Na manhã de sábado, milhares de espanhóis se vestiram de branco e ocuparam as praças diante das prefeituras de quase todas as capitais do país. A campanha “Hablamos?/Parlem?” (falamos em espanhol e catalão), nascida nas redes sociais na última semana, pede diálogo entre o governo da Espanha e o governo da Catalunha no meio do confronto pela independência desta região. “Queremos que os políticos façam política, que conversem e, se não podem, que deixem o lugar para alguém que possa” – disse a engenheira Irene López, ao lado do também engenheiro Miguel Escolano, na manifestação na frente da prefeitura de Zaragoza.
[g1_quote author_name=”Rosa Mora Infante” author_description=”Manifestante” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Quero que estes políticos falem entre eles. Somos todos espanhóis. Se querem um referendum, que seja de comum acordo e legal. Estamos tristes com tudo que está passando
[/g1_quote]Por trás do slogan “Um País Melhor que Seus Governantes” e de toda a campanha “Hablamos?” está o estudante de pós-graduação em Sociologia Guillermo Fernandez e seu grupo de amigos da Universidade Complutense de Madri. Estarrecidos com as imagens da violência policial durante a votação do referendum pela independência da Catalunha e com as demonstrações de nacionalismo radical, eles criaram uma página nas redes sociais pedindo a volta do diálogo. Sem saber, outro grupo de amigos, também estudantes de pós-graduação em Economia, mas da Universidade Autônoma de Barcelona, como Cristina Madrid López, também tiveram a mesma ideia. Criaram a página Hablemos/Parlem na última quarta. Os dois grupos se uniram e em três dias juntaram cerca de 22 mil seguidores.
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Veja o que já enviamosA manifestação foi convocada para este sábado, 7 de outubro, pedindo que todos fossem com roupas brancas, que levassem cartazes em branco e, principalmente, bandeiras brancas. Nesta última semana, a Espanha vive uma guerra de bandeiras. Enquanto os catalães renegam a bandeira espanhola, com várias prefeituras desta região arrancando este símbolo dos mastros de suas cidades, no resto do país ocorre o contrário. Muitos espanhóis passaram a exibir orgulhosamente sua bandeira nas janelas e varandas, polarizando cada vez mais o conflito.
Carles Puigdemont, governador da Catalunha, comparecerá ao parlamento local na próxima terça-feira e ameaça declarar a independência unilateralmente, a chamada DUI. Neste caso, o governo central também faz suas ameaças: aplicaria o decreto 155, eliminando a autonomia desta região, que passaria a ser governada por Madri. O que provavelmente acirraria o conflito, com mais manifestações nas ruas e mais uso da força policial.
Por enquanto, tudo não passa de ameaça. A falta de apoio internacional em caso de uma independência unilateral por parte de Catalunha e a fuga de bancos e empresas da região, como o Banco Sabadel e a multinacional Gás Natural, que estão levando suas sedes para regiões vizinhas e também para Madri, parece estar freando e dividindo o governo catalão.
Mesmo assim, a fratura social é visível. Famílias separadas por suas opiniões, vizinhos se insultando nas ruas, crianças sofrendo bulling de professores por serem filhos de policias, filas gigantes nos bancos de cidades que fazem fronteira com a Catalunha, com cidadãos catalães levando seu dinheiro para fora da região. Tudo isto vivido em uma semana que parecia não ter fim.
Por isto, Rosa Mora Infante, em sua cadeira de rodas e acompanhada do seu cachorro Lobo, fez questão de comparecer a manifestação de Zaragoza. “Quero que estes políticos falem entre eles. Somos todos espanhóis. Se querem um referendum, que seja de comum acordo e legal. Estamos tristes com tudo que está passando” – afirmou.
As manifestações com maior participação foram justamente as de Madri e Barcelona, que contou com a presença da prefeita Ada Colau. Milhares de pessoas se juntaram, sem bandeiras de partidos políticos ou de países. Paz para acalmar os ânimos em um país à beira de um ataque de nervos.