
Tudo começou no sinal de uma das ruas mais movimentadas do Jardim Paulista, bairro nobre da zona Oeste de São Paulo. O local costuma ser frequentado por meninos de rua que passam o dia perambulando entre os carros na confluência das avenidas Brasil e Nove de Julho. Uns pedem esmolas. Outros vendem doces ou tentam uns trocados lavando o parabrisa dos carros. A cena cotidiana vinha tirando o sono da psicóloga e terapeuta floral Denise Robles. Enquanto estava no consultório atendendo seus pacientes, pensava naquelas crianças e adolescentes. Um dia se aproximou. Conversa vai, conversa vem, receitou Florais de Bach – método conhecido por tratar desequilíbrios emocionais com essência de flores.
[g1_quote author_name=”Denise Robles” author_description=”psicóloga e terapeuta floral” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A proposta era criar uma alternativa de vida para aqueles jovens. Durante três anos fizemos todas as nossas atividades a céu aberto
[/g1_quote]Assim nasceu o Gotas de Flor do Amor. O ano era 1992. Três anos depois, a ONG ganhava uma sede. Com a casa nova começou a ficar difícil levar os meninos de rua para a entidade. “A rua é sedutora”, admite Denise, comentando que a saída foi mudar a estratégia de abordagem com os meninos. No lugar de tentar ressocializá-los, passou a atuar com os jovens que moravam nas favelas no entorno da sede e, assim, evitar que se tornassem os meninos de rua do futuro. A estratégia deu certo.
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Veja o que já enviamosPassados 24 anos, a ONG administra um vultoso orçamento de R$ 1,9 milhão e ganhou a simpatia de potenciais patrocinadores. Além de empresas, o apadrinhamento dos meninos por pessoas físicas representa hoje 30% do caixa da instituição. Os conselhos estadual e municipal dos direitos da criança e do adolescente também viraram parceiros, liberando recursos financeiros do Fundo Municipal pelos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad). A prestação de contas não é publicada no site da entidade, mas as atividades sim. O site é trilíngue: português, inglês e francês.
Hoje são quase 200 jovens, entre 6 e 24 anos, atendidos em dois turnos. Além de bem instalada, a ONG conta ainda com um ônibus-biblioteca. O acervo é de dois mil títulos e, semanalmente, a biblioteca sobre rodas estaciona em uma comunidade e o acesso aos títulos é liberado. Basta entrar, preencher um formulário e levar um livro para casa. A única exigência é que a publicação seja devolvida. Além de alimentação completa, é oferecido oficina artística, formação em direitos humanos e assistência complementar de saúde (com os florais, claro).
Ciente de que não basta investir na formação, a entidade fechou parceria com o Programa Jovem Aprendiz. O objetivo é facilitar a entrada do jovem no mercado de trabalho – o tão sonhado, e cada vez mais difícil, primeiro emprego.
Como a disputa por uma vaga é grande, o acesso só é permitido para crianças e jovens que estejam matriculadas na escola e comprovem assiduidade. Outra preocupação é o relacionamento com as famílias e com as comunidades. “Fazemos um trabalho periódico de visita às famílias para acompanhar o desenvolvimento dos meninos e meninas”, conta Denise.
O resultado é que mais de 40 destes jovens já foram estudar na universidade e alguns até já participaram de intercâmbio em outros países. É o caso de Deila Possebom, que chegou com 14 anos no Gotas de Flor, quando morava na Favela do Comando. Foi nas oficinas de arte que descobriu sua vocação e fez um curso de designer gráfico, no Instituto Criar, uma organização parceira, mas continuou trabalhando como voluntária à noite.
Sua vida deu uma guinada de 180 graus com engajou-se em um projeto apoiado pela Terra dos Homens, uma organização alemã. Além de trabalhar com outros jovens, conheceu a Bolívia, em 2010, e a Alemanha, há cinco anos. “Para mim foi muito bom, nunca pensei que pudesse viver isso”, lembra Deila. Um ano depois, resolveu seguir sua carreira profissional e fez administração na Faculdade Italo Brasileira, onde se formou em 2014. Hoje trabalha na área de RH, mas continua em contato com o Gotas.
Atualmente todos os participantes estão matriculados na rede pública, além de serem de famílias em situação de vulnerabilidade e com renda familiar até dois salários mínimos. “A prioridade é dar a oportunidade para os irmãos dos que estudam aqui, de forma a podermos atender a toda a família”, coloca Denise. Outra forma de participar do projeto é através da indicação com o aval de outras ONGs.