Que tal passar o réveillon com ribeirinhos, na Amazônia?

Reveillon na Amazônia. Foto de Kelly Lima

Turismo de final de ano leva viajantes numa jornada de barco, sem internet ou ar-condicionado

Por Kelly Lima | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 31 de dezembro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:41

Reveillon na Amazônia. Foto de Kelly Lima
Reveillon na Amazônia. Foto de Kelly Lima
Aulas de ioga a bordo ajudam os turistas no processo de relaxamento do estresse cotidiano. Foto de Davi Borato

Embaixo de uma mangueira, bancos de madeira, cangas no chão de areia, rostos pintados, pessoas de todas as idades e de vários lugares do Brasil. Todos estão atentos às histórias de uma senhora sexagenária, da comunidade de Urucurea, que conta detalhes sobre a produção da cestaria feita com palha de Tucumã. A palmeira, nativa da Amazônia, tem um enorme poder de regeneração. Um mês depois de retirada a folha, ela renasce – nada mais simbólico para reforçar a tradição de muitas culturas, que festejam a virada do ano como um renascimento. É 31 de dezembro de 2015 e faltam poucas horas para o ano acabar. O ritual de passagem ocorre à beira do Rio Arapiuns (Pará), um dos afluentes do Tapajós, bem longe dos tradicionais fogos de artifícios e flores jogadas ao mar para saudar Iemanjá.

É que há pelo menos sete anos, nesta época do ano, barcos de um, dois a três pavimentos partem de Alter do Chão, vila próxima de Santarém, levando turistas nacionais e estrangeiros para conhecer de perto as populações ribeirinhas, que vivem à beira dos rios da região Amazônica. A viagem é uma forma de mostrar o outro lado do Brasil, além daquele povoado por vitórias-régias, macacos, jacarés, grandes peixes, árvores frondosas e tribos indígenas.

A festa de Réveillon na Amazônia atrai turistas do país inteiro, inclusive o arquiteto paulista Marcelo Rosenbaum (de barba, atrás da criança). Foto de Raquel Brust

A proposta da AMZ, primeira e principal empresa de turismo da região, é estimular o turismo local em parceria com ONGs e, assim, propiciar o desenvolvimento socioeconômico dos ribeirinhos.  Parte dos recursos vai para um fundo de apoio a essas comunidades. Entre passeios de ultraleve para sobrevoar a região, aulas de ioga e caipiroscas com frutas da região, os viajantes vivenciam o desapego: os barcos não têm ar-condicionado, não há acesso ao celular ou internet, os banhos são de rio e os geradores dos barcos são desligados à meia-noite.

Os turistas dormem em redes nos barcos, que não têm ar-condicionado. Foto de Kelly Lima

Na maior parte dos barcos, os turistas dormem em redes, e já pagam antecipadamente por alimentação e bebidas que estão incluídas na viagem ao longo de cinco a sete dias (dependendo do pacote). São peixes locais, açaí, farofa de mandioca. Todas as refeições são preparadas pela tripulação, que é formada por pessoas da região – uma forma de gerar emprego para os locais. Ao longo dos dias, as paradas nas praias e nas comunidades revelam aos olhos de fora o que a floresta esconde. É lá que se aprende como fazer a farinha, se conhece o urucum, a maniçoba, a produção de mel, e como se pesca o peixe.

Bijuteria local. Foto de Kelly Lima

Na comunidade Anã, por exemplo, o turista visita uma fazenda de peixes, que comporta fábrica de ração para abastecer tanques em que eles são criados. É um empreendimento mantido pelo Fundo Amazônia, administrado pelo BNDES, o que permitiu a comunidade aumentar a produção e abastecer escolas locais com peixe fresco, em vez de salsicha enlatada enviada pelo governo. Com o interesse do turista, a comunidade já construiu até um redário, e recebe viajantes ao longo de todo ano.

Quando os barcos da AMZ atracam, toda a comunidade – em especial as crianças – já se alvoroça para receber os visitantes que sempre levam livros, bolas e bambolês de presente. A  brincadeira corre solta e se o cansaço bate, há sempre alguém disposto a mostrar mais riquezas escondidas, como um igarapé ao fundo da comunidade, com lama branca de propriedades medicinais, o melhor passeio para o primeiro do ano, já que lá, como aqui, a festa da virada não deixa de acontecer.

O banho do rio é sempre acompanhado por crianças da comunidade, que se divertem com a chegada dos turistas. Foto de Kelly Lima

O carimbó, uma dança de roda de origem indígena, típica do litoral paraense, começa ao entardecer, com música ao vivo de grupos locais, e segue com show e depois DJs do eixo RJ/SP, que tocam em geral música brasileira até o amanhecer. Aos viajantes se juntam moradores da comunidade. A festa é de todos, para todos. E não há melhor maneira de sair do estresse e entrar no ano com, se for possível, dois pés direitos…

DJs do eixo Rio-São Paulo animam a festa, que ainda tem ritmos tradicionais como o carimbó. Foto de Davi Borato
Kelly Lima

Kelly Lima é paulista, mas há 14 anos no Rio já se considera um pouco carioca. Formada em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), especializou-se em economia, atuando na cobertura da área de energia por mais de uma década na Agência Estado. Mais recentemente, trabalhou na área de desenvolvimento econômico e social do BNDES e do Governo do Estado do Rio. É sócia da Alter Comunicação, que produz conteúdo informativo para instituições e empresas, entre elas o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).

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