A festa do Oscar mais polêmica dos últimos anos foi marcada não só pela ausência indicações para negros nas categorias principais. Além do forte discurso de Chris Rock apontando a falta de bons papéis para afro-descendentes e de piadas sobre o tema – algumas engraçadas, outras escorregando no mau gosto -, a cerimônia, realizada neste domingo, teve protestos contra o abuso sexual em universidades, defesa dos direitos dos homossexuais e um curto, mas forte manifesto do grande vencedor da noite, Leonardo DiCaprio, em defesa do meio ambiente.
Era grande a expectativa em relação ao que Rock aprontaria na abertura da cerimônia, que é em geral o grande momento do apresentador. Brincou com as pressões para que ele boicotasse o Oscar. “Por que só as pessoas desempregadas sugerem isso?”. Disse também que havia uns 15 negros trabalhando na montagem. “Já pensaram que se eles tivessem indicações para apresentador eu sequer teria conseguido esse emprego? Vocês estariam vendo o Neil Patrick Harris agora”. Depois lembrou que essa era a 88ª edição do prêmio da Academia de Cinema e que, portanto, em outras 71 vezes não havia negros indicados. “A grande questão é: por que estamos protestando? Por que nesse Oscar? É a 88ª edição do prêmio. Quer dizer que essa coisa toda de não indicarem negros aconteceu pelo menos outras 71 vezes. Você imagina que poderia ter acontecido nos anos 50, nos 60… e tenho certeza de que não houve indicações. Sabe por quê? Porque nós tínhamos coisas de verdade para protestar contra naquela época. Estávamos ocupados demais sendo estuprados e linchados para se importar com quem venceu [na categoria] melhor direção de fotografia. Quando a sua avó está enforcada em uma árvore, é realmente difícil pensar em quem venceu o melhor curta-metragem de documentário estrangeiro”, disse, em um monólogo de quase 20 minutos. Em outro trecho, acrescentou: “O que eu quero dizer é que não se trata de boicotar as coisas. O que a gente quer é oportunidade. Queremos que atores negros tenham as mesmas oportunidades. E só. Leo (DiCaprio) consegue grandes papéis todos os anos. Todos vocês conseguem. E os negros?”
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Veja o que já enviamosAo longo da noite, deu para notar que o número de atores negros no palco foi maior do que em outros anos. Houve esquetes, momentos sérios e sátiras, que não agradaram a todos. Houve quem acreditasse que o protesto dos atores afro-americanos estava sendo tratado como uma piada.
Mas o protesto foi reforçado por alguns vitoriosos, como o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, que recebeu a estatueta por Melhor Diretor e destacou que gostaria de homenagear àqueles que sequer tinham chances de serem indicados e pediu que, um dia, as pessoas não se importem mais com a cor da pele. “Nossa geração tem a grande oportunidade de se liberar de todos os preconceitos…E fazer com que a cor da pele seja tão irrelevante quanto o tamanho de nosso cabelo”.
O tom político também subiu no discurso de Adam McKay, diretor de “A grande aposta”, que levou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado. “Se você não quer que o dinheiro grande controle nosso governo, não vote em candidatos que recebem dinheiro de grandes bancos, do petróleo ou de bilionários esquisitos”.
Outro destaque foi Leonardo DiCaprio, que ganhou seu primeiro Oscar após 5 indicações. A torcida era grande por ele, mas o ator optou por um discurso de agradecimento que não tocava nesse ponto. Falou da família, dos amigos, dos companheiros de set em “O regresso” e levantou a bandeira do meio ambiente: “‘O regresso'” fala sobre a relação do homem com a natureza. O mundo teve em 2015 o ano mais quente já registrado. Nossa produção teve que ir à parte mais ao sul do planeta só para encontrar neve. A mudança climática é real, e está acontecendo agora.
O Regresso fala sobre a relação do homem com o mundo natural. Um mundo que, coletivamente, sentiu um 2015 como o ano mais quente da história. Nossa produção teve que se mudar para a parte mais ao sul do planeta só para achar neve. A mudança climática é real. Está acontecendo agora. É a ameaça mais urgente à nossa espécie, e temos que trabalhar juntos e parar a procrastinação. Temos que apoiar os líderes mundiais que não representam os grandes poluidores, e sim que representam toda a humanidade, que falam pelos indígenas, pelos bilhões e bilhões de pessoas sem privilégios, pessoas que são as mais afetadas por tudo isso. Por nossos filhos e os filhos de nossos filhos, e pelas pessoas que têm suas vozes esvaziadas pela política da ganância. Eu agradeço a todos por este prêmio incrível. Não vamos esquecer nosso planeta. Eu não vou esquecer esta noite”.