
Ideias brotam em megabits por segundo e, de repente, acontece aquele ‘clique’ que faz a diferença. Na tela até então em branco, começam a surgir os atalhos. Para os jovens atendidos pelo CDI (Comitê para Democratização da Informática), a descoberta de que através da tecnologia são capazes de mudar suas vidas, e as de suas comunidades, tem sabor de futuro. A ONG, que tinha como bandeira a inclusão digital, releu sua causa aos chegar aos 20 anos, em agosto, passando a classificá-la como empoderamento digital. Para marcar a nova fase, lançou o Movimento ‘Recode’ – a meta, agora, é ‘reprogramar para transformar’.
[g1_quote author_name=”Elaine Pinheiro” author_description=”CEO do CDI” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Os sistemas que nos regem – econômico, político, ambiental, social – estão em colapso. Os jovens podem protagonizar a reprogramação destes sistemas. Não queremos só ensinar tecnologia, mas formar pessoas autônomas e conectadas, que percebam os problemas do século 21 e se sintam empoderadas para buscar soluções
[/g1_quote]O CDI nasceu carioca, no Morro Dona Marta, Botafogo, e hoje tem 842 espaços de capacitação e 24 escritórios, em 16 estados brasileiros e 15 países na América Latina e na Europa, além dos Estados Unidos. Já foram impactadas 1,64 milhão de pessoas.
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Veja o que já enviamosNa prática, os primeiros sinais do empoderamento são o olhar confiante e o sorriso aberto, como os de Helcio Ricardo, 23 anos, e Thais Cabral, 19, que fizeram cursos de desenvolvimento de aplicativos do CDI, e estão entre os quase 80 mil brasileiros atendidos por ano, em média.
Ricardo, de Itaboraí, Região Metropolitana do Rio, já idealizou sete softwares. Ele se dedica, hoje, a tirar do papel o Explore, pensado nas aulas do CDI no Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), no Centro do Rio. O app busca aumentar o acesso dos jovens à cultura e divulgar eventos, inclusive os de comunidades, invisíveis na programação tradicional. “Apertando um botão, o usuário saberá rapidamente que eventos estão rolando, mas só os que tenham a ver com as suas preferências. Também estou pensando num plano de negócios: como manter o software e torná-lo rentável”, explica o empreendedor, atualmente no 1º período de Sistemas de Informação na UFF, em Niterói. Seu protótipo foi finalista em premiação do CDI em março.
Para Thais, aquele ‘clique’ que fez a diferença foi a ideia do app Four Hands. “Percebi que as pessoas acumulam muita coisa, como roupas, que não usam, nem doam. Imaginei que, a cada doação feita a ONGs, o usuário ganhasse pontos e os trocassem por ingressos, produtos e serviços de empresas que apoiem a iniciativa. É uma maneira de estimular o bem”, conta a moradora de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, que foi aluna do Recode em Comunidades, numa parceria do CDI com o Banco da Providência, em Realengo. Em premiação realizada em dezembro, ficou em 2º lugar e ganhou um smartphone.
Segundo a CEO da ONG, Elaine Pinheiro, o CDI aposta em parcerias público-privadas para o financiamento de suas ações: “Acreditamos na união dos três setores”. Os cursos nas comunidades são realizados em convênio com ONGs locais e investimento de gigantes como Microsoft, Disney e HSBC. O Movimento Recode atua também em 50 escolas da rede estadual do Rio e em 50 bibliotecas públicas do Brasil.
Nas instituições de ensino, a parceria é com a B2W Digital, empresa de comércio eletrônico, e com o BNDES, além da Secretaria Estadual de Educação. Para desenvolver projetos com os alunos, 150 professores receberam laptops e smartphones do CDI. A iniciativa beneficia cerca de 15 mil estudantes. O patrocínio para as ações nos espaços de leitura é da Fundação Bill & Melinda Gates, com apoio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Ministério da Cultura. O Recode equipou os locais com dez computadores e promoveu a capacitação de bibliotecários. Cerca de 300 mil usuários são impactados. Há previsão de expandir a ideia a outros 1,5 mil pontos no país.
“Nossa ideia é trazer novos parceiros, como empresas, estados e prefeituras. Queremos influenciar políticas públicas nacionais”, declara a diretora. Segundo ela, uma das dificuldades do CDI é a de criar modelo de atuação que gere captação de recursos financeiros de forma recorrente, sem que seja preciso redesenhar projetos com frequência. Daí a aposta em iniciativas como o Recode, que preencham necessidades do governo e da sociedade, além de criar mão de obra qualificada para empresas.
O CDI avança, mas ainda não faz uma prestação de contas transparente. “Por enquanto, são apresentadas a um Conselho Consultivo, formado por executivos de mercado. Estamos caminhando para ter um relatório no nosso site em 2016”, informa Elaine. Com orçamento de R$ 5 milhões e 81 funcionários, a organização também agrega uma rede de voluntários. “Um grande atrativo é o voluntariado digital, ou seja, que pode ser realizado remotamente, nas áreas de Comunicação, Planejamento e Tecnologia”, acrescenta.
As gestões nos diferentes países são descentralizadas: em cada um, é constituída uma ONG que represente o CDI. O quadro de patrocinadores também varia. “A Microsoft, por exemplo, investe no Brasil, no México, na Colômbia e no Chile. Dependendo do estágio da parceria, o patrocinador pode querer ir para outros países”, explica Elaine, que está à frente do CDI no Brasil desde janeiro de 2015, ano em que seu fundador, Rodrigo Baggio, mudou-se para os Estados Unidos. Lá, acumula a presidência da ONG com novos projetos para a construção de redes no campo do empreendedorismo social e da tecnologia, em parceria com organizações globais como a Ashoka.