A vida com duas doses: vacina sim, máscara e distanciamento também

Coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz dá dicas e orientações sobre atos do cotidiano para quem completou a aplicação dos imunizantes

Por Aydano André Motta | ODS 3 • Publicada em 24 de agosto de 2021 - 08:58 • Atualizada em 21 de novembro de 2022 - 15:28

(Ilustrações de Claudio Duarte) – Para começar, as boas notícias: estamos mais perto do fim do que do começo da longa jornada de perdas e privações imposta à humanidade na pandemia. As vacinas cumprem seu papel e, conforme vão sendo aplicadas na população, casos e óbitos da covid-19 diminuem. A ciência também avançou rapidamente no conhecimento do coronavírus e sabe hoje da eficiência de máscaras, da importância da ventilação dos ambientes, do valor da higiene das mãos.

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Mas chegar de verdade ao fim da odisseia ainda impõe muitas obrigações. Para atualizar o corolário de precauções e protocolos na crise sanitária, o #Colabora apresentou 15 atos do cotidiano ao pesquisador Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, que orienta como proceder, a partir das duas doses de vacina aplicadas.

(Antes, convém lembrar que o efeito da proteção não é imediato. Infelizmente, não dá para tomar o caminho do botequim, do baile funk ou da praia. O corpo humano leva, em média, 14 dias para produzir a resposta imune, nome técnico da proteção contra o coronavírus. Assim, calma!)

Um por um, movimentos e precauções para quem tomou as duas doses da vacina.

Usar transporte público (trem, ônibus, metrô, BRT)

“É fundamental usar a máscara, pelo risco de transmitir e ser infectado. Deve ser sempre a melhor máscara possível, ou as do modelo N95/PFF2 ou as de pano com três camadas. Se possível, os veículos devem trafegar com meia lotação, no máximo. Nos transportes na superfície, o ideal é que as janelas estejam abertas.”

Caminhar ao ar livre, em lugares como o Parque Madureira, o Ibirapuera, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Calçadão da Barra (Salvador)

 

“Sem muita gente por perto (de manhã bem cedo ou à noite), dá até para abrir mão da máscara, especialmente quem não mora com idosos ou portadores de comorbidades. Com a presença da variante Delta, não convém se arriscar em aglomerações, mesmo pequenas. Nos ambientes abertos, como os citados, a transmissão é menor, mas não é nula.”

Exercícios ao ar livre

“Nos exercícios de performance, como corridas, é dispensar a máscara, se não houver gente por perto. Caso contrário, melhor usar a máscara. Em esportes coletivos, como peladas ou futevôlei na praia, recomendo a máscara cirúrgica.”

Exercícios em academia

“Sempre com máscara e mantendo distanciamento dos outros alunos, na medida do possível.”

Ir à praia

“Depende também do horário. A praia naquele estilo carioca, lotado em domingos de sol, ainda é impensável. Mas em horários que possibilitem ficar sem outras pessoas por perto – de manhã cedo ou no fim da tarde, por exemplo – dá para ir.”

Ir a bar ou restaurante

“Só em ambientes abertos, com mesas distantes umas das outras e o lugar mais vazio possível, porque é necessário tirar a máscara para comer e beber. Não dá nem para passar perto de restaurante com fila.”

Ir a shopping center, supermercado ou farmácia

“Necessário ficar de máscara o tempo inteiro, por serem ambientes fechados, com refrigeração.”

Compras em lugares abertos como feiras livres, Saara ou 25 de Março

“Apesar de não serem lugares fechados, a máscara deve ser usada o tempo todo, pela quantidade de pessoas. Muita gente circulando aumenta o risco de transmissão.”

Ir ao cabeleireiro

“O ideal é cliente e cabeleireiro ficarem de máscara bem ajustada o tempo todo Quando for cortar perto da orelha, a pessoa deve segurar a máscara bem firme contra o rosto. Se possível, o salão tem que manter portas e janelas abertas.”

Ir a cinema, teatro ou museu

“Ainda não é o momento. Estamos com mil óbitos por dia. Precisamos esperar mais um pouco.”

Ir a estádio de futebol

“Idealmente, com público reduzido, de máscara e vacinação comprovada, seria possível. Mas sabemos que não é assim que funciona. É da natureza da torcida gritar, se abraçar, se aglomerar para entrar e sair. Mesmo sendo local aberto, há muitos riscos.”

Boates, festas e eventos de música, como ensaios de escola de samba e bailes funk

“Não pode. Não é o momento mesmo. Nesses eventos, as pessoas ficam juntas por muito tempo, bebem, comem, dançam, não há como usar máscara. Não é adequado no cenário atual.”

Procedimentos médicos eletivos ou de rotina

“Depende do local e da estrutura do consultório. Mas as pessoas precisam se planejar para ir às consultas, porque a descontinuidade de tratamentos é um efeito colateral cada vez mais importante da pandemia. Não dá para adiar mais.”

Ir ao dentista para atendimento de rotina

“Dentistas estão entre os profissionais que mais se protegem, pela natureza de seu trabalho, desde o início da pandemia. Então, é possível retomar – e deve ser feito o quanto antes.”

Receber pessoas em casa

“Depende. Se não há idoso na casa e todos estão vacinados, é possível. Mas não pode ser muita gente. E as janelas precisam ficar abertas, para melhorar a circulação de ar.”

O pesquisador alerta que a pandemia parece estar fazendo a volta, exumando panorama semelhante ao do início da crise. “A vulnerabilidade de idosos e dos portadores de comorbidades ficou mais evidente”, atesta. “Mesmo com a vacina eles não estão totalmente imunes e podem evoluir para casos graves. A vacina reduz as possibilidades da doença, mas não elimina totalmente”, sublinha Machado.

Aqui, há mensagem importante: as vacinas não geram proteção absoluta, definitiva. “A ânsia de propagar a eficácia das vacinas gerou a ilusão de proteção total”, pondera o pesquisador. “O cenário ainda é de muita vigilância e precaução. Mas falta pouco”, anima-se . “Estamos num momento de transição e a vacinação vai se ampliar nos próximos dois meses”.

Aydano André Motta

Niteroiense, Aydano é jornalista desde 1986. Especializou-se na cobertura de Cidade, em veículos como “Jornal do Brasil”, “O Dia”, “O Globo”, “Veja” e “Istoé”. Comentarista do canal SporTV. Conquistou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 2012. Pesquisador de carnaval, é autor de “Maravilhosa e soberana – Histórias da Beija-Flor” e “Onze mulheres incríveis do carnaval carioca”, da coleção Cadernos de Samba (Verso Brasil). Escreveu o roteiro do documentário “Mulatas! Um tufão nos quadris”. E-mail: aydanoandre@gmail.com. Escrevam!

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