O custo ambiental da pecuária

Brasil já tem mais gado do que gente e rebanho avança célere sobre o Cerrado

Por Liana Melo | FlorestasODS 13ODS 14 • Publicada em 6 de setembro de 2016 - 09:05 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:54

Gado na Amazônia-Foto de Antoine Lorgnier/Biosphoto/AFP
Gado na Amazônia-Foto de Antoine Lorgnier/Biosphoto/AFP
Pecuária é responsável por um terço dos gases de efeito estufa

O Brasil tem mais gado que gente. Os últimos dados do IBGE calculam em cerca de 207 milhões a população brasileira contra um rebanho que supera as 210 milhões de cabeças. O gado se espalha por todos os biomas, ocupando uma área de pastagem de 220 milhões de hectares, sendo um terço dele só na Amazônia. É um latifúndio correspondente a nove vezes o tamanho do estado de São Paulo e representa a atividade econômica que ocupa a maior superfície do território nacional. A soja, vinculada à pecuária, vem em segundo lugar, com mais 31 milhões de hectares.

Como há um reconhecimento mundial da importância da preservação da Amazônia, medidas protecionistas foram adotadas ao longo dos anos. Passou a ser obrigatório proteger 80% da área de cada estabelecimento rural na região. Já o Cerrado e o Pantanal estão livres, leves e soltos… A legislação é bem mais flexível nesses dois biomas. As áreas de preservação obrigatórias são de apenas 35% e 20%, respectivamente.

O “Atlas da carne – fatos e números sobre os animais que comemos” mostra com riqueza de detalhes, tabelas e infográficos como o consumo de carne faz mal à saúde do planeta. Elaborado por pesquisadores do Brasil, Chile, México e da Alemanha, a versão brasileira do estudo foi lançada no final do ano passado.

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Enquanto a moratória na Amazônia conseguiu deter o desmatamento na região; no Cerrado, onde está presente dois terços de toda a soja cultivada no país, o desmatamento segue em ritmo acelerado. Calcula-se que mais de dez milhões de hectares de vegetação do Cerrado podem ser legalmente desmatados. Os empresários do agronegócio elegeram “Matopiba” – uma palavra que não existe no dicionário e também não caiu na boca do povo –, como a nova fronteira agrícola para a expansão da soja no país. A sigla é formada pela primeira sílaba de quatro estados brasileiros: Maranhão, Tocantis, Piauí e Bahia.

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As ameaças que a soja e o gado representam para a preservação destes três biomas demonstram a insustentabilidade dos atuais padrões de produção e consumo de carnes

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Se a Amazônia abriga a maior biodiversidade do mundo, o Cerrado é identificado como a grande caixa d´água do Brasil. É lá que nascem as águas que abastecem três importantes aquíferos e seis grandes bacias hidrográficas. O Pantanal é, por sua vez, um patrimônio ambiental único. “As ameaças que a soja e o gado representam para a preservação destes três biomas demonstram a insustentabilidade dos atuais padrões de produção e consumo de carnes”, avalia Maureen Santos, coordenadora do Programa de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil, e uma das autores do Atlas da Carne.

Para saciar a fome do mundo é preciso engordar 60 milhões de animais – não está incluído nesse cálculo a parcela da população sem poder aquisitivo para consumir carne e seus derivados, que é uma em cada sete pessoas no mundo. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos o consumo está crescendo lentamente ou mesmo estagnando, nas economias emergentes, especialmente na China e na Índia, tende a crescer 80% até 2020.

Se as previsões de crescimento da demanda de carne no mundo se confirmarem, vamos todos pagar o preço do aumento das emissões de gases de efeito estufa. Uma vaca e seu bezerro poluem mais que um carro com 13 mil quilômetros, segundo comparação feita pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) – a comparação feita no relatório “A grande sombra do gado” suscitou, à época, críticas ferozes. A pecuária intensiva gera quase um terço dos gases de efeito estufa em nível global.

O Brasil, que é o maior produtor mundial de proteína animal, emite 7,7 quilogramas de gases de efeito estufa por cada quilograma de soja cultivada, que, na forma de ração, é um dos principais alimentos prioritários da dieta de engorda do gado. Outra parte das emissões – muitas vezes esquecida – decorre das mudanças no uso da terra.

O Atlas da Carne não é uma campanha vegetariana, mas ajuda a pensar: num país onde a crise hídrica já é uma realidade, faz sentido gastar 15 mil litros de água para produzir um único quilo de carne?

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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5 comentários “O custo ambiental da pecuária

  1. ROGERIO G. ROCCO disse:

    Olá, Liang!

    Os números iniciais estão desatualizados.
    A população brasileira já passou de 206 milhões e o rebanho bovino, segundo o senso agropecuário de 2006, era de 209 milhões naquele ano – o que leva a supor que já seja um número defasado.

    Att,

    Rogério Rocco

  2. Renato disse:

    Que bacana ver ONGs empenhadas em atacar o único setor da economia brasileira que consegue prosperar apesar da crise!… É bom saber quem quer que o povo brasileiro se estrepe para “salvar” arvorezinhas.
    Graças a Deus, o SOCIALISMO e o “POLITICAMENTE CORRETO” está caindo em desgraça no país e não há forma de se manterem no anonimato. SE DEUS QUISER, todos os que querem MATAR pessoas para “salvar” o planeta, VÃO SER EXPOSTOS AO RIDÍCULO E NUNCA MAIS IRÃO INFLUENCIAR NINGUÉM!

  3. Pingback: O país do boi – Bem Blogado

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