ODS 1
Chuvas no Sul: 10 mentiras que já atrapalharam resgate e ajuda às vítimas das enchentes
Polícia Federal abre inquérito para investigar produção fake news: veja a lista com as mais disseminadas durante o desastre climático
A semana começou com a alarmante notícia que, após as chuvas de sábado e domingo, a água do Lago Guaíba havia voltado a subir e ameaçava ultrapassar a taxa recorde de inundação. Na mesma segunda-feira (13/05), os bombeiros do Rio Grande do Sul foram obrigados a desmentir a notícia que jet skis não estavam sendo usados pela corporação nos resgates às vítimas das enchentes no estado pelo excesso de entulho nas águas. O vídeo fake com um suposto bombeiro é apenas um exemplo recente da infestação de mentiras nas redes sociais. Em 10 dias, as principais agências de checagem do Brasil – Lupa e Aos Fatos – já publicaram mais de 50 notas desmentindo notícias falsas.
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As chuvas no Sul já provocaram, pelo menos, 147 mortos, de acordo com o balanço divulgado pela Defesa Civil na terça-feira (13/05); há ainda 125 desaparecidos e 806 feridos. Mais de dois milhões de pessoas foram afetadas pelas chuvas: os números oficiais apontam 538.545 desalojados e 76.884 pessoas em abrigos. A dimensão do desastre climático gaúcho só alimenta a máquina de produção de fake news. A enxurrada (desculpem a palavra) de mentiras vem prejudicando a ajuda humanitária e o resgate das vítimas. Pesquisa da Quaest apontou que 31% dos brasileiros receberam alguma fake news relacionada à tragédia climática no Rio Grande do Sul – a maior parte (35%), pelo Whatsapp. Mas os próprios pesquisadores admitem que, entre os 69% que responderam não ter recebido, há uma parcela que não conseguiu identificar que o conteúdo recebido se tratava de fake news.
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Veja o que já enviamosNa semana passada, a Polícia Federal abriu inquérito, a pedido pelo governo federal para apurar a divulgação de conteúdos falsos sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. A extrema-direita – que, pelo menos desde Hitler, usa a mentira como arma de propaganda política – reclamou através de seus representantes no Congresso Nacional; pelo menos, sete parlamentares são acusados de disseminar informações falsas pelas redes sociais. A AGU reuniu as principais plataformas de redes sociais que atuam no Brasil, pediu apoio e colaboração para conter a propagação de informações falsas sobre a catástrofe climática no Rio Grande do Sul. e entregou minuta de um protocolo de intenções com sugestões para essa atuação.
Os órgãos federais são os principais alvos da inundação (desculpem a palavra) de mentiras na internet, mas também há ataques aos órgãos estaduais do Rio Grande do Sul e às prefeituras. As Forças Armadas – Exército à frente – são vítimas comuns dessa campanha de desinformação que agrava a tragédia climática no Rio Grande do Sul; os criminosos digitais atrapalham os trabalhos de atendimento às vítimas. Esta lista abaixo reúne oito mentiras das mais disseminadas até esta terça sobre as enchentes – além da já citada sobre o uso dos jetskis pelos bombeiros.
1. É mentira que o Brasil impede que Portugal envie doações para o Rio Grande do Sul: o conteúdo falso está em vídeo gravado por parlamentar português de extrema-direita;
2. É mentira que a Prefeitura de Canoas tenha publicado decreto permitindo que a defesa civil possa tomar as doações de qualquer centro de voluntários: essa fake news foi espalhado por whatsapp no Rio Grande do Sul;
3. É mentira que as atuais enchentes no Rio Grande do Sul tenham sido causadas pela abertura simultânea das comportas de três barragens do rio Taquari: é uma mentira requentada, criada durante a tragédia climática de 2023 por um jornalista de extrema direita;
4. É mentira que o Exército só mandou três helicópteros para o resgate das vítimas das chuvas no Sul: o trabalho conjunto aéreo das Forças Armados – seis deles do Exército, além de aeronaves da FAB e da Marinha. A campanha de fake news contra o Exército, espalhada nas redes, ecoou no Congresso, através dos porta-vozes da extrema-direita;
5. É mentira que que o Ibama tenha apreendido retroescavadeiras usadas na limpeza de estradas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul: a desinformação é disseminada em áudio no whatsapp;
6. É mentira que a Anvisa tenha barrado o envio de remédios para o Rio Grande do Sul – ao contrário, a agência baixou portarias para facilitar liberação e transporte de medicamentos. Mais grave: pelo menos, dois médicos gaúchos estão sendo investigados pela Polícia Federal pela disseminação das mentiras;
7. É mentira que tenham sido encontrados dois mil corpos de vítimas das enchentes no bairro de Mathias Velho, em Canoas (RS) como alegado em áudio compartilhado nas redes sociais inventando ainda que autoridades estavam armazenando cadáveres em frigoríficos para evitar pânico. Esta é outra fake news recorrente: o número de óbitos varia de 300 a 2000, a depender do criminoso;
8. É mentira que o governo do Rio Grande do Sul esteja exigindo que voluntários apresentem documentos de habilitação para pilotar barcos e jet-skis em missões de resgate: esse é um caso típico de fake news assassina já que desmobiliza ações de resgate;
9. É mentira que uma boiada tenha sido carregada pelas águas das enchentes no interior gaúcho: esse vídeo alarmante circula pelas redes sociais desde 2020, sem que se saiba local e autoria, e volta a fazer sucesso no Brasil a cada enchente desde então;
10. É mentira que caminhões com doações para as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul tenham sido retidos nas estradas. Essa fake news varia de acordo com o criminoso disseminador: alguns culpam a PRF, outros a Receita Estadual;
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade