(Fotos de João Roberto Ripper) – “O que me mobiliza é a certeza de que nós não podemos ficar parados, a necessidade que eu tenho de pensar o mundo socialmente, no sentido em que, pensando em mim, eu tenho que pensar nos outros também”. As palavras são da premiada atriz Dira Paes, uma das fundadoras e integrante do Movimento Humanos Direitos, organização não governamental que tem no combate ao trabalho escravo uma de suas lutas mais constantes.
[g1_quote author_name=”Dira Paes” author_description=”Atriz” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Quando conheci o padre Ricardo Rezende, eu e alguns outros artistas nos reunimos e fundamos esse movimento que faz com que a gente esteja presente em julgamentos, defendendo os ameaçados de morte e fazendo campanhas de vídeos, de mídias sociais, pressionando as autoridades por meio de visitas, cartas e telefonemas. Foram muitas ações ao longo desses anos e que vão além do trabalho escravo. Dizem respeito aos direitos humanos como um todo
[/g1_quote]Natural do interior do Pará, Dira observa que o Norte é uma das regiões com maior incidência de trabalho escravo no Brasil, um motivo a mais para sensibilizá-la a se envolver na luta. Esse engajamento, segundo ela, começou cedo, em sua própria casa, com a família. “Via minha mãe sempre tentando viabilizar os direitos que os cidadãos do interior nem sabiam que tinham”. Dira estrelou o filme Pureza, de Renato Barbieri, que conta a história de uma mãe em busca de seu filho desaparecido na Amazônia. Quando ela arruma um emprego em uma fazenda, acaba testemunhando o tratamento brutal de trabalhadores rurais escravizados (vídeo abaixo).
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O Movimento Humanos Direitos foi criado há 15 anos por um grupo de artistas, intelectuais e defensores dos direitos humanos, como o ator Marcos Winter e o Padre Ricardo Rezende, que por 20 anos atuou na Comissão Pastoral da Terra, em Rio Maria (PA). Por sua luta contra o trabalho escravo, Rezende frequentou por muito tempo a lista de ameaçados de morte dos latifundiários da região.
“Quando conheci o padre Ricardo Rezende, eu e alguns outros artistas nos reunimos e fundamos esse movimento que faz com que a gente esteja presente em julgamentos, defendendo os ameaçados de morte e fazendo campanhas de vídeos, de mídias sociais, pressionando as autoridades por meio de visitas, cartas e telefonemas. Foram muitas ações ao longo desses anos e que vão além do trabalho escravo. Dizem respeito aos direitos humanos como um todo”, afirma a atriz.
Para ela, os artistas são “o espelho e a voz da sociedade”. A atriz considera impossível ser cidadã sem se engajar. “É a única maneira de se sobreviver a um mundo de injustiça e de desgaste de uma sociedade rica e tão injusta, preconceituosa e violenta como a sociedade brasileira”, diz.
Por isso, como artista, acha fundamental “ter uma atitude transformadora”. “Ser artista me move muito, me dá uma responsabilidade muito grande em todas as minhas ações”.
Para ela, o trabalho escravo contemporâneo está diretamente ligado às violações dos direitos humanos. “A gente achava que ele tinha sido abolido no século retrasado e, para surpresa de muitos, ele está sob nossas barbas. Às vezes, nós somos capazes de praticar trabalho escravo, nós somos capazes de ter um comportamento que favorece esse tipo de escravidão contemporânea”. Por isso, acha que é necessário estar sempre atento e vigilante.
Com mais de 40 prêmios por suas interpretações no cinema e na televisão, Dira lamenta que o Brasil, hoje, viva “uma ampliação desses crimes”. “No atual cenário político, muito reacionário, a primeira coisa que é desvalorizada, desconsiderada, é a necessidade da vigilância dos direitos humanos”. Segundo ela, nesse momento, o governo subestima a necessidade do combate a esses crimes hediondos. “Infelizmente, a gente vê que a redução orçamentária atinge, em primeiro lugar, os direitos humanos, a educação. É uma maneira muito triste de pensar o nosso País e que, infelizmente, acarreta problemas que a gente vai ter que enfrentar em breve”.