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Veja o que já enviamosA mãe, o menino e a manifestação num bairro de atos racistas
Racismo na agressão da ex-atleta contra entregadores em São Conrado e racismo na reação contra a manifestação dos moradores da Rocinha
Era quinta, mas também o símbolo da reconquista, um fato atravessado no calendário que faria por, na véspera de dois feriados, um ato. Mas não qualquer um: justiça para os entregadores Max Ângelo e Viviane Maria. O bairro? São Conrado, o mesma citado na última coluna feita por aqui.
A plenos pulmões, moradores da Rocinha e de outras partes do Rio se concentraram na saída do metrô, numa manifestação contra a violência cometida por Sandra Mathias Correia de Sá, ex-atleta e moradora de São Conrado, criminosa – sim, porque racismo é crime – que proferiu expressões de injúria e agressão no dia 9 de abril aos entregadores.
O caso ganhou a repercussão devida, justamente pela cena ter sido flagrada por uma câmera de celular – o que foi capaz de tornar público e explícita a maneira como o racismo à brasileira se dá, deteriorando corpos negros pela crueldade e perversidade.
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Veja o que já enviamosNão que ele – o racismo – esteja piorando, como Will Smith disse em entrevista ao talk-show Late Show, em 2016. Ele só foi capturado e viralizado.
A manifestação se deu três dias depois da ex-atleta depor à Polícia na investigação por agressão e injúria aos entregadores. Na ocasião, Sandra disse a Polícia que se sentia “ameaçada” e, por isso, fez o que fez. A justificativa do racismo, quando não é por atestado de transtornos mentais, vem pela antecipação do medo de algo que nem chegou a acontecer.
Dias antes, Sandra foi vista passando pelo mesmo local com um notebook nas mãos, as mesmas que empunharam a coleira de sua cachorra para bater em Max e Viviane. O motivo? Não se sabe. O que se sabe é da impunidade que vítima corpos negros e aumenta a dor de pessoas como eu.
Ao ouvir os relatos dos presentes, em microfone aberto, o coração apertado, justamente por ser, também eu, além de negro, vizinho de Sandra e, em uma divisão de esquina, estar vulnerável a passar pelo mesmo.
Em estado de agonia, segui a trajetória do percurso que ia em direção a minha casa, quando cortou pelos meus olhos a cena de uma mãe buscando seu filho num curso perto do prédio em que Sandra reside, a dois passos do meu. “Vamos meu filho, você não precisa ver isso” – pude ouvir, enquanto entravam em uma SUV.
Realizei a fala, calando em mim a vontade do choro. Segurei-o até que pude tomar o vazio da rua para então desentupir o que deixava de jorrar nunca, enquanto ecoava pelo bairro, em tom uníssono: “fogo nos racistas”.
Era pra ser uma quinta diferente, mas não deu.
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