Animais silvestres ganham amigos…de pelúcia

Presentes aliviam a carência de macacos, bichos preguiça e até tamanduás na Amazônia

Por Liege Albuquerque | FlorestasODS 14 • Publicada em 26 de março de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:56

Animais que apresentem alguma condição irreversível e que comprometa sua sobrevivência em vida livre são mantidos em cativeiro para o resto da vida
Animais que apresentem alguma condição irreversível e que comprometa sua sobrevivência em vida livre são mantidos em cativeiro para o resto da vida
Animais que apresentem alguma condição irreversível e que comprometa sua sobrevivência em vida livre são mantidos em cativeiro para o resto da vida

Bebês preguiça, macacos e tamanduás órfãos ganharam mais de 300 bichinhos de pelúcia para se agarrarem nos momentos de carência numa campanha iniciada em novembro do ano passado e que agora é permanente para consolar os animais silvestres que nunca param de chegar dos resgates do Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amazonas, técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Refúgio de Vida Silvestre Sauim Castanheiras, da prefeitura de Manaus.

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Cerca de 40% desses animais resgatados retornam à natureza. A outra parte vai para cativeiros, como zoológicos e refúgios cadastrados pelo Ibama. Cerca de 5% morrem, especialmente aqueles que chegam em condições muito debilitadas.

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Atualmente há 14 bebês bichos sob os cuidados dos veterinários do Refúgio Sauim Castanheiras, já que o outro espaço destinado a esses resgatados, o do Ibama, está em reforma. Os bichos de pelúcia são destinados aos mamíferos que, assim como o homem, tem naturalmente essa sensação de acalento no abraço.

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O gestor do Refúgio da Vida Silvestre Sauim Castanheiras, o veterinário Daniel Grijó Cavalcante destacou que, com a campanha, foi possível formar um estoque para pelo menos seis meses por conta da rotatividade dos bichinhos de pelúcia. “Os animais se mantêm agarrados a eles com as garras e há um desgaste natural”.

O número de animais silvestres resgatados nas áreas urbanas desmatadas ou de casas de pessoas que pegam os bichinhos para criar e, quando crescem, abandonam ou ligam para os órgãos ambientais para pedir para os veterinários buscá-los é sempre alto. Manaus está crescendo especialmente para as zonas norte e leste, as mais densas em florestas virgens e, consequentemente, desmatando o refúgio natural dos animais nativos.

De acordo com dados do Ibama, foram entregues voluntariamente pela população ou resgatados 888 animais silvestres em 2012, 524 em 2013, 567 em 2014 e 531 em 2015. Os resgates desde o início deste ano foram direcionados ao Refúgio Sauim Castanheiras por causa da reforma do espaço do Ibama. E, assim, como no Ibama, não é permitida a visita aos animais nesses locais por estarem debilitados ou em adaptação.

Em 2013 foram resgatados 808 animais, em 2014 foram 506 animais e, no ano passado, 711 animais

Cerca de 40% desses animais resgatados retornam à natureza. A outra parte vai para cativeiros, como zoológicos e outros refúgios cadastrados pelo Ibama. Há mortes de cerca de 5%, especialmente daqueles animais que chegam em condições muito debilitadas.

Segundo Cavalcante, os animais que chegam ao Refúgio são encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS). “Os animais recebidos ou resgatados são identificados quanto à espécie e avaliados por veterinários. Caso o animal esteja bem, imediatamente é encaminhado para a soltura na natureza”, destaca o veterinário.

Cavalcante explica que os animais que necessitem de tratamento passam por tratamento clínico e, se o quadro evoluiu positivamente, o animal recebe alta clínica e é avaliado quanto às suas condições físicas e comportamentais. “Quando é evidenciado que a condição do animal não está adequada à vida livre, o mesmo é submetido à reabilitação que irá favorecer a posterior soltura”.

Animais que apresentem alguma condição irreversível e que comprometa sua sobrevivência em vida livre são mantidos em cativeiro para o resto da vida ou são destinados a zoológicos, mantenedores particulares ou criadouros científicos. Animais que se enquadram nesta situação, são animais que foram criados em cativeiro desde filhotes (normalmente primatas) e animais que sofreram amputação de algum membro.

Hoje, no Refúgio, há 213 animais permanentes. Segundo o veterinário, em 2013 foram resgatados 808 animais, em 2014 foram 506 animais e, no ano passado, foram resgatados 711 animais. Neste ano, só em janeiro, foram resgatados 96 animais e em fevereiro 67 animais.

As espécies mais comuns resgatadas ou entregues pela população são, na classe dos mamíferos, os primatas (macaco prego, mico de cheiro, macaco barrigudo e sauim de coleira) e a da ordem pilosa (preguiça bentinho e preguiça real). Na classe das aves, destaca-se a ordem dos Psittaciformes (papagaios, araras e periquitos) e da classe dos répteis, destaca-se a ordem Testudine ( tartaruga, tracajá e jabuti).

Dependendo da espécie, diz Cavalcante, muitos animais recebidos não têm capacidade para sobreviverem na floresta. “No caso especialmente dos primatas, animais que chegam filhotes não têm potencial para soltura pois, em vida livre, aprendem com os pais a ir atrás de alimento e se defender. Como os que chegam filhotinhos dependem dos técnicos para se alimentar e não têm naturalmente esse aprendizado, quando adultos eles não terão potencial para soltura e permanecerão em cativeiro para o resto da vida”.

No caso dos macacos, assim como preguiças e tamanduás, em vida livre os filhotes ficam agarrados à mãe, por isso quando os filhotes órfãos chegam ao refúgio os veterinários colocam os bichinhos de pelúcia na jaula desses bebês. “Nesse contexto, surgiu a necessidade de aquisição dos bichinhos de pelúcia, pois a cada três dias é feita a troca do bichinho de pelúcia para que seja feita a higienização”, justifica. “Os bichinhos de pelúcia transmitem segurança aos filhotes e conforto térmico. Outra vantagem é que os filhotes ficam menos estressados, pois o cativeiro já é um fator estressante para esses animais, e nossa preocupação é melhorar a qualidade de vida deles ao máximo”.

Grijó ressalta que, desde o início da campanha, os filhotes vêm tendo uma melhor adaptação após chegarem ao Centro de Triagem do Refúgio. “A campanha vem permitindo também transmitir a mensagem de alerta contra a manutenção indevida de filhotes de animais silvestres em cativeiro”, afirma.

O veterinário diz que, junto à campanha, os funcionários do Refúgio aproveitam para proferir palestras técnicas em escolas, instituições e empresas e informar as pessoas sobre os problemas relacionados à tentativa de manter um animal silvestre como “doméstico” de forma ilegal, e também em relação ao tráfico de animais silvestres bem como a caça.

Liege Albuquerque

Liege Albuquerque é jornalista e mestre em Ciências Políticas (USP). É professora de jornalismo e publicidade na UniNorte/Laureate em Manaus, de onde faz freelances para diversos veículos. Foi repórter e editora de Cidades e Política em jornais como A Crítica, Amazonas em Tempo e Diário do Amazonas (em Manaus), Folha de S. Paulo e Veja (em São Paulo), O Globo e O Estado de S. Paulo (em Brasília). Trabalhou por oito anos como correspondente do Estadão no Amazonas. É autora de dois livros infantis e tem um blog sobre maternidade com outras jornalistas: o maescricri.

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