Descaso com a Ciência

Joseph Black visiting James Watt in his Glasgow workshop – Le chimiste ecossais Joseph Black rend visite a l’ingenieur James Watt (1736-1819) dans son laboratoire de l’Universite de Glasgow vers 1760. Gravure tiree de “Les merveilles de la science” de Louis Figuier. ©Bianchetti/Leemage

Ao negligenciar o conhecimento, Brasil acumula 200 anos de atraso

Por Suzana Kahn | Artigo • Publicada em 13 de maio de 2016 - 08:00 • Atualizada em 13 de maio de 2016 - 12:30

Joseph Black visiting James Watt in his Glasgow workshop – Le chimiste ecossais Joseph Black rend visite a l’ingenieur James Watt (1736-1819) dans son laboratoire de l’Universite de Glasgow vers 1760. Gravure tiree de “Les merveilles de la science” de Louis Figuier. ©Bianchetti/Leemage
Joseph Black visiting James Watt in his Glasgow workshop - Le chimiste ecossais Joseph Black rend visite a l'ingenieur James Watt (1736-1819) dans son laboratoire de l'Universite de Glasgow vers 1760. Gravure tiree de "Les merveilles de la science" de Louis Figuier. ©Bianchetti/Leemage
Gravura de Louis Figuier: encontro entre o fisico e químico escocês Joseph Black e o engenheiro James Watt

No século XIX, John Stuart Mill argumentava que o avanço científico poderia promover uma revolução na agricultura, que era a grande questão daquela época. A escassez de terras férteis era vista de forma catastrófica por outros pensadores como Thomas Malthus, que cunhou a célebre frase de que “a população cresce em progressão geométrica enquanto que os alimentos em progressão aritmética”. Mill estava correto e de fato, por conta dos avanços tecnológicos proporcionados pelo conhecimento científico, não houve a temida falta de alimentos, uma vez que a produtividade agrícola deu um salto.

De forma similar atualmente também enfrentamos a escassez de recursos naturais e podemos e devemos de novo encarar o avanço científico e a inovação, seja de base tecnológica ou não, como uma importante ferramenta para colocar o mundo no rumo do desenvolvimento sustentável.

Novos produtos, novos processos e novas práticas não aparecem de repente. Eles se baseiam em novos princípios científicos, em concepções originais e esforços coletivos. Portanto, o país que pretende avançar e se desenvolver necessita proporcionar este ambiente criativo e multidisciplinar, uma vez que a inovação não requer apenas cientistas.

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Uma nação que precisa de outras para novos conhecimentos científicos básicos será morosa em seu progresso

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Vannevar Bush, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), que, em 1931, criou o primeiro computador analógico, dizia que “uma nação que precisa de outras para novos conhecimentos científicos básicos será morosa em seu progresso”. Esta afirmação mostra a importância das áreas de ciência, tecnologia e inovação no desenvolvimento das nações e melhoria do bem estar da sociedade. Um país com sólida base científica é mais resiliente, apresenta maior produtividade, melhores empregos e mais riqueza.

O Brasil, por não ter tradição na área de ciência e tecnologia, está distante de ser uma sociedade do conhecimento, de atingir seu potencial social e econômico, proporcionando melhor qualidade de vida para a sua população. O problema é que ao neglicenciar este importante capital, que é o conhecimento, aumenta-se a dificuldade de superar as nossas necessidades mais básicas. A visão de curto prazo com que se caracterizam as decisões dos sucessivos governos brasileiros fazem com que o Brasil não evolua, pois o conhecimento científico é um processo contínuo e cumulativo, que, para ser eficiente e eficaz, deve ser incorporado na agenda do planejamento de longo prazo do país.

Temos presenciado o descaso com a área de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, o que nos leva a crer que nossos governantes não fazem ideia da importância do desenvolvimento tecnológico frente aos desafios deste século, seja a carência de recursos naturais, seja a redução da capacidade do planeta de absorver tantos impactos ambientais.

Se na Inglaterra do século XIX já havia o reconhecimento da relevância do avanço científico, é inconcebível que o Brasil, no século XXI, ainda não tenha se dado conta de sua importância.

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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