Bem-vindo ao Caminho

Só em julho, 45 mil pessoas farão a jornada de 900 km até Santiago de Compostela

Por Giovanni Faria | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 12 de julho de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:47

Peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, uma longa jornada de quase 900 quilômetros
Peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, uma longa e prazerosa jornada
Peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, uma longa e prazerosa jornada

“A partir de agora, você não é mais uma turista. Você é peregrina. Enquanto o primeiro exige, o segundo agradece. Buen Camino!”

Com estas palavras, o voluntário francês Hermann carimba o passaporte de peregrino da finlandesa Linda. Começa, na bela e medieval cidade de San Jean Pie de Port, a caminhada de uma das mais de 45 mil pessoas que devem fazer neste mês de julho o trajeto até a cidade de Santiago de Compostela, na região da Galícia, na Espanha.

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Na babel de pessoas na estrada, os espanhóis são maioria, seguidos por italianos, alemães, americanos, portugueses e franceses. O Brasil aparece em décimo lugar: 780 peregrinos em junho. O inglês é a língua mais falada, à frente do “peregrinês” – uma sucessão de gestos que todo mundo entende.

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São cerca de 900 quilômetros, feitos a pé pela maioria das pessoas – outras fazem de bicicleta e a cavalo. No mês de junho, 40 mil fizeram o caminho – inteiro ou em parte. Para receber em Santiago um diploma, em latim, chamado Compostelana, o peregrino deve percorrer ao menos cem quilômetros a pé. Isso pode ser comprovado com os carimbos que recebe na credencial, cada vez que se hospeda num albergue.

Há vários caminhos, mas o mais popular é o francês. A decisão do Papa Francisco de atribuir a 2016 a marca de Ano Santo da Misericórdia ajuda ainda mais a popularizar uma travessia que teve seu auge no século XII – de todas as partes afluíam pessoas para a cidade que guardava o túmulo de Santiago, chamado O Maior, primeiro apóstolo de Cristo a sofrer o martírio, decapitado pelo rei Herodes Agripa, em Jerusalém, no ano 44.

O Caminho ganhou notoriedade no Brasil via Paulo Coelho, com o livro “Diário de um mago”, há 30 anos. Hoje, há diversas associações no país que estimulam a peregrinação.

Marcas do Caminho: a seta que orienta, a bota que não serve mais

Na babel de pessoas na estrada, os espanhóis são maioria, seguidos por italianos, alemães, americanos, portugueses e franceses. O Brasil aparece em décimo lugar: 780 peregrinos em junho. O inglês é a língua mais falada, à frente do “peregrinês” – uma sucessão de gestos que todo mundo entende.

Embora longo e pesado, mas agradável e prazeroso, o Caminho é mais difícil exatamente no primeiro dia: a travessia dos Pirineus se estende por 28 quilômetros, até a cidade de Roncesvalles, exigindo do peregrino muito mais do que força física.
A paisagem compensa, claro. Mas sair de 200 metros acima do nível do mar em San Jean e atingir 1.430 metros na fronteira da França com a Espanha exige precaução. Há apenas uma fonte de água. E dois oásis: no oitavo quilômetro, o Refúgio Orisson, última parada francesa para saborear croissants e queijos maravilhosos.
Sete quilômetros à frente – e acima – a chance final está na van de Michel, “francês e basco, com orgulho”, diz. Estacionado à beira do caminho, vende água, banana e ovo cozido, a 1 euro a unidade. “Amigo” de cada peregrino-cliente, pergunta a nacionalidade de todos para mostrar uma de suas habilidades: dizer obrigado em 30 idiomas.

Bem-vindo ao Caminho. Nas próximas paradas, você vai conhecer um pouco mais dessa tradição milenar que já foi unicamente religiosa, mas hoje mistura história, cultura, espiritualidade e, claro, muita atividade física. No Caminho, são infinitas as experiências de compartilhamento entre pessoas que jamais se viram, mas se encontraram no acaso de uma estrada. Viaje nessa aventura. E, quem sabe, já comece a pensar em encomendar botas, bastões e mochila. Buen Camino!, e até sexta-feira.

Giovanni Faria

É jornalista e trabalhou por 33 anos no jornal O Globo e nas rádios CBN e Globo. É professor da PUC-Rio e da Facha. Também é formado em Direito. Desde que levou um "susto" no coração há quatro anos, adotou a caminhada como atividade diária. Nasceu em Friburgo, mora em Niterói, vive em Búzios, mas desde 2014 não tira o Caminho de Santiago de Compostela da cabeça nem dos pés. A mulher, Christiane, e o filho Thomás já cruzaram a Espanha a pé também - agora só faltam as filhas Victória e Catarina.

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6 comentários “Bem-vindo ao Caminho

  1. Cristina Valentim disse:

    Fiz o Caminho em Junho e ele não saiu de mim. Também senti a alegria de chegar com a tristeza de terminar.
    Pensei em voltar a rota.
    Desejo um excelente caminho.

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