Uma cientista portuguesa está no centro de uma descoberta buscada por pesquisadores há duas décadas e que pode contribuir para um planeta mais sustentável. Professora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a física Helena Braga encontrou a chave para multiplicar a capacidade de armazenamento de baterias recarregáveis, tornando possível que até mesmo energias renováveis sejam acumuladas.
A importância da pesquisa é tanta que Helena foi convidada a trabalhar na equipe de John Goodenough, na Universidade do Texas, ele mesmo um dos criadores da bateria de lítio, na década de 1980. E o pesquisador, de 94 anos, condecorado pelo presidente Barack Obama com a Medalha Nacional da Ciência, até voltou a ser cotado para o Nobel de Química por conta de mais esses avanços. “Falar dele não é necessário, pois já entrou para a história. O fato de estar a trabalhar com ele é um motivo de orgulho para mim e para o povo português”, comemora Helena, destacando que toda a pesquisa foi iniciada em Portugal. “O meu trabalho aqui, nos Estados Unidos, é só para complementar e melhorar um pouco toda a pesquisa que fora feita ainda no Porto”.
E o que isso tem a ver com você? As baterias recarregáveis (de íons de lítio) fazem parte do nosso dia a dia, estão em celulares, laptops, tablets, câmeras, GPS, aviões, carros elétricos e até no cigarro eletrônico. O que a pesquisa poderá fazer é triplicar a capacidade de armazenamento dessas baterias e tornar reduzir seu preço.
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Veja o que já enviamos“Estamos desenvolvendo uma bateria recarregável, com maior durabilidade, de baixo custo, com uma grande densidade de energia e que tem como um dos principais objetivos, abastecer um carro elétrico que possa competir com os automóveis atuais, sem a emissão do gás carbônico, diminuindo a emissão de gases do efeito estufa”, destaca Helena.
A meta é chegar a um condutor de energia sólido, componente-chave para desbravar novos caminhos na evolução das baterias e resolver a principal complicação da tecnologia de íons de lítio: o perigo dos curto-circuitos, que afetam os celulares, e que já provocaram incêndios e explosões em carros elétricos, aviões e hoverboards. Esses acidentes acontecem porque as baterias funcionam com um eletrólito líquido.
Após experiências ainda na cidade do Porto, Helena e seu parceiro de pesquisa Jorge Amaral concluíram que estavam diante de um vidro de características únicas: o primeiro eletrólito sólido imune a curto-circuitos e capaz de operar à temperatura ambiente. “Neste momento estamos pesquisando três tipos de baterias diferentes, todas baseadas em vidro”, conta Helena. “Mas cada modelo é único, feito à mão, como se fosse uma peça de artesanato. Acreditamos que dentro de dois anos, o protótipo possa ser usado em larga escala”.
A pesquisadora destaca que “ a bateria é composta por elementos que não atacam a natureza nem causam problemas à saúde. Será uma bateria que permite o uso de eletrólitos de vidro e assim possibilita a substituição do lítio por sódio, que é um material que se encontra em maior quantidade, mais barato e que é extraído da água do mar”.
A pesquisadora contou que, em 2014 e 2015, esteve no Rio de Janeiro e desenvolveu um trabalho com a PUC. “Era com hidrogênio e não com baterias, mas que me deu muito gosto de fazê-lo. Eu quero muito recomeçar esse trabalho. Para mim, não existe cidade no mundo mais bonita em termos de beleza natural do que o Rio”.