Escola para crianças superdotadas de comunidades carentes

Estrela Dalva - Instituto Lecca

Por Alfredo Mergulhão | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 1 de outubro de 2015 - 18:27 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 02:41

Estrela Dalva: escola para superdotados
Estrela Dalva: escola para superdotados
Crianças superdotadas de comunidades carentes do Rio frequentam o Programa Estrela Dalva, onde a média de aprovação é elevada

Samuel fazia aniversário no dia em que resolveu dar um presente para um dos espaços que tem mudado sua vida. Na data em que completaria 10 anos de idade, 21 de setembro, o menino doou um dos livros da série “O ônibus mágico” para a biblioteca do Programa Estrela Dalva – uma ONG para crianças superdotadas. Era o trigésimo livro lido neste ano. Morador do Complexo da Maré, o garoto é leitor compulsivo e seu sonho é ser cientista.

Aluno da Escola Municipal Nova Holanda – na comunidade onde mora, sempre se incomodou com o comportamento dos colegas, que não gostam de frequentar a biblioteca da escola. No Estrela Dalva, na Lapa, no Centro do Rio, é diferente: os 24 alunos têm prazer pela leitura, e todos estudam muito. Nas prateleiras da biblioteca da escola 2.500 títulos à disposição dos leitores mirins. Com uma inteligência superior aos pares da mesma idade, as meninas e meninos estão sendo preparados para disputar uma vaga nas escolas públicas de excelência do Rio: os colégios Pedro II e CAp-Uerj. O índice de aprovação costuma ser elevado: 92%.

[g1_quote author_name=”Maria Clara Sodré” author_description=”diretora da Estrela Dalva” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

Mantê-las estimuladas e ocupadas em atividades extracurriculares significa não perder esses talentos para atividades ilegais que rendem dinheiro fácil

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Os alunos têm na faixa etária de 9 a 11 anos. São crianças precoces, criativas, curiosas e, sobretudo, críticas. Outra característica comum é que não se contentam com o currículo formal e precisam constantemente de estímulo.

Criada em 2007, a ONG já atendeu 216 alunos. Alguns ex-alunos já estão na faculdade, cursando Biomedicina, Direito e Engenharia.

Na semana que antecedeu seu aniversário, Samuel não pôde participar da programação de aulas, jogos educacionais, debates, oficinas e atividades culturais do Estrela Dalva. O motivo é trivial na vida de quem mora em comunidades. “A chapa estava quente onde moro”, diz ele, referindo-se aos episódios de violência recente que tomaram conta da favela onde mora.

Samuel e a coordenadora do curso, Maria Clara

Os pais das crianças são porteiros, empregadas domésticas, diaristas e faxineiras. À medida em que os alunos levam conhecimento para casa e são aprovados em seleções concorridas, os familiares buscam correr atrás dos estudos. Todos ganham bolsa de estudo da Cultura Inglesa, inclusive os irmãos dos alunos do Estrela Dalva.

O Estrela Dalva tem capacidade limitada de atendimento. A escolha das crianças envolve a aplicação de testes para 3 mil alunos de 50 escolas indicadas pela Secretaria municipal de Educação, seguida de uma prova de interpretação de texto, redação e matemática para os 10% melhores colocados e, por fim, uma entrevista com os 80 primeiros. Finalizada a peneira, 24 crianças são escolhidas. A meta é ampliar para 36 o número de vagas.

Com ela, trabalha uma equipe fixa formada por outras quadro psicopedagogas que trabalham como prestadoras de serviço. Mais duas professoras atuam pontualmente, com Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA). Somente as duas funcionárias que cuidam da limpeza e alimentação têm contrato via CLT. Com um orçamento de anual de R$ 800 mil, o Estrela Dalva se mantém com recursos provenientes de parcerias: o Instituto Lecca, que é a pessoa jurídica do projeto, e o Instituto Brookfield, ligado à empresa da área de construção civil. Há ainda parcerias com o Instituto Phi e com a Vila Olímpica da Maré.

Coreia do Sul é exemplo a ser seguido

Idealizadora do Estrela Dalva, Maria Clara Sodré fez doutorado na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde estudou pessoas superdotadas. Lá, as escolas convencionais identificam os alunos mais capazes e separam em uma turma, na qual os conteúdos são ensinados de forma mais ampla e profunda. Essas crianças geralmente entram para as universidades com ingresso mais competitivo, como Harvard e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

Ela também aponta casos de sucesso como o da China, no qual um programa educacional identifica e acelera o processo de aprendizado dos mais capazes. Não é a idade que os freia. Há outros exemplos bem-sucedidos como o Japão e Cingapura, mas Maria Clara prefere lembrar o caso da Coréia do Sul:

– Lá, os alunos são buscados de forma científica e sistemática, com base em indicadores desde a pré-escola para saber onde estão esses talentos. E fizeram esses alunos andarem mais rápido para chegar até a universidade.

Se, por um lado, as experiências internacionais inspiram o que a pedagoga faz no Brasil; por outro, a faz sonhar com o dia em que seu projeto seja dispensável porque todas as escolas serão de excelência.

Alfredo Mergulhão

Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Goiás. Trabalhou nos jornais "Diário da Manhã", "O Hoje" e "O Popular", de Goiânia. Desde 2014 está Rio, onde trabalhou no Portal UPP e, atualmente, no "Extra".

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