Centenas de trabalhadores humildes entraram pela primeira vez em um estúdio para tirar uma foto para a carteira de trabalho. O ano era 1943, e Getúlio Vargas acabara de promulgar a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). O Ministério do Trabalho, que agora será extinto segundo anunciou o presidente eleito Jair Bolsonaro, foi criado um pouco antes, em 1930, também por Getúlio. Natural da Diamantina de Juscelino Kubistchek, o fotógrafo mineiro Assis Horta foi responsável pelo registro fotográfico de diversos trabalhadores que precisavam de um retrato 3×4. As mulheres chegavam, em sua maioria, bem arrumadas. Para os mais desprevenidos, Horta deixava algumas peças de roupa separadas para empréstimo. O sucesso foi tão grande que famílias inteiras se dirigiam a seu estúdio para se serem fotografadas.
[g1_quote author_name=”Guilherme Horta” author_description=”Curador da exposição” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face
[/g1_quote]Com curadoria de Guilherme Horta, que apesar do sobrenome não possui parentesco com seu Assis, o Rio ganhou, no ano passado, uma exposição do fotógrafo mineiro, no Espaço Cultural BNDES, no Centro. A mostra “Assis Horta: Retratos”, contou com mais de 200 fotografias, todas em preto e branco, divididas em três módulos. No primeiro, representado pelo decreto lei que instituiu o uso da Carteira de Trabalho (CTPS), o público foi apresentado aos primeiros retratos 3×4 com data. Em seguida, o visitante encontrou um confronto entre a fotografia de identidade civil e o retrato como gênero artístico. Por fim, na terceira parte, foram apresentadas imagens dos trabalhadores no estúdio fotográfico de Assis Horta.
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Veja o que já enviamos“A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face”, destaca Guilherme.
Em 2013, o diretor mineiro Alexandre Baxter realizou o curta Assis Horta: O Guardião da Memória, com a história do fotógrafo e sua relação com a comunidade de Diamantina.
“Ver que as pessoas que ainda não conheciam sua obra estão tendo acesso a este material é muito bonito”, avalia Alexandre.
Horta manteve seu estúdio em Diamantina entre as décadas de 1930 e 1970. Seus registros, todos feitos em chapas de vidro, são uma verdadeira radiografia da sociedade mineira da época.
Abaixo, uma galeria com algumas imagens da exposição.