Orgulho estampado nas primeiras carteiras de trabalho

Fotos 3x4 mostram operários na época da criação da CLT

Por Angélica Paulo | ODS 9 • Publicada em 13 de abril de 2017 - 18:04 • Atualizada em 9 de novembro de 2018 - 00:10

Cliques para a primeira carteira de trabalho: exposição no BNDES do Rio. Foto de Assis Horta/Pesquisa de Guilherme Horta
Cliques para a primeira carteira de trabalho: exposição no BNDES do Rio. Foto de Assis Horta/Pesquisa de Guilherme Horta

Centenas de trabalhadores humildes entraram pela primeira vez em um estúdio para tirar uma foto para a carteira de trabalho. O ano era 1943, e Getúlio Vargas acabara de promulgar a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). O Ministério do Trabalho, que agora será extinto segundo anunciou o presidente eleito Jair Bolsonaro, foi criado um pouco antes, em 1930, também por Getúlio. Natural da Diamantina de Juscelino Kubistchek, o fotógrafo mineiro Assis Horta foi responsável pelo registro fotográfico de diversos trabalhadores que precisavam de um retrato 3×4. As mulheres chegavam, em sua maioria, bem arrumadas. Para os mais desprevenidos, Horta deixava algumas peças de roupa separadas para empréstimo. O sucesso foi tão grande que famílias inteiras se dirigiam a seu estúdio para se serem fotografadas.

[g1_quote author_name=”Guilherme Horta” author_description=”Curador da exposição” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face

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Com curadoria de Guilherme Horta, que apesar do sobrenome não possui parentesco com seu Assis, o Rio ganhou, no ano passado, uma exposição do fotógrafo mineiro, no Espaço Cultural BNDES, no Centro. A mostra “Assis Horta: Retratos”, contou com mais de 200 fotografias, todas em preto e branco, divididas em três módulos. No primeiro, representado pelo decreto lei que instituiu o uso da Carteira de Trabalho (CTPS), o público foi apresentado aos primeiros retratos 3×4 com data. Em seguida, o visitante encontrou um confronto entre a fotografia de identidade civil e o retrato como gênero artístico. Por fim, na terceira parte, foram apresentadas imagens dos trabalhadores no estúdio fotográfico de Assis Horta.

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Primeiro trabalhador fotografado para a capa de uma revista. Foto de Assis Horta / Pesquisa e curadoria: Guilherme Horta

“A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face”, destaca Guilherme.

Em 2013, o diretor mineiro Alexandre Baxter realizou o curta Assis Horta: O Guardião da Memória, com a história do fotógrafo e sua relação com a comunidade de Diamantina.

“Ver que as pessoas que ainda não conheciam sua obra estão tendo acesso a este material é muito bonito”, avalia Alexandre.

Horta manteve seu estúdio em Diamantina entre as décadas de 1930 e 1970. Seus registros, todos feitos em chapas de vidro, são uma verdadeira radiografia da sociedade mineira da época.

Abaixo, uma galeria com algumas imagens da exposição.

 

Angélica Paulo

Jornalista, formada pela Faculdade da Cidade, passou pelas redações dos jornais do Brasil, O Dia e do site G1. Trabalhou como assessora de Imprensa na Secretaria de Turismo da Prefeitura do Rio e como gerente de conteúdo na agência CasaDigital e na FSB Assessoria

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