A luta para ser ouvida

Atriz com deficiência auditiva severa busca espaço para apresentar o seu trabalho

Por Paulo Gramado | ODS 9 • Publicada em 10 de abril de 2016 - 08:00 • Atualizada em 11 de abril de 2016 - 12:38

Apesar da deficiência, Maria Otávia consegue conversar com facilidade, se vira muito bem para escutar com os aparelhos que usa e tem grande habilidade que possui em leitura labial,
Apesar da deficiência, Maria Otávia consegue conversar com facilidade, se vira bem para escutar com os aparelhos que usa e possui muita habilidade para fazer leitura labial
Apesar da deficiência, Maria Otávia consegue conversar com facilidade, se vira bem para escutar com os aparelhos que usa e possui muita habilidade para fazer leitura labial

A história da catarinense Maria Otávia Cordazzo, de 26 anos, poderia ser a mesma da de milhares de outras conterrâneas dela – incluindo a de Vera Fischer, que também nasceu em Blumenau: jovem atriz, de rostinho bonito, que se muda de mala e cuia para o Rio de Janeiro para se afirmar na profissão, preferencialmente na TV. Só que não… Maria Otávia, que já atuou no cinema, no teatro e fez algumas pequenas pontas em programas da Globo, luta não só para decolar na carreira de atriz, mas contra uma dificuldade que pode levá-la a ser uma pioneira na televisão brasileira. E por um motivo muito peculiar: ela é surda.

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Quero fazer de tudo neste universo, peças e filmes também. Tenho condições. Não é só por mim. Penso nas outras pessoas que têm algum tipo de deficiência e precisam mostrar que são capazes. Tudo é possível.

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Apesar de ser portadora de uma deficiência auditiva severa, Maria Otávia, no entanto, tem uma característica rara: consegue conversar com facilidade. Além de falar, se vira muito bem para escutar com os aparelhos que usa e com a grande habilidade que possui em leitura labial, conseguindo ‘ouvir/ver’ o que as pessoas estão falando. Inclusive, reúne histórias curiosas, como quando flagrou, do outro lado da rua, um grupo de amigas fazendo fofocas sobre ela a bons metros de distância.

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Um exemplo de como é possível conciliar a surdez com carreira de atriz é a americana Marlee Martin, que ganhou o Oscar de melhor atriz pelo papel no filme “Filhos do silêncio”, em 1987 (veja o vídeo da premiação no final do texto). Ressalte-se que Maria Otávia fala com desenvoltura, o que é praticamente um milagre, já que em geral quem não escuta não consegue conversar e emite mais ruídos desconexos do que pronuncia palavras corretamente, como é o caso dela. Aliás, superar desafios é com Tata mesmo, como é conhecida a jovem atriz, que nasceu prematura, após 5 meses e meio de gestação, com 870 gramas e 26 cm (para efeito de comparação, ela lembraa que uma boneca Barbie mede 30cm).

Tata, como é conhecida, ficou quatro meses internada no hospital e teve quatro pneumonias. O tratamento acabou provocando a surdez

– Depois do parto, como toda criança perde peso, cheguei a 780 gramas. Fiquei quatro meses internada no hospital, tive quatro pneumonias, os médicos não davam muitas esperanças para a família. Foi um drama. Tive que ser transferida para Florianópolis para um hospital com uma estrutura mais ampla do que em Blumenau – conta Tata.

Mas a menina vingou. Por ter passado por um tratamento intensivo, tomando remédios pesados, acabou com sequelas na audição. Nada que a impedisse de continuar encarando a vida de frente e buscando realizar os sonhos. Determinada a ser atriz, para se aperfeiçoar, Maria Otávia Cordazzo faz vários cursos. Em São Paulo, estudou na Escola de Atores Wolf Maya, no ano de 2012 e fez o Take a Take, considerado um dos mais qualificados na formação de atores. O início do processo foi em um curso de artes cênicas em Itajaí (SC). Veio para o Rio de Janeiro no meio do ano passado. Fez alguns meses de aulas na CAL, mas trancou. Atualmente faz um curso de interpretação para televisão na Hebraica, também em Laranjeiras.

Tem no currículo o curta-metragem “A espera”, de Ricardo Zanon, em que viveu a protagonista e fez parte do elenco do longa “O livro de conto”, que foi exibido em cinemas de Balneário Camboriú, onde ela morou. Com um grupo de teatro do Sul, participou de peças como “Eu ainda estou aqui”, de Johnny Fox, que passou pelo Festival de Curitiba, além de outras montagens, como “A descoberta”, “Paixão de Cristo” e “Querem roubar o Natal”, incluindo espetáculos infantis. Na TV, seu objetivo maior no momento, fez figuração em programas como Malhação e Pé na Cova.

– Sou atriz, adoro o que faço, mas quero me estabelecer profissionalmente. Nos cursos, já ouvi algumas vezes que tenho mais vocação para a televisão. Mas quero fazer de tudo neste universo, peças e filmes também. Tenho condições. Não é só por mim. Penso nas outras pessoas que têm algum tipo de deficiência e precisam mostrar que são capazes. Tudo é possível. Estou nesta batalha há 5 anos. Uma atriz surda ganhar um Oscar é de um grande simbolismo para os portadores de deficiência auditiva – comenta Maria Otávia.

Ela relembra um episódio da TV brasileira que a marcou bastante. Foi quando viu o personagem Cabeção, em Malhação, na TV Globo, que vivia o papel de um rapaz com um nível de surdez. Ficou empolgada, achando que o ator era portador de deficiência. E logo depois frustrada, ao descobrir que o ator Sérgio Hondjakoff não era surdo de verdade. “Isto me deu mais força para buscar um espaço na televisão e mostrar do que somos capazes”, acrescenta Tata.

Maria Otávia faz fonoaudiologia regularmente desde os 4 anos de idade, quando a deficiência foi realmente identificada. Até então, como conseguia falar daquela maneira das crianças, a questão era sempre aceita. Hoje, algumas poucas sílabas são pronunciadas de forma diferente. Por conta disso, ocasionalmente, é confundida com ‘gringa’. “Algumas pessoas perguntam se nasci em outro país. Explico a realidade. Isso não me causa nenhum problema. No dia a dia, sou uma pessoa reservada. Gosto mais de ouvir do que de falar, apesar de ser surda…”, brinca.

Tata já fez balé clássico, jazz, entre outras modalidades de dança, para se manter em forma e cuidar da imagem. Sabe que na televisão isso tem lá sua importância. Gosta de ir ao cinema (preferencialmente filme legendado), ao teatro (nas filas da frente) e ver programas de TV. Mas busca o direito de estar no palco ou no outro lado da tela, mostrando a capacidade dos portadores de deficiência.

Paulo Gramado

Carioca, jornalista, trabalhou nas redações dos jornais O Globo, Folha de S.Paulo, O Dia e Jornal do Brasil. Em Comunicação Corporativa, atuou como coordenador na Fundação Roberto Marinho e gerente de imprensa do Sesc Rio. Pós-graduado em Comunicação Empresarial, adora contar a história de pessoas que colaboram para a construção de uma sociedade mais harmônica e propositiva.

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26 comentários “A luta para ser ouvida

    • Paulo Gramado disse:

      Ricardo, você é personagem importante nesta batalha da Tata. Parabéns pela sua dedicação ao trabalho e a forma de encarar o jornalismo. Obrigado.

      • Sílvia busnardo disse:

        Ela é maravilhosa e sei que é capaz,guerreira e importante abordarem esse assunto,pois nunca teve uma novela com alguém com dificuldade parece preconceito e ela ouve bem e fala bem.

  1. Laura Cristina Peixoto Chaves disse:

    Tata é uma guerreira. Uma pessoa completa e talentosa. Torço muito por ela e sei que ela vai atingir seus objetivos.

  2. Suélen de Macedo disse:

    Realmente ela é uma guerreira! Minha amiga de infância, que tenho um imenso orgulho! Tenho certeza que com sua força de vontade e garra irá conquistar seu lugar nesse universo que tanto ama!!! Essa reportagem descreveu de uma forma maravilhosa a história dessa mulher linda, guerreira e talentosa!!!! Sucesso minha grande amiga, você vai longe
    !!!

  3. soeli Tomasi disse:

    Conheço Maria Otavia desde pequena uma linda menina que se tornou uma linda mulher, guerreira e que merece realizar seus sonhos, porque é através deste sonho que ela luta para ser ouvida e com certeza vai conseguir, porque sempre foi determinada em todos os seus desafios. Sucesso é o que te desejo de coração.

  4. Alline Angeli disse:

    Uma linda história de superação, fé e amor! Maria Otávia além de ter recebido o dom de atuar maravilhosamente bem, recebeu também a missão acabar com o “pré-conceito”,de que sua deficiência ou de qualquer outra pessoa, impeça de chegar onde sempre sonharam! Um belo exemplo de determinação e fé!!!
    Que Deus continue te abençoando! Sucesso minha querida!

    • Paulo Gramado disse:

      Aline, você tem participação direta no desenvolvimento desta pauta. Teve a grandeza de indicar a amiga, embora tenha sido abordada primeiro lá na CAL – quando surgiu a ideia de fazer uma matéria sobre os ‘estrangeiros’ que para o Rio para tentar a sorte como ator por aqui…. Parabéns pela generosidade. Obrigado.

  5. Tati Cassias disse:

    Uma palavra descreve muito do que ela é; guerreira!
    Essa menina linda tem uma força invejável que poucos têm. A admiro imensamente como pessoa e como profissional que ela é.

  6. Fábio Henrique da Costa Belleli disse:

    Sempre foi uma menina super educada e humilde, exemplo que herdou dos pais e da avó! Tenho certeza que essa oportunidade que tanto busca é questão de tempo…

  7. Greyce Adriane Konell de Souza disse:

    Conheço a Tata desde pequena, nossos pais trabalhavam no mesmo ramo e muitas vezes eu fiquei com ela na fase em que estavam descobrindo sua deficiência e ela era uma menina doce e meiga mas incompreendida e agora eu fico orgulhosa dela ter se tornado esta mulher forte e guerreira lutando por seu espaço. Parabéns Tata que Deus abençoe seus caminhos

  8. Rafael Fontes disse:

    Legal a história da Maria Otávia. Não sabia a respeito da audição. Sou surdo unilateral e, embora não pareça, às vezes esbarramos com várias dificuldades. Mesmo assim, não podemos desanimar. A trajetória dela mostra que nenhuma limitação deve impedir alguém de ir atrás de um sonho. Tenho certeza de que com sua força de vontade aparecerão boas oportunidades e logo terá um merecido reconhecimento do seu talento. Desejo sucesso!

  9. Caroline Martins Rosa de Carvalho disse:

    Conheci a Tata depois de alguns meses morando no Rio e ela é uma menina-mulher sensacional. Acho que sua forma de vida e sua demonstração de “batalha” serve de exemplo para todos nós…. É uma garota linda por dentro e por fora…. Este é o motivo que a torna realmente especial…

  10. Simone Fontes Bueno disse:

    Oi querida, realmente nossa batalha é ardua. Sei o quanto e difícil pois temos o mesmo problema, mas com desenvoltura conseguimos nos superar. Torço por ti. Grande bjo.
    Simone Fontes Bueno

  11. Michele disse:

    Além de linda é talentosa, uma fofa, querida, que Deus abençoe seus projetos, com certeza fará uma carreira brilhante, estamos torcendo pra você. ..

  12. Andressa Passos disse:

    Linda, talentosa, esforçada, merece todo reconhecimento . Logo estará nas principais novelas, que Deus abençoe pois só quem sonha consegue alcançar.

  13. Eliane disse:

    Maravilhosa e abençoada ,tenho certeza que vai conquistar o seu espaço, Tata tem talento, luz,e muita força de vontade!!! Te amooo loirinha linda #sucesso.

  14. Sílvia Carmen Flores dos Santos disse:

    Tatá, além de guerreira VC é muito talentosa.
    Estarei sempre torcendo por vc. Reportagem belíssima. Parabéns!

  15. Lucineia Aparecida Branco Ghisi disse:

    A Tata é uma guerreira a conheço desde os 6 anos por estudar junto de minha sobrinha. Sempre alegre, feliz de bem com a vida.
    Sempre rodeada de amigos.
    Apoio ela sempre é tenho o maior orgulho de dizer que a conheço bem.
    Vá a luta nunca desista de seus sonhos criança, menina mulher.
    Vc é e sempre será um orgulho da nossa cidade.
    Parabéns pelas conquistas e que ainda vai ser muitas a ser conquistadas. Vc vai longe garota. Força fé e perseverança Sempre. Bjs no coração.

  16. Simoni romao disse:

    Amiguinha de pequena, lembro-me de quando a mãe de TaTa escondia as cestas de Páscoa e tínhamos que achar, pois o coelhinho as teria escondido…rsrsrs…. tempo bom…..

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