O democrata Bernie Sanders e o aquecimento global

Senador democrata Bernie Sanders na corrida à presidência dos Estados Unidos

Senador defender fim da influência do dinheiro na política. Discurso ambientalista ganha adeptos na corrida à presidência dos EUA

Por Suzana Kahn | Artigo • Publicada em 27 de março de 2016 - 06:13 • Atualizada em 27 de março de 2016 - 15:03

Senador democrata Bernie Sanders na corrida à presidência dos Estados Unidos
Senador democrata Bernie Sanders na corrida à presidência dos Estados Unidos
O candidato democrata, senador Bernie Sanders, adota discurso ambiental em corrida à presidência dos Estados Unidos

Independentemente de quem venha a vencer a eleição para a presidência dos Estados Unidos, o ” slogan” da campanha de Bernie Sanders (“Um futuro que se pode acreditar”) permanecerá sendo a esperança nos corações e mentes de boa parte da população mundial, em especial naqueles que temem as consequências do aquecimento global.

A surpreendente, para alguns, popularidade do senador de 74 anos de Vermont, deve-se muito a um discurso apaixonado e jovial, típico daqueles que tem a intenção de mudar o mundo, misturando um pouco de idealismo com uma pitada de ingenuidade, coragem e disposição.

É evidente que esta popularidade também é fruto de um descontentamento em relação a administração do atual presidente Barack Obama, apesar de haver o reconhecimento de que muitos avanços, sobretudo na área climática, ocorreram em sua administração. Foi sob o comando de Obama que os EUA aceitaram o acordo climático, negociado em Paris no fim de 2015, tendo sido o maior avanço da Convenção do Clima no enfrentamento ao aquecimento global.

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O senador também deixa claro que se deve eliminar a influência do dinheiro na política, destacando o apoio das empresas do setor de petróleo ao candidato republicano, o que, obviamente, interfere no discurso e nas políticas adotadas pelos candidatos deste partido

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Ao afirmar que a mudança climática é real e que é fundamental ouvir cientistas, o senador recebe um enorme apoio dos jovens, deixando claro que a nova geração não está disposta a pagar para presenciar e vivenciar os danos causados por um modelo de desenvolvimento mantido há mais de um século. Os eleitores democratas consideram chave a questão de desigualdade econômica, principalmente após a recessão de 2008/2009, o que leva a concluir que o modelo de crescimento adotado não foi bem sucedido.

O senador também deixa claro que se deve eliminar a influência do dinheiro na política, destacando o apoio das empresas do setor de petróleo ao candidato republicano, o que, obviamente, interfere no discurso e nas políticas adotadas pelos candidatos deste partido. Bernie faz questão de ressaltar que os EUA têm uma responsabilidade moral de mudar o atual sistema energético baseado em fontes de energia fóssil para um modelo mais sustentável e eficiente.

Ele compreende que o aquecimento global pode potencializar e atuar como catalisador das instabilidades em zonas já impactadas por tensões sociais, políticas, étnicas e religiosas. Apesar desta análise ainda ser passível de ceticismo, contata-se que quase todas as zonas identificadas como as mais sensíveis aos efeitos do aquecimento global em 2008 no Relatório da União Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança, mergulharam sete anos depois em um verdadeiro caos.

Mesmo defendendo taxação de emissões de carbono, corte de subsídios aos combustíveis fósseis e investimentos em tecnologias limpas, Sanders não para de surpreender com apoios sucessivos nos mais variados Estados da nação.

Fica uma sugestão para políticos de uma maneira geral e para os do Brasil em particular, uma vez que o país passa por um momento quase de ” refundação” política. Observem o sucesso do senador Bernie Sanders na corrida à sucessão americana e prestem atenção nas suas propostas. É provável que a sociedade esteja interessada em ser conduzida seguindo uma nova trajetória sustentável.

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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