Espanha clama por diálogo

Em Zaragoza, Francisca segura o cartaz com a inscrição: “Na minha cidade não cabe o ódio”. Foto: Rosane Marinho

Milhares de espanhóis vestem-se de branco e vão às ruas pedindo que os políticos façam o seu trabalho

Por Rosane Marinho | ODS 8 • Publicada em 7 de outubro de 2017 - 16:03 • Atualizada em 7 de outubro de 2017 - 16:05

Em Zaragoza, Francisca segura o cartaz com a inscrição: “Na minha cidade não cabe o ódio”. Foto: Rosane Marinho
Em Zaragoza, Francisca segura o cartaz com a inscrição: "Na minha cidade não cabe o ódio". Foto: Rosane Marinho
Em Zaragoza, Francisca segura o cartaz com a inscrição: “Na minha cidade não cabe o ódio”. Foto: Rosane Marinho

Na manhã de sábado, milhares de espanhóis se vestiram de branco e ocuparam as praças diante das prefeituras de quase todas as capitais do país. A campanha “Hablamos?/Parlem?” (falamos em espanhol e catalão), nascida nas redes sociais na última semana, pede diálogo entre o governo da Espanha e o governo da Catalunha no meio do confronto pela independência desta região. “Queremos que os políticos façam política, que conversem e, se não podem, que deixem o lugar para alguém que possa” – disse a engenheira Irene López, ao lado do também engenheiro Miguel Escolano, na manifestação na frente da prefeitura de Zaragoza.

[g1_quote author_name=”Rosa Mora Infante” author_description=”Manifestante” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

Quero que estes políticos falem entre eles. Somos todos espanhóis. Se querem um referendum, que seja de comum acordo e legal. Estamos tristes com tudo que está passando

[/g1_quote]

Por trás do slogan “Um País Melhor que Seus Governantes” e de toda a campanha “Hablamos?” está o estudante de pós-graduação em Sociologia Guillermo Fernandez e seu grupo de amigos da Universidade Complutense de Madri. Estarrecidos com as imagens da violência policial durante a votação do referendum pela independência da Catalunha e com as demonstrações de nacionalismo radical, eles criaram uma página nas redes sociais pedindo a volta do diálogo. Sem saber, outro grupo de amigos, também estudantes de pós-graduação em Economia, mas da Universidade Autônoma de Barcelona, como Cristina Madrid López, também tiveram a mesma ideia. Criaram a página Hablemos/Parlem na última quarta. Os dois grupos se uniram e em três dias juntaram cerca de 22 mil seguidores.

Ana Mora Infante e seu cachorro Lobo protestam contra a falta de diálogo. Foto: Rosane Marinho

A manifestação foi convocada para este sábado, 7 de outubro, pedindo que todos fossem com roupas brancas, que levassem cartazes em branco e, principalmente, bandeiras brancas. Nesta última semana, a Espanha vive uma guerra de bandeiras. Enquanto os catalães renegam a bandeira espanhola, com várias prefeituras desta região arrancando este símbolo dos mastros de suas cidades, no resto do país ocorre o contrário. Muitos espanhóis passaram a exibir orgulhosamente sua bandeira nas janelas e varandas, polarizando cada vez mais o conflito.

Carles Puigdemont, governador da Catalunha, comparecerá ao parlamento local na próxima terça-feira e ameaça declarar a independência unilateralmente, a chamada DUI. Neste caso, o governo central também faz suas ameaças: aplicaria o decreto 155, eliminando a autonomia desta região, que passaria a ser governada por Madri. O que provavelmente acirraria o conflito, com mais manifestações nas ruas e mais uso da força policial.

Por enquanto, tudo não passa de ameaça. A falta de apoio internacional em caso de uma independência unilateral por parte de Catalunha e a fuga de bancos e empresas da região, como o Banco Sabadel e a multinacional Gás Natural, que estão levando suas sedes para regiões vizinhas e também para Madri, parece estar freando e dividindo o governo catalão.

Mesmo assim, a fratura social é visível. Famílias separadas por suas opiniões, vizinhos se insultando nas ruas, crianças sofrendo bulling de professores por serem filhos de policias, filas gigantes nos bancos de cidades que fazem fronteira com a Catalunha, com cidadãos catalães levando seu dinheiro para fora da região. Tudo isto vivido em uma semana que parecia não ter fim.

Os engenheiros Irene López y Miguel Escolano pedem que os políticos façam os seus trabalhos. Foto: Rosane Marinho

Por isto, Rosa Mora Infante, em sua cadeira de rodas e acompanhada do seu cachorro Lobo, fez questão de comparecer a manifestação de Zaragoza. “Quero que estes políticos falem entre eles. Somos todos espanhóis. Se querem um referendum, que seja de comum acordo e legal. Estamos tristes com tudo que está passando” – afirmou.

As manifestações com maior participação foram justamente as de Madri e Barcelona, que contou com a presença da prefeita Ada Colau. Milhares de pessoas se juntaram, sem bandeiras de partidos políticos ou de países. Paz para acalmar os ânimos em um país à beira de um ataque de nervos.

Rosane Marinho

É jornalista, carioca, e há dez anos vive em Zaragoza, na Espanha. No Rio, trabalhou como fotógrafa na sucursal da Folha de S. Paulo e no Jornal do Brasil. Foi correspondente d'O Globo no Recife. Na Espanha, é professora de fotografia digital e trabalha como jornalista freelance. Casada, é mãe de dois pequenos hispano-brasileiros.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe:

Sair da versão mobile