Luana possuía Medida Protetiva contra Rodrigo, que era alvo de investigação por outros crimes relacionados à violência contra a mulher desde 2014. Durante o ano passado, a técnica em segurança do trabalho sofreu ameaças e foi alvo de perseguição depois de terminar um namoro de dois anos. Seu pesadelo começou depois de março, quando teve início a pandemia no Brasil.
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No dia do crime, uma patrulha da Polícia Militar (PM) esperava Luana na porta de sua casa. É que ela havia avisado sobre a mensagem que recebera do ex-namorado. A jovem morreu no início de fevereiro deste ano vítima de um crime de ódio – ódio contra a mulher. Mas foi no primeiro ano da pandemia que ela entrou para as estatísticas oficiais da violência doméstica contra a mulher no estado. Luana virou mais um dos números da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo.
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Veja o que já enviamosSe, por um lado, os números mostram uma queda de 21% no total de crimes de feminicídio praticados no Espírito Santo durante o ano de 2020; por outro, registrou-se um aumento do número de homens presos em flagrante pela Lei Maria da Penha. A Secretaria de Segurança Pública encarcerou 1.665 homens suspeitos de praticarem violência doméstica contra a mulher. Em 2019, o número foi ligeiramente menor: 1.289. Foram instaurados 6.244 inquéritos policiais, dos quais 6.138 concluídos. Um total de 8.030 Medidas Protetivas de Urgência foram solicitadas à Justiça, entre elas a de Luana.
Com três casos de feminicídio ocorrendo por dia durante a pandemia, o Espírito Santo ficou entre os dez estados que registraram queda no número de mortes de mulheres no período de março a dezembro de 2020. A divulgação do terceiro balanço da série de reportagens Um vírus e duas guerras, incluiu dados de 25 estados, onde vivem 94% da população feminina brasileira.
O total de feminicídios no Brasil durante a pandemia somou 1.005 casos, uma queda de 3% em relação ao mesmo período de 2019, quando 1.031 foram assassinadas pelo simples fato de serem mulheres. A cada sete horas uma mulher foi morta vítima de feminicídio. O levantamento é uma parceria colaborativa entre as mídias independentes Amazônia Real, Azmina, #Colabora, Eco Nordeste, Marco Zero Conteúdo, Ponte Jornalismo e Portal Catarinas.
A partir de março, quando teve início o período de isolamento social, até dezembro, morreram 21 mulheres no Espírito Santo. Abril foi o único mês em que o estado não registrou nenhum caso de feminicídio. Durante todo o ano, 27 mulheres foram vítimas de feminicídio contra 34 no ano anterior.
[g1_quote author_name=”Michelle Meira” author_description=”gerente de Proteção à Mulher da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp)” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Pelo que acompanhamos em outros estados, houve um aumento da violência e morte de mulheres. O Espírito Santo caminhou no sentido contrário
[/g1_quote]“Pelo que acompanhamos em outros estados, houve um aumento da violência e morte de mulheres. O Espírito Santo caminhou no sentido contrário”, analisa Michelle Meira, da gerência de Proteção à Mulher da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp). Para a delegada, o trabalho repressivo e preventivo foi crucial para melhorar a estatística de feminicídio do estado.
Das 26 mulheres mortas, 23% delas tinham entre 25, a idade de Luana, e 29 anos. Em 35% dos crimes de feminicídio praticados no ano passado no Espírito Santo, o autor era o ex-namorado, como é o caso de Rodrigo. A faca usada para matar a jovem esteve entre as diferentes armas brancas que responderam por 52% dos assassinatos no estado.
Arte de Fernando Alvarus
André de Albuquerquer Garcia, procurador do estado, está convencido de que “o desprezo à condição da mulher no Espírito Santo” está na base do “machismo estrutural e institucional” que domina o estado, localizado geograficamente numa zona de transição entre Nordeste e Sudeste,