ODS 1
Crise climática forçou deslocamento de 220 milhões de pessoas em 10 anos
Relatório do Acnur apresentado na COP29 revela que 75% daqueles forçados a deixarem suas casas no mundo vivem em países fortemente impactados pelas mudanças climáticas
Nos últimos 10 anos, desastres relacionados à crise climática causaram 220 milhões de deslocamentos internos – equivalente a aproximadamente 60 mil deslocamentos por dia; em 2023, mais de um quarto desses ocorreram em cenários frágeis e afetados por conflitos. Esses dados embasam o relatório “Sem escapatória: na linha de frente das mudanças climáticas, conflito e deslocamento forçado”, feito pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), lançado nesta 3ª feira (12/11), na COP29, em Baku.
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Dos mais de 120 milhões de deslocados forçados no mundo, três quartos vivem em países fortemente impactados pelas mudanças climáticas. Metade está em locais afetados por conflitos e riscos climáticos, como Etiópia, Haiti, Mianmar, Somália, Sudão e Síria. De acordo com o relatório, que teve a colaboração com 13 organizações, instituições de pesquisa e organizações lideradas por pessoas refugiadas, espera-se que, até 2040, o número de países enfrentando extremos climáticos aumente de três para 65, muitos dos quais acolhem pessoas deslocadas. Da mesma forma, projeta-se que a maioria dos campos e abrigos de refugiados enfrentará o dobro de dias de calor extremo até 2050.
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Veja o que já enviamosA Acnur, que não adota o termo “refugiado climático”, analisou pela primeira vez a relação entre a crise climática e o deslocamento de pessoas forçadas a abandonar suas casas — geralmente, devido a conflitos armados, cenários de violência generalizada ou violações de direitos humanos. “Para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade do mundo, as mudanças climáticas são uma realidade dura que afeta profundamente suas vidas,” disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, na apresentação do relatório na COP29. “A crise climática está impulsionando o deslocamento em regiões que já abrigam muitas pessoas deslocadas, agravando sua situação e deixando-as sem um local seguro”, acrescentou.
O relatório enfatiza que as mudanças climáticas aumentam os deslocamentos internos, quando somam-se aos conflitos que levam as pessoas a procurarem outros países, além de piorar a qualidade já vulnerável de vida dos refugiados que atravessam fronteiras nacionais. “Desastres relacionados ao clima podem prender deslocados internos e refugiados em ciclos de deslocamento contínuos e prolongados”, afirma o relatório, que cita as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio como um dos exemplos. Entre os afetados pelas chuvas no estado brasileiro, segundo o ACnur, estavam 43 mil refugiados de Venezuela, Haiti e Cuba, que habitavam algumas das áreas mais impactadas por secas e inundações.
Na combinação de crise climática e outras crises, o relatório cita o conflito devastador no Sudão que forçou milhões de pessoas a fugir de suas casas, incluindo 700 mil que cruzaram para o Chade, país exposto às mudanças climáticas e que acolhe refugiados há décadas. Ao mesmo tempo, muitos que permaneceram no Sudão enfrentam novo deslocamento devido a enchentes severas. “Em nossa região, onde tantas pessoas foram deslocadas por muitos anos, vemos os efeitos das mudanças climáticas diante de nossos olhos,” disse Grace Dorong, ativista climática e antiga refugiada no Sudão do Sul, na apresentação durante a COP29.
O documento da Acnur lembra ainda que 72% dos refugiados de Mianmar buscaram segurança em Bangladesh, onde riscos naturais, como ciclones e inundações, são classificados como extremos. “Espero que as vozes neste relatório ajudem os tomadores de decisão a entender que, se não forem abordados, o deslocamento forçado e os efeitos multiplicadores das mudanças climáticas piorarão. Mas, se nos ouvirem, podemos fazer parte da solução também”, destacou Grace Dorong.
O relatório também destaca que o financiamento climático não chega a refugiados, comunidades de acolhida e outros em países frágeis e devastados por conflitos, prejudicando sua capacidade de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Atualmente, estados extremamente frágeis recebem apenas cerca de US$ 2 per capita em financiamento anual de adaptação, comparado a US$ 161 em estados não frágeis. Quando o investimento chega a estados frágeis, mais de 90% é direcionado para as capitais, enquanto outras áreas raramente se beneficiam.
O Acnur lançou o documento durante a COP29 para requerer o aumento do financiamento climático para os mais necessitados. No lançamento, os países foram também instados a protegerem os deslocados forçados que enfrentam desastres climáticos e a incluí-los nas decisões sobre financiamento e políticas públicas. “A emergência climática representa uma profunda injustiça,” afirmou Grandi. “Pessoas deslocadas e as comunidades que as acolhem, as menos responsáveis pelas emissões de carbono, pagam o preço mais alto. Bilhões em financiamento climático nunca chegam até eles, e a assistência humanitária não consegue cobrir a lacuna crescente. Soluções existem, mas precisamos de ação urgente”, acrescentou.
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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.