O canto da natureza sem fronteiras

Iara e o menino-índio Iporongaba, dois personagens da peça de João Guilherme Ripper

Compositor carioca leva a Portugal sua ópera “Onheama”, que cria uma Amazônia mítica para crianças e adolescentes

Por Marcus Veras | ODS 9 • Publicada em 13 de abril de 2016 - 08:00 • Atualizada em 13 de abril de 2016 - 13:47

Iara e o menino-índio Iporongaba, dois personagens da peça de João Guilherme Ripper
Iara e o menino-índio Iporongaba, dois personagens da peça de João Guilherme Ripper
Iara e o menino-índio Iporongaba, dois personagens da peça de João Guilherme Ripper

Um festival de arte que valoriza os recursos naturais, a preservação do meio ambiente, a proteção à biodiversidade. Um compositor que encontrou na Amazônia a inspiração para uma ópera voltada às crianças e aos adolescentes. Essas duas trajetórias vão se encontrar em maio na cidade de Beja, Portugal. Fundado em 2003, o Festival Terras Sem Sombra é itinerante, percorre diversas comunidades portuguesas levando sua mensagem cultural e ecológica. João Guilherme Ripper, compositor carioca convidado para encenar “Onheama”, sua ópera em três atos, em 21 de maio, saiu de sua zona de conforto para criar uma obra que é ao mesmo tempo regional e universal.

“No início de 2013, o maestro Luiz Fernando Malheiro, diretor artístico do Festival Amazonas de Ópera, e Robério Braga, secretário de Cultura do Amazonas e diretor geral do festival, encomendaram-me uma ópera infantojuvenil sobre tema amazônico para celebrar a 18ª edição do evento”, relembra Ripper. “Como referência, enviaram o poema “A infância de um guerreiro” de Max Carphentier, escritor que vive em Manaus. O poema conta a história do menino-índio Iporangaba, um herói telúrico totalmente integrado à floresta, amigo dos bichos e das plantas. A partir disso, criei o libreto da ópera “Onheama” (“eclipse” em Tupi), onde Iporangaba vai resgatar Guaraci, o Sol, da barriga de Xivi, a grande Onça Celeste, e salvar a floresta”.

A peça “Onheama”, exibida pela primeira vez, em maio de 2014, no Teatro Amazonas

Juan Ángel Vella Del Campo, diretor artístico do Festival Terras sem Sombra, estava na plateia para a estreia no Teatro Amazonas, em maio de 2014, e em 2015 oficializou o convite. Ripper espera que o espetáculo mexa com o imaginário do público presente, “porque conhecerão uma Amazônia diferente, povoada de personagens míticos, como Guaraci, Iara, Boto, Xivi, a Onça Celeste e Jaci”.

É interessante notar que Manaus, no coração da floresta, tornou-se um polo difusor da ópera. “O Festival Amazonas de Ópera é inovador em sua programação. O potencial de atração de turistas brasileiros e estrangeiros é grande, lá eu conheci pessoas que vieram visitar a floresta amazônica e participar do Festival. Nesse aspecto, há uma evidente convergência entre o Festival Amazonas de Ópera e o Festival Terras Sem Sombra”, avalia Ripper.

O Terras Sem Sombra, em 2016, como sempre, atuará em oito regiões portuguesas, e a contrapartida à apresentação da ópera é uma expedição ao Parque Natural do Vale do Guadiana, com duas metas: interpretação geomorfológica do local e a busca de vestígios milenares da presença humana gravados na rocha e crustáceos contemporâneos dos dinossauros.

“Onheama” é ambientada numa Amazônia mítica e, para Ripper, “foi mais importante construir esse universo imaginário de forma poética e coerente do que tentar retratar fielmente a região, caindo na categoria do que eu chamo de ‘ópera-documentário’. Só conheci o boto-cor-de-rosa, um dos personagens de “Onheama”, num passeio que fiz no Rio Amazonas no dia da estreia. Ele apareceu de repente e seguiu o barco durante um longo tempo. Pensei: “hoje à noite vai dar tudo certo!” Deu mesmo.

 “Onheama” será encenada no Teatro Municipal de Serpa no dia 21 de maio com artistas do Teatro Nacional São Carlos, de Lisboa e Direção Cênica do argentino Claudio Hochman. O Maestro Marcelo de Jesus, da Amazonas Filarmônica, será o regente-convidado da Orquestra Sinfônica Portuguesa.

Marcus Veras

É jornalista, roteirista e escritor. Colaborou em vários jornais da imprensa alternativa durante os anos de chumbo. Esteve nas redações de revistas da Editora Bloch, do Jornal do Brasil e da TV Globo (RJTV e Globo Ciência). Foi diretor de um dos programas pioneiros em ecologia na TV brasileira, “Baleia Verde” (Intervideo/TVE), entre 1988 e 1990. Como fotógrafo, atuou nas campanhas de Fernando Gabeira em 2008 e 2010. Tem dois livros publicados (A Cidade Arde, contos e Qualquer Maneira de Amar, romance). “Colaboro com o #Colabora porque não existe outra forma der ajudar o planeta a sair da encrenca em que se meteu”.

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