Embaixo de uma mangueira, bancos de madeira, cangas no chão de areia, rostos pintados, pessoas de todas as idades e de vários lugares do Brasil. Todos estão atentos às histórias de uma senhora sexagenária, da comunidade de Urucurea, que conta detalhes sobre a produção da cestaria feita com palha de Tucumã. A palmeira, nativa da Amazônia, tem um enorme poder de regeneração. Um mês depois de retirada a folha, ela renasce – nada mais simbólico para reforçar a tradição de muitas culturas, que festejam a virada do ano como um renascimento. É 31 de dezembro de 2015 e faltam poucas horas para o ano acabar. O ritual de passagem ocorre à beira do Rio Arapiuns (Pará), um dos afluentes do Tapajós, bem longe dos tradicionais fogos de artifícios e flores jogadas ao mar para saudar Iemanjá.
É que há pelo menos sete anos, nesta época do ano, barcos de um, dois a três pavimentos partem de Alter do Chão, vila próxima de Santarém, levando turistas nacionais e estrangeiros para conhecer de perto as populações ribeirinhas, que vivem à beira dos rios da região Amazônica. A viagem é uma forma de mostrar o outro lado do Brasil, além daquele povoado por vitórias-régias, macacos, jacarés, grandes peixes, árvores frondosas e tribos indígenas.
A proposta da AMZ, primeira e principal empresa de turismo da região, é estimular o turismo local em parceria com ONGs e, assim, propiciar o desenvolvimento socioeconômico dos ribeirinhos. Parte dos recursos vai para um fundo de apoio a essas comunidades. Entre passeios de ultraleve para sobrevoar a região, aulas de ioga e caipiroscas com frutas da região, os viajantes vivenciam o desapego: os barcos não têm ar-condicionado, não há acesso ao celular ou internet, os banhos são de rio e os geradores dos barcos são desligados à meia-noite.
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Veja o que já enviamosNa maior parte dos barcos, os turistas dormem em redes, e já pagam antecipadamente por alimentação e bebidas que estão incluídas na viagem ao longo de cinco a sete dias (dependendo do pacote). São peixes locais, açaí, farofa de mandioca. Todas as refeições são preparadas pela tripulação, que é formada por pessoas da região – uma forma de gerar emprego para os locais. Ao longo dos dias, as paradas nas praias e nas comunidades revelam aos olhos de fora o que a floresta esconde. É lá que se aprende como fazer a farinha, se conhece o urucum, a maniçoba, a produção de mel, e como se pesca o peixe.
Na comunidade Anã, por exemplo, o turista visita uma fazenda de peixes, que comporta fábrica de ração para abastecer tanques em que eles são criados. É um empreendimento mantido pelo Fundo Amazônia, administrado pelo BNDES, o que permitiu a comunidade aumentar a produção e abastecer escolas locais com peixe fresco, em vez de salsicha enlatada enviada pelo governo. Com o interesse do turista, a comunidade já construiu até um redário, e recebe viajantes ao longo de todo ano.
Quando os barcos da AMZ atracam, toda a comunidade – em especial as crianças – já se alvoroça para receber os visitantes que sempre levam livros, bolas e bambolês de presente. A brincadeira corre solta e se o cansaço bate, há sempre alguém disposto a mostrar mais riquezas escondidas, como um igarapé ao fundo da comunidade, com lama branca de propriedades medicinais, o melhor passeio para o primeiro do ano, já que lá, como aqui, a festa da virada não deixa de acontecer.
O carimbó, uma dança de roda de origem indígena, típica do litoral paraense, começa ao entardecer, com música ao vivo de grupos locais, e segue com show e depois DJs do eixo RJ/SP, que tocam em geral música brasileira até o amanhecer. Aos viajantes se juntam moradores da comunidade. A festa é de todos, para todos. E não há melhor maneira de sair do estresse e entrar no ano com, se for possível, dois pés direitos…
Ainda existe esse passeio de ano novo? Me ajuda a obter o contato, para eu fazer essa passagem do ano?