critérios técnicos. Prédios próximos da praia, por exemplo, seriam baixos para não fazer sombra na areia. Na proposta dos dois governantes, eles deixam a secretaria de urbanismo e vão para a de finanças ou de governo, viram moeda de troca. Num próximo passo da dupla Pezão/Crivella, a folha de pagamento dos servidores poderia ficar com o banco que se dispusesse a pagar o décimo-terceiro atrasado do funcionalismo.

Obras do metrô – Imaginando que o item 1 desta lista seja aceitável para alguns, por que levar o metrô até a o Recreio e não concluir as obras da estação da Gávea? Não custa lembrar que a estação Morro de São João, perto do Rio Sul, e a estação Carioca 2 estão com 80% das suas estruturas prontas. Isso sem falar na esquecida Linha 3, que levaria o metrô até São Gonçalo. Essa sim uma obra prioritária.

Lagoas da Barra – Se é para investir na Barra, uma vez que o projeto seria “bancado” pelos empreiteiros da região, por que não despoluir as lagoas de Jacarepaguá, Tijuca, Marapendi e Camorim? Um problema muito mais urgente, antigo e que deveria ter sido resolvido com a Rio 2016 e não foi.

Mais gente – Por falar em urgência, essa é uma equação relativamente simples. Mais gabarito nos prédios, mais andares, mais gente, mais poluição, mais lixo, menos saneamento. E não estamos falando só dos moradores. Cada andar novo, com 2, 4 ou 6 apartamentos, representa mais gente trabalhando, mais gente querendo e precisando morar perto do trabalho, mais poluição, mais lixo, menos saneamento. Sem esquecer dos engarrafamentos. Ou alguém acredita mesmo que os moradores da Barra vão, todos, andar de metrô?

BRTs – Se vamos ter um metrô até o Recreio, por que investimos dinheiro público na construção do BRT? Quem ganha com essa história recorrente de quebrar tudo e fazer novamente? Quem?

Custos – Se cada estação da linha 4 custou mais ou menos R$ 2 bilhões, quanto custaria a ampliação do metrô até o Recreio? Se forem mais três estações, por exemplo, seriam R$ 6 bilhões. Um andar e meio a mais de gabarito nas construções justifica esse preço? Numa área onde a oferta de imóveis já é enorme? Será que não teremos outros itens nesta negociação? Quais? Cartas para a redação.

Bravata – Por fim, mas não menos importante, até quando vamos continuar vendo promessas vazias de políticos sem expressão ganhando destaque nos veículos de comunicação? Com rima e tudo.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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2 comentários “Pezão, Crivella e a pós-verdade do metrô

  1. Ricardo Freitas disse:

    Perfeito ,Agostinho! Assim se faz uma Odebrecht! Moeda de troca para bancarem as eleições futuras. No caso, uma forma pouco engenhosa!

  2. Hylton Sarcinelli Luz disse:

    Excelente a matéria, nada mais pertinente que levantar os pontos e provocar a reflexão sobre esta empulhação, de metrô sem custo, deixando linhas prioritárias pelo seu impacto social, de lado.

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