Leia mais reportagens da série #100diasdebalbúrdiafederal
O estudo premiado – segundo consecutivo da UFS na iniciação científica – foi desenvolvido pela então estudante de farmácia Nathália Araújo Macêdo, de 23 anos, e coordenado pelo professor do Departamento de Farmácia Sócrates Cabral de Holanda Cavalcanti, que desde 2004 desenvolve pesquisas na área. Com o título, “Síntese de derivados do indol benzenosulfonilado potencialmente ativos contra larvas do Aedes aegypti”, a pesquisa realizada por Nathália tinha como propósito desenvolver um produto com potencial de atividade tóxica para o Aedes, “de forma não agressiva para organismos não alvos”.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosLEIA MAIS: Pesquisadores de Mato Grosso do Sul usam líquido da castanha contra larvas do aedes
LEIA MAIS: Descobridores do vírus da Zika enfrentam dificuldades de financiamento
Para atingir esse objetivo, por meio de modificações químicas na estrutura do indol – composto com propriedades que interferem no desenvolvimento do mosquito – foram criadas novas moléculas, cujos derivados também interferem nesse desenvolvimento, mas de forma mais ampla, uma vez que pontos de suas estruturas foram modificados para intensificar a ação. A explicação é de Nathália Macêdo, que não pôde dar mais detalhes pois o estudo, ainda em prosseguimento, está sob sigilo.
Artêmia salina
O coordenador da pesquisa, Sócrates Cabral de Holanda Cavalcanti, escolheu um micro-crustáceo, a Artêmia salina, para a comparação, com o Aedes, do efeito tóxico do produto químico que ele e a equipe desenvolveram, de acordo com reportagem publicada no site da UFS. Era preciso comparar a mortandade nas duas espécies. Na mesma reportagem, o professor afirmou que os testes provaram que a pesquisa tem boas perspectivas: “Testamos na larva [do Aedes] e observamos que a substância mata em uma concentração bem baixa. Com o organismo não alvo (a Artêmia salina), testamos em uma concentração altíssima, e ela não morreu”.
[g1_quote author_name=”Nathália Macêdo” author_description=”Farmacêutica e autora da pesquisa premiada” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]
O prêmio não é só meu, é uma devolução para a sociedade também. O retorno se dá através da produção científica, dos profissionais que são formados e irão exercer a profissão e sobretudo, a formação crítica sobre entender e interpretar os fatos
[/g1_quote]Em contato ainda com o grupo de pesquisa da UFS, para elaboração e publicação de artigos, Nathália informou que o produto ainda precisa ser testado em outras espécies – para avaliar a segurança do uso – e em campo – para avaliar a efetividade em locais abertos, uma vez que até o momento só foi testado em pequena escala. “Depois de finalizar todos os estudos, penso que a equipe irá decidir a forma mais adequada para poder torná-lo útil à população”, afirmou, em relação a uma possível produção em larga escala.
Outros derivados, além do Indol, continuarão sendo elaborados dentro da pesquisa, segundo o que informou o professor ao site da UFS. “É uma pesquisa básica, com alto teor de inovação: a descoberta de novas moléculas, mesmo que seja uma molécula conhecida, consegue novas formulações”, afirmou na reportagem
Valor da produção acadêmica
Formada em abril, a farmacêutica destacou os três motivos principais que fizeram o prêmio, divulgado em maio, ser muito significante para ela: “Primeiro, o reconhecimento do meu trabalho, como pesquisadora e como estudante de farmácia, hoje, farmacêutica. Segundo, a alegria em saber que estou no caminho certo. Por fim, o orgulho em poder dar visibilidade à produção acadêmica da minha universidade e mostrar o valor que ela tem, principalmente no contexto sociopolítico atual”.
Atualmente, Nathália está fazendo residência multiprofissional em farmácia clínica, no Hospital universitário de Sergipe. Assim que concluir a residência, pretende voltar à pesquisa laboratorial. Ela tem um apreço evidente pela ciência e contou que no ambiente em que estudou nunca enfrentou dificuldades por ser mulher nessa área. “Não senti ser mais difícil por ser mulher. Tenho potencial e inteligência e, junto com meus colegas (homens e mulheres), pude desenvolver o trabalho com mais facilidade”.
Nathália ressalvou que encontrou dificuldades relacionadas ao próprio estudo. “As tentativas durante a pesquisa que não deram certo, as cobranças do orientador, que são comuns no meio acadêmico, e os recursos que não são suficientes para o desenvolvimento do trabalho”.
Ambiente universitário
De acordo com a farmacêutica, o ambiente universitário lhe proporcionou a possibilidade de vivenciar a riqueza de conhecimento e, como consequência, valorizá-lo. “A UFS me fez crescer como pessoa e profissional”. Ela destacou a importância do convívio com pessoas diferentes, em um lugar “em que todos eram iguais em direitos. “Pude viver experiências que enriqueceram minha visão de mundo, conhecimento científico e social. E penso que todos que passam por ali (universidade) devem aproveitar o direito alcançado e levar o que aprendem para a sociedade, que sustenta o que temos”.
A preocupação de que as universidades deem retorno à sociedade está em várias respostas de Nathália nesta entrevista. Ela acredita que as universidades federais contribuem para o desenvolvimento da sociedade. “O prêmio não é só meu, é uma devolução para a sociedade também. O retorno se dá através da produção científica, dos profissionais que são formados e irão exercer a profissão e sobretudo, a formação crítica sobre entender e interpretar os fatos”.
Os cortes anunciados pelo governo federal para as universidades também estão nas preocupações da farmacêutica. “Mais cortes ou reajustes sem considerar os gastos e recursos atuais impedem a formação da estrutura e impactam nos processos de trabalho e no resultados esperados” disse. “Uma das dificuldades em desenvolver a pesquisa é a falta de recursos para mantê-la e desenvolvê-la. Logo, cortes não impactarão só em uma pesquisa que está sendo desenvolvida, mas também nos resultados indiretos dela”.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]78/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil
[/g1_quote]