Vira e mexe, quando alguém morre, enlutados, reunimos adjetivos que possam garantir no pós-morte algo que saúde a memória de quem à nossa vida pertenceu. Do tio (hoje) de ‘zap’ à criança recém-nascida, não nos falta energia para tentar reverenciar todos que passaram pela Terra e nesta terrinha por aqui.
Só quem alguns destes que se vão merecem estardalhaço coletivo, desses que param o país ou Avenida que leva seu nome. Como o caso de Danilo Santos de Miranda, morto na noite do último domingo (29), perto da hora em que sobe o som da música do Fantástico e encaramos, de fato, o início da semana. Mas esta não seria uma semana comum com sua partida.
Danilo foi um desses bons e grandes brasileiros. Fez de sua vida algo que mudasse a trajetória dos fatos a curto, médio e longo prazo no Brasil. Sociólogo, filósofo e ex-seminarista, dedicou por longos 40 anos, uma vida, à direção do Sesc de São Paulo, o braço cultural que movimenta a cidade e o estado paulista.
Sem ser político, mas atuando pelas políticas públicas, viveu para abrir diversas unidades em todo os locais. Sem distinção de território: subiu favela, percorreu o interior, participou dos jantares mais caros. Fez tudo isso com a simplicidade de quem apenas queria cumprir seu papel: levar informação, educação e cultura a quem precisasse.
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Veja o que já enviamosEm 2021, no ínterim da reabertura para o novo mundo em que vivemos, Danilo explicou de maneira dinâmica a Pedro Bial todas as interseções de seu trabalho, e como ela deveria ser apreendida nas mais variadas frentes. “Pra mim, a Cultura tem um caráter muito profundo, mais amplo do que se costuma muitas vezes dar, pensando apenas na administração das artes, das questões artísticas, da questão patrimonial e acabou. Não: a Cultura é transversal, está presente em todas as manifestações, inclusive nas questões públicas do poder. Cultura e Educação são irmãs siamesas, sobretudo na preparação da geração que vem depois”.
Com a morte de Danilo, mais que a pessoa, leva-se também o pensamento daqueles que sabiam que este país não é um projeto, nem deveria ser visto como. Que por aqui há que se investir em capital e também no humano, explorando as possibilidades que multiplicam-se a cada esquina.
Gente como Danilo faz o Brasil ser bom. Bom com ‘B’ maiúsculo.