“Quando se é obrigado a transportar a própria água, aprende-se o valor de cada gota”. Talvez você já tenha visto esta frase em algum lugar. Ela é famosa, já correu o mundo. Normalmente aparece escrita em espanhol ou inglês. Quase sempre acompanhando a foto de uma mulher negra, com a filha pequena, carregando baldes ou vasos com água. São muitas as leituras que se pode fazer dessa imagem, mas duas me parecem importantes: é verdade que damos muito pouco valor para este bem tão precioso, mas é fato também que, em pleno século XXI, ninguém mais deveria carregar a própria água.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”solid” template=”01″]Cerca de 800 milhões de pessoas, ainda hoje, não têm acesso à água potável nas suas casas. Precisam andar quilômetros em busca de um líquido com cor, odor e qualidade, muitas vezes, duvidosos.
[/g1_quote]Infelizmente, não é isso que acontece. Cerca de 800 milhões de pessoas, ainda hoje, não têm acesso à água potável nas suas casas. Precisam andar quilômetros em busca de um líquido com cor, odor e qualidade, muitas vezes, duvidosos. Em parte, porque outras 2,5 bilhões de pessoas não sabem o que é coleta e tratamento de esgoto. Se sabem, nunca viram. E não pense, você que está lendo este texto num smartphone, que isso é coisa de país africano. No Brasil, sete milhões de pessoas não têm banheiro em casa. Mais do que toda população da Cidade Maravilhosa.
Para o presidente do Conselho Mundial de Água, o brasileiro Benedito Braga, existem alguns caminhos para fazer com que isso aconteça. O primeiro é o compartilhamento. Aliás, esse será o tema do 8° Fórum Mundial, que acontecerá no Brasil, em 2018. Como os rios e as nascentes se recusam a aceitar as arbitrárias divisões entre estados e países, é fundamental encontrar formas de compartilhar os seus benefícios. O acordo entre o Brasil e o Paraguai em torno da hidrelétrica de Itaipu é sempre citado como um exemplo positivo. No outro extremo, está a eterna polêmica pelo controle político e econômico dos rios Tigre e Eufrates que banham a Turquia, a Síria e o Iraque. Sem uma divisão mais justa e humanitárias dos recursos hídricos, será muito difícil alcançar a universalização.
Outro tema espinhoso defendido por Benedito Braga é um pagamento mais justo pelo consumo da água. Muita gente não sabe, mas o valor pago todos os meses na conta de água se refere, basicamente, ao trabalho de captação, tratamento e transporte feito por concessionárias como a Cedae e a Sabesp. O pagamento pelo consumo em si existe no Brasil há 15 aos, mas ele é quase insignificante e feito principalmente por indústrias e alguns setores agrícolas. Nesse período todo, ele nunca superou a cifra de R$ 0,02 (dois centavos) o metro cúbico. Na França, por exemplo, os agricultores pagam 300 vezes mais do que nós pela água que irriga os campos, a indústria paga 14 vezes mais e as empresas de saneamento, três vezes mais. Em contrapartida, os franceses conseguem investir quatro vezes mais em infraestrutura hídrica do que nós.