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Bebê reborn: conheça casos polêmicos envolvendo bonecos realistas

Febre do bebê reborn chegou a unidades de saúde, casas legislativas e até igrejas

Você provavelmente já sabe o que é um bebê reborn. Os bonecos feitos a mão se assemelham a um bebê humano com o máximo de realismo possível, e os preços variam entre R$ 300 e R$ 15 mil reais. Os detalhes impressionam: dos cílios nos olhos de vidro até as veias espalhadas pelo corpo e as pequenas unhas esculpidas nas mãos e pés. Mas por que esse assunto têm sido tão recorrente?
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Nas redes sociais e plataformas de busca, o tema nunca esteve tão em alta. Segundo apuração da reportagem no Google Trends, por exemplo, o termo “bebê reborn” atingiu o pico de popularidade neste mês de maio, ao longo dos últimos 5 anos. O que pode explicar esse aumento de interesse é o compartilhamento de “mães” e “maternidades” nas redes sociais, com mulheres (não crianças) que performam uma rotina de cuidados com o boneco como se fosse um bebê real, e lojas que simulam partos empelicados. Mas listamos alguns casos e situações que chamam ainda mais atenção; confira:
1 – Jovem tenta atendimento na UPA para bebê reborn
Na Bahia, no município de Guanambi, uma jovem de identidade não revelada tentou atendimento para bebê reborn em Unidade de Pronto Atendimento (UPA), via SUS. Segundo nota de esclarecimento da prefeitura, o fato aconteceu na noite do dia 18 de maio, e a moça de 25 anos dizia que o bebê estava sentindo muita dor. “A jovem foi reconhecida por uma senhora, que tinha acabado de ser atendida na unidade de saúde e logo notou ser um bebê de borracha. A jovem e o motorista de aplicativo foram orientados pela senhora a voltar para casa, e o fato foi relatado ao diretor da UPA”, afirma a nota de esclarecimento da prefeitura.
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Veja o que já enviamos2 – Vacina neonatal para bebê reborn
Em janeiro, uma mulher levou um bebê reborn para ser vacinado numa Unidade Básica de Saúde (UBS) de Itajaí, em Santa Catarina. Neste caso, a mulher levou a boneca da filha consciente de que é apenas um brinquedo — o pedido foi para simular uma vacinação real, assim ela poderia gravar e publicar nas redes sociais. A solicitação foi negada e a mulher deixou a unidade “exaltada”, segundo informações da secretaria municipal de saúde, como afirma publicação do G1.
3 – Briga judicial pela guarda do bebê reborn
A advogada e influenciadora digital Suzana Ferreira contou em vídeo publicado no Instagram que foi procurada por uma “mãe de bebê reborn” para regulamentar o convívio da boneca com a outra pessoa responsável. “A bebê reborn faz parte da família dela, só que o relacionamento não deu certo e a outra parte insiste em conviver com o bebê pelo apego emocional que desenvolveu”, conta em publicação do dia 12 de maio. O ex-casal também disputa pelo gerenciamento dos perfis de redes sociais, que geram publicidades e lucros. Além disso, a regulamentação inclui a divisão dos custos e um enxoval feito para a boneca.
4 – Atestado médico no trabalho para cuidar da filha… reborn
Outra advogada, Daniela Pasqua Andreoli, também compartilhou nas redes sociais uma situação atípica. Daniela, especialista da Comissão de Direito do Terceiro Setor da OAB São Paulo, publicou um vídeo onde conta que recebeu uma mensagem com um pedido de ajuda. Segundo o print que ela divulgou, o dono de uma empresa têxtil de São Paulo foi informado pelo setor de Recursos Humanos que uma funcionária teria apresentado atestados médicos para acompanhamento de seu bebê ao pediatra, este ano. Entretanto, o RH percebeu que a filha, na verdade, era um bebê reborn. No print da mensagem, o empresário diz: “ao questioná-la, ela disse que a filha passou mal e precisou ir ao pediatra reborn. Demito por justa causa?”. Em seguida, a advogada explica o que é possível fazer conforme as leis trabalhistas.
5 – Padres e igrejas não batizam bebês reborn
Em nota de esclarecimento divulgada no Instagram, o padre Chrystian Shankar, da Diocese de Divinópolis, Minas Gerais, se recusou a batizar bebês reborn, atender aos “pais” dos bonecos ou realizar qualquer rito religioso. Segundo o padre, pessoas que fizerem essas solicitações “devem ser encaminhadas ao psicólogo ou psiquiatria”. Na publicação, afirmou: “não estou realizando batizados, atendendo buscas por catequese, celebrando Missa de Primeira Comunhão. Nem oração de libertação para bebê possuído por espírito reborn”.
Em tom mais sério, a Igreja Rosário dos Pretos, de Salvador, Bahia, também publicou um comunicado afirmando que “os sacramentos da Igreja são atos sagrados e devem ser tratados com o máximo respeito”, e que não realizam batismos nem qualquer atendimento religioso relacionado a bonecas “reborn” ou objetos semelhantes.

6 – Projetos de lei para multas e saúde mental
A febre dos bebês reborn foi acompanhada por uma série de propostas legislativas. Somente no dai 18 de maio, foram apresentados três Projetos de Lei (PL) na Câmara dos Deputados voltadas para o universo dos bonecos realistas. Um deles é o PL 2326/2025, de autoria de Paulo Bilynskyj (PL/SP), que proíbe o atendimento de bebês reborn em unidades de saúde públicas e privadas, e prevê multas.
Outro projeto propõe acolhimento psicossocial no SUS para aqueles que desenvolveram vínculo afetivo aos bonecos. O PL 2323/2025, da deputada Rosângela Moro (União/SP) afirma que esses objetos são associados ao luto e carências emocionais severas ou isolamento social, e podem alertar para um sofrimento psíquico. Além disso, a reportagem identificou outros seis projetos legislativos envolvendo os bonecos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), neste mês de maio.
7 – PL baseado em informações falsas sobre bebês reborn
O terceiro PL (2320/2025) protocolado na Câmara dos Deputados, de autoria do Dr. Zacharias Calil (União/GO), propõe a aplicação de multa a quem utilizar esses bonecos para obter benefícios ou prioridades como acesso a filas preferenciais. O texto se apoia numa reportagem do portal Itatiaia sobre o “caso de uma adolescente de Minas Gerais que levou seu bebê reborn a um hospital público e exibiu nas redes sociais o acesso ao atendimento preferencial”, como diz o texto. Entretanto, a mesma reportagem revela que o vídeo gravado pela influenciadora Yasmim Becker se tratava de uma situação fictícia, e que o conteúdo foi gravado enquanto a jovem acompanhava outra pessoa no hospital — informação não citada na proposta legislativa.
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Ana Carolina Ferreira
Estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF). Gonçalense, ou papa-goiaba, apaixonada pelas possibilidades de se contar histórias na área da comunicação. Foi estagiária na Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal e da UFF. Amante da sétima arte e crítica amadora do universo geek.