Diário da Covid-19: pandemia no Brasil cresce 3 vezes mais rápido do que a média mundial

Ulisses Xavier trabalha 12 horas por dia no cemitério de Nossa Senhora da Piedade, em Manaus, e complementa a sua renda fazendo cruzes de madeira. Foto Michael Dantas/AFP

Se estas taxas atuais forem mantidas, país poderá ter 1,2 milhão de casos até o dia 09 de junho

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 10 de maio de 2020 - 11:41 • Atualizada em 11 de maio de 2020 - 09:55

Ulisses Xavier trabalha 12 horas por dia no cemitério de Nossa Senhora da Piedade, em Manaus, e complementa a sua renda fazendo cruzes de madeira. Foto Michael Dantas/AFP

O Brasil está passando por um momento crítico da pandemia e ontem (09/05) bateu todos os recordes históricos até aqui, marcando uma sequência de números extremamente elevados. Somente nos últimos 4 dias, em média, diariamente, teve 7 novos casos por minuto e uma nova morte a cada dois minutos. O país tem 2,7% da população mundial, mas já responde por 3,5% dos números acumulados de casos e de mortes pela covid-19 no globo. E o mais grave, caminha para ter uma participação ainda maior, pois ontem teve 12% dos casos diários e 17,3% das mortes diárias que ocorreram no planeta.

O Brasil ultrapassou a Turquia e agora está em 8º lugar no ranking global dos casos e no 6º lugar no ranking global do número de mortes. O surto pandêmico no Brasil cresce cerca de 3 vezes mais rápido do que a média mundial e está se espalhando por todo território nacional. O Brasil precisa se unir para derrotar a covid-19. Parafraseando o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto: “Ou o Brasil acaba com o coronavírus, ou ele acaba com o Brasil”.

O panorama nacional

Os números da pandemia do coronavírus no Brasil divulgados pelo Ministério da Saúde no sábado (09/05) indicam 155.939 casos e 10.627 mortes, com uma taxa de letalidade de 6,8%. Foram 10,6 mil novos casos e 730 novas mortes em 24 horas. Ou seja, aconteceram 430 casos por hora (7 casos por minuto) e aconteceram 29 mortes por hora (ou 1 morte a cada 2 minutos).

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de casos da covid-19 no Brasil por semana epidemiológica (SE), segundo a definição do Ministério da Saúde que aponta a 10ª SE como a semana de 01 a 07 de março de 2020 e em seguida as demais. No dia 01 de março o Brasil tinha apenas 2 casos confirmados de covid-19 e passou para 19 casos no dia 07/03. Foram apenas 17 casos, mas o aumento foi de 9,5 vezes (o que representa 37,9% ao dia).

No dia 14/03 chegou a 121 casos, mas os 102 casos da 11ª SE significaram um aumento semanal de 6,4 vezes (ou 30,3% ao dia). Os dados disponíveis da última semana (19ª SE: 03 a 09 de maio), indicavam um aumento de quase 60 mil casos, um incremento de 1,6 vezes em relação à semana anterior (ou 7,1% ao dia). Portanto, a despeito do aumento significativo do número absoluto de casos, a variação relativa vinha diminuindo até a 17ª SE. Mas, preocupantemente, o número de casos continua aumentando muito e as variações percentuais estão estacionadas em torno de 7% ao dia, o que significa dobrar a cada 10 dias e multiplicar por 8 em um mês. Se estas taxas se mantiverem, o Brasil poderá ter 1,2 milhão de casos até o dia 09 de junho.

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de mortes nas sucessivas semanas epidemiológicas (SE). O primeiro óbito pela Covid-19 no Brasil ocorreu no dia 17 de março e chegou a 18 óbitos no dia 21/03, o aumento foi de 18 casos em 5 dias, o que representou um crescimento diário de 78,3% na 12ª SE. Na semana seguinte, o número de mortes chegou a 111 óbitos (ou 29,7% ao dia) na 13ª SE. Nas 17ª e 18ª SE houve uma estabilidade das taxas, mas em alto patamar. Na semana passada (19ª SE) houve cerca de 4 mil mortes, um aumento de 1,6 vezes (ou 6,8% ao dia).

Ou seja, a taxa de variação diária tem se reduzido em ritmo muito lento e tem se mantido em torno de 7% ao dia, o que significa multiplicar por 2 em 10 dias e por 8 em 30 dias. Neste ritmo, o Brasil pode chegar a 80 mil mortes em 9 de junho. O país deve ultrapassar todas as nações europeias que estão à sua frente no ranking global e pular para o segundo lugar, atrás somente dos EUA.

O panorama global

O dia 09 de maio encerrou com 4,1 milhões de casos e 280 mil mortes registradas no mundo, com uma taxa de letalidade de 6,8%. As variações diárias dos casos (acima de 88 mil) e das mortes (abaixo de 5 mil) estão diminuindo, indicando que o pico global já foi ultrapassado, mas os valores diários ainda estão em alto patamar.

O gráfico abaixo mostra que no dia 01/03 havia de 88,6 mil e passou para 106 mil no dia 07/03, um aumento de 1,22 vezes (ou 2,9% ao dia), na 10ª semana epidemiológica (SE). Na semana seguinte (11ª SE), passou de 110 mil casos para 156,7 mil, um aumento de 1,48 vezes (ou 5,7% ao dia). Na 12ª SE a variação diária ficou em 10% e na 13ª SE atingiu a variação diária mais elevada 11,7% ao dia. Mas nas semanas seguintes, as variações passaram para 8,9%, 5,8% até chegar a 2,4% na 19ª SE. Nitidamente, a curva está reduzindo o ritmo e caminha para taxas abaixo de 2% ainda no mês de maio. Isto contrasta bastante com os cerca de 7% do caso brasileiro.

O gráfico abaixo mostra que o ritmo de aumento das mortes pela Covid-19 foi mais acelerado do que o ritmo do aumento dos casos nos meses de março e abril. Na primeira semana de março (10ª SE), o número de mortes passou de 3.050 no dia 01/03 para 3.599 no dia 07/03, um aumento de 1,21 vezes (ou 2,8% ao dia).

Nas semanas seguintes o número absoluto de mortes cresceu muito e a velocidade da pandemia também aumentou até a 13ª SE, quando o número de mortes passou de 14,6 mil óbitos no dia 22/03 para 30,9 mil mortes no dia 28/03, um aumento de 2,23 vezes ou 13,1% ao dia. Nas semanas seguintes o número absoluto de mortes continuou aumentando, mas com desaceleração do ritmo. Na penúltima semana (18ª SE de 26/04 a 02/05) o número de mortes passou de 200 mil para 244 mil, um aumento de 1,2 vezes (ou 2,7% ao dia). Na semana passada (19ª SE) o número de mortes chegou a 280 mil, um aumento de 1,15 vezes (ou 2% ao dia). Assim, o ritmo das mortes diminuiu mais rápido do que o ritmo dos casos e pode ficar abaixo de 1% já no início do mês de junho.

Comparando a dinâmica da pandemia no mundo e no Brasil, conforme figura abaixo, nota-se que globalmente o pior já passou e o pico dos casos internacionais ocorreu no dia 24 de abril, mas as variações diárias ainda permanecem em nível elevado, se bem que com uma leve tendência de queda. O pico de mortes no mundo ocorreu no dia 17 de abril e existe uma clara tendência de declínio.

Já o Brasil ainda não atingiu o pico e o número de casos e de mortes continuam aumentando. Por conseguinte, o Brasil vai ter um percentual cada vez maior do número de casos e de mortes em relação ao mundo, sendo que no dia 09 de maio já teve 12% dos casos diários e 17,3% das mortes diárias.

O Brasil se transformou em um dos principais epicentros da pandemia e caminha para ser o segundo colocado no ranking global, devendo ficar atrás apenas dos Estado Unidos.  Se bem que já existem estudos indicando que o Brasil pode ser o país mais atingido pela covid-19 no mundo. A consultoria americana Kearney, considera que a flexibilização das medidas de isolamento social e a falta de ações concretas e efetivas para avançar nas medidas sanitárias e de saúde poderão fazer com que o Brasil se torne o recordista mundial de vítimas da doença.

 Frase do dia 10 de maio de 2020

 “Tornei-me vizinho dos pássaros, não por ter aprisionado um,

mas por ter me engaiolado perto deles”

Henry Thoreau (12/07/1817 – 06/05/1862)

Autor de “Desobediência Civil” e “Walden ou A Vida nos Bosques”

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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