Bicicleta elétrica subsidiada na França

FRANCE. PARIS (75) WOMAN ON AN ELECTRIC BICYCLE

Carro ainda é o meio de transporte mais usado no país, mas governo oferece ajuda para incentivar uso de e-bikes

Por Clarice Spitz | Mobilidade UrbanaODS 16 • Publicada em 17 de junho de 2017 - 15:05 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 22:54

FRANCE. PARIS (75) WOMAN ON AN ELECTRIC BICYCLE
FRANCE. PARIS (75) WOMAN ON AN ELECTRIC BICYCLE
Para estimular o uso de bicicleta na França, governo está oferecendo subsídio para consumidor comprar e-bike. (Foto de Serge Attal/ Only France/ AFP)

Longe de ser uma Dinamarca ou uma Holanda, paraísos mundiais das duas rodas, a França entendeu que as bicicletas são prioridade. Desde fevereiro, o governo francês passou a oferecer 200 euros para os compradores de bicicleta elétricas ou e-bikes em todo o país. O preço, que no caso de um modelo básico passa de mil euros, é um dos principais freios para a disseminação desse transporte.

A ficha demorou a cair: o país está apenas na 19ª posição entre os bike-friendly da União Europeia (UE). O carro é o favorito mesmo quando a distância entre casa e trabalho é inferior a um quilômetro. O resultado: apenas 2% dos trabalhadores franceses dizem usar a bicicleta na sua rotina diária.

Mobilidade elétrica

Governo francês quer estimular o uso de bicicletas elétricas no país oferecendo subsídio para os consumidores. (Foto de Divulgação)

O francês usa a bicicleta para trabalhar sempre que a distância não ultrapasse quatro quilômetros. Com a ajuda elétrica nos pedais, ela poderia subir para 7,4 quilômetros.

Trata-se de um investimento público com retorno garantido: menos engarrafamentos, poluição mais controlada, dinheiro economizado com estacionamento e gastos menores em saúde publica graças aos inúmeros benefícios que as bikes elétricas podem trazer. A condição para obter o prêmio é que a bateria seja de lítio, mais eficiente e menos poluente.

As bicicletas elétricas familiares tipo cargo, febre nos países escandinavos, não ficam atrás. Elas transportam crianças, substituem caminhonetes nas entregas curtas. E se tornam cada vez mais úteis para as compras cotidianas,  desde que o saco plástico deixou de ser gratuito.

O ciclismo elétrico está sendo estimulado pelo governo francês, que pretende melhorar seu desempenho no mapa mundial da mobilidade urbana. (Foto de Tripelon-Jarry/ AFP)

Na França, a prática do subsídio já existia para as pessoas que optassem por comprar carros elétricos. A diferença é que é um bicicleta elétrica custa menos de 10% do preço de um carro elétrico. As chances de popularização são muito maiores.

Na Alemanha, apesar do investimento bilionário do governo em pesquisa e desenvolvimento para carros elétricos e inúmeros subsídios, pouco mais de 25 mil veículos rodam nas ruas. Enquanto isso, as e-bikes já chegam 2,5 milhões, segundo dados da Federação Europeia de Ciclistas.

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É necessário também o investimento em infraestrutura, ciclovias separadas e de alta qualidade somente para e-bikes e adaptadas para as altas velocidades delas, estacionamento seguro e a possibilidade de recarga de baterias em locais de trabalho

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A política de subsidio para bicicletas elétricas é praticada há muitos anos por toda a Europa. Na região metropolitana de Barcelona, na Espanha, os compradores podem somar as ajudas nacionais e locais para compra. Na Áustria, o governo concede um incentivo em âmbito nacional às empresas, enquanto que os compradores podem se beneficiar de outros bônus em suas regiões. Cidades como Milão e Madri oferecem um sistema compartilhado de bicicletas elétricas distribuídas em diversas estações.

Segundo Holger Haubold, do escritório de Política Fiscal e Econômica da Federação Europeia de Ciclistas, o incentivo francês é um primeiro passo, em âmbito nacional, no sentido de difundir a cultura das bicicletas elétricas, mas precisa vir acompanhado de outras iniciativas.

“É necessário também o investimento em infraestrutura, ciclovias separadas e de alta qualidade somente para e-bikes e adaptadas para as altas velocidades delas, estacionamento seguro e a possibilidade de recarga de baterias em locais de trabalho”, lista Haubold.

Brasil sem subsídio

Ciclistas fazem protesto em São Paulo reivindicando mais segurança para pedalar nas ruas da cidades. (Foto de Tiago Mazza Chiaravalloti/NurPhoto)

No Brasil, ainda não existem subsídios para e-bikes. Ela continua um apêndice da produção de 2,5 milhões de bicicletas (de todos os tipos) produzidas no país. A legislação considera a bike elétrica aquela em que a assistência elétrica é desencadeada pela pedalada, com potência máxima de 350 watts e velocidade máxima de 25 km/h, com espelhos retrovisores, sem acelerador e que dispensa carteira de habilitação.

Para o diretor-executivo da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), José Eduardo Gonçalves, apesar de os fabricantes terem focado nos últimos anos em modelos de maior qualidade, ainda é pequena a diferença de preço entre uma bicicleta elétrica e uma moto de baixa cilindrada – em torno de R$ 3.000 para a elétrica e de R$ 7.000 para a moto. Muitos consumidores acabam optando pelo duas rodas com mais potência.

“Para quem está somente interessado em mobilidade, essa é uma conta que é feita”, afirma Gonçalves, que faz a ressalva de que existe um publico que prefere a bicicleta elétrica pelos benefícios ao meio ambiente.

O autor do blog ‘A Vida de Bicicleta‘, de Robson Combat, que milita há anos no cicloativismo, vê uma demanda por bicicletas elétricas, a do tipo cargo, no Brasil que ainda não foi explorada. A organização Transporte Ativo, da qual Combat faz parte, defende uma política de subsídios ou empréstimos subsidiados para essa e-bike familiar.

“Vários de nós já cogitamos importar uma dessas bicicleta tipo cargo, mas sairia algo entre R$ 12 mil e R$ 18 mil, o preço de um carro”, lamenta.

Clarice Spitz

Clarice Spitz é jornalista com passagens por O Globo, Folha de S.Paulo e iG. Tem mestrado em História Contemporânea, pela Universidade de Paris-Est. Mora em Bordeaux, na Franca, onde trabalha como repórter e redatora freelancer

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