Diário da Covid-19: pandemia avança sobre a Amazônia

Jyoti Amge, a menor mulher do mundo, segundo o Guinness, cumprimenta um policial em Naqpure, na Índia, enquanto apela aos cidadãos do país para ficarem dentro de suas casas. Foto STR/AFP

Estados da região entram em situação de emergência e Brasil bate novos recordes de casos e mortes

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 18 de abril de 2020 - 10:50

Jyoti Amge, a menor mulher do mundo, segundo o Guinness, cumprimenta um policial em Naqpure, na Índia, enquanto apela aos cidadãos do país para ficarem dentro de suas casas. Foto STR/AFP

O Brasil bateu novos recordes diários de casos e de mortes da covid-19 no dia 17 de abril. Foram 3.257 novos casos (10,7% de aumento em relação ao dia anterior) e 217 mortes (11,3% de aumento). O ritmo de avanço continua forte e três estados da Amazônia (AP, AM e RR) estão se transformando em um novo epicentro da pandemia e são considerados em emergência pelo Ministério da Saúde.

O panorama nacional

Na tarde do dia 17 de abril, os números atualizados do Ministério da Saúde foram 33.682 casos e 2.141 mortes, com uma taxa de letalidade de 6,4%. Segundo o site Worldometer, o número de pessoas recuperadas foi de 14.026, o número de casos ativos de 17.515 e o número de casos sérios ou críticos de 6.634 pessoas.

Em um mês, o número de pessoas infectadas passou de 209 casos no dia 17/03 para 33,7 mil no dia 17/04 (um aumento médio diário de 16,6%). O número de mortes, no mesmo período, passou de 1 para 2,1 mil (um crescimento diário de 28,1%).  A despeito das oscilações diárias, a tendência é de continuidade do aumento do surto e o pico da pandemia ainda não se vislumbra no horizonte de curto prazo.

No território nacional, o avanço da pandemia ocorre de forma diferenciada e irregular. O coeficiente de incidência foi de 145 casos por milhão de habitantes, para a média brasileira. Mas 7 estados se destacam e são considerado em situação de emergência: Amapá (428 casos por milhão), Amazonas (415 casos por milhão), Ceará (261 casos por milhão), São Paulo (252 casos por milhão), Distrito Federal (237 casos por milhão), Roraima (234 casos por milhão) e Rio de Janeiro (228 casos por milhão). A menor incidência ocorre no Tocantins (com 18 casos por milhão), como pode ser visto no gráfico abaixo.

As capitais mais afetadas são Fortaleza (729 casos por milhão), São Paulo (634 casos p/m), Manaus (619 casos p/m), Macapá (568 casos p/m), Recife (521 casos p/m), São Luís (484 casos p/m), Florianópolis  (413 casos p/m), Rio de janeiro (375 casos p/m), Vitória (373 casos p/m), Boa Vista  (263 casos p/m),  Brasília (237 casos p/m) e Porto Alegre (233 casos p/m) – todas estas cidades em emergência, como pode ser visto no gráfico abaixo.

A pandemia e o coeficiente de incidência no Amapá: “demografia não é destino”

Os idosos são o principal grupo de risco da covid-19. Isto quer dizer que os países e os estados mais envelhecidos são mais vulneráveis ao avanço da pandemia. Mas, paradoxalmente, o Amapá que é a Unidade da Federação com a estrutura etária mais rejuvenescida do país (menos envelhecida) é também a UF que possui o maior coeficiente de incidência da doença.

Segundo as projeções do IBGE, a população do Amapá, em 2020, está estimada em 861,8 mil habitantes, sendo 59,9 mil pessoas de 60 anos e mais (representando 7% do total). O Índice de Envelhecimento (IE) está em 24,8 idosos para cada 100 jovens de 0-14 anos. Para se ter uma comparação, a população do Rio Grande do Sul, em 2020, de 11,4 milhões de habitantes, possuía 2,14 milhões de idosos (representando 18,2% do total) e um IE de 103,4 idosos para cada 100 jovens de 0-14 anos.

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A floresta precede os povos. E o deserto os segue

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Mas apesar de estruturas etárias tão diferentes, o “jovem” Amapá apresentou um coeficiente de incidência de 428 pessoas infectadas (por milhão) no dia 16 de abril, enquanto o envelhecido Rio Grande do Sul, no mesmo dia, apresentou coeficiente de 69 pessoas infectadas (por milhão), conforme dados do Ministério da Saúde. Isto mostra que a “demografia não é destino” e mesmo populações pouco envelhecidas podem sofrer muito com o novo coronavírus.

O Amapá é uma UF territorialmente isolada, pois embora faça fronteira com a França (Guiana Francesa) só se chega ao estado por via aérea ou por transporte fluvial. Seria relativamente fácil impedir a propagação da epidemia. Contudo, pouco foi feito para controlar o fluxo de pessoas no porto de Santana e a covid-19 se espalhou pela capital Macapá e outras cidades até Oiapoque (o ponto mais setentrional do Brasil).

O triste é que os dados do Ministério da Saúde mostram que três estados da Amazônia estão entre aqueles com maior incidência do coronavírus: Amazonas, Amapá e Roraima. Não só as populações ribeirinhas estão sofrendo, mas principalmente os povos indígenas estão muito ameaçados, como mostrou Liana Melo aqui no #Colabora (15/04). O paraíso amazônico está vivendo o inferno da pandemia da covid-19.

O panorama global

Na tarde do dia 17 de abril, o mundo atingiu um número palíndromo com a marca de 2.222.222 pessoas infectadas pela covid-19. No final do dia a contabilidade registrava 2,25 milhões de casos no mundo, com 155 mil mortes e uma taxa de letalidade de 6,9%.

A pandemia e o pandemônio econômico na China

Duas notícias marcantes da China. Autoridades da cidade de Wuhan, revisaram no dia 17/04 o número de mortes por Covid-19, aumentando o número de óbitos e fazendo o total nacional subir para 4.632 vítimas. O número de casos aumentou em 325 pessoas a mais infectadas pelo coronavírus.

As autoridades econômicas da China divulgaram que, pela primeira vez, desde as reformas de Deng Xiaoping, de 1979, o Produto Interno Bruto da China, apresenta uma queda no primeiro trimestre do ano, conforme o gráfico abaixo do jornal South China Morning Post que indica contração do PIB de 6,8%. Mas, as autoridades chinesas esperam uma recuperação nos trimestres seguintes e o FMI estima um crescimento do PIB de 1,2% em 2020 e de 9,2% em 2021. Há quem diga que a China, depois da atual crise, deve voltar mais forte em relação ao Ocidente. A conferir!

Emergência ecológica e o desmatamento em Bornéu

A ilha de Bornéu – considerada a terceira maior do mundo – controlada em grande parte pela Indonésia, já foi um paraíso da biodiversidade e da vida selvagem. Mas artigo de Alex Shoumatoff, no site Yale Environment 360, mostra que a magnífica floresta tropical de Bornéu está sendo dizimada para dar lugar a plantações de dendezeiros. O óleo de palma é o segundo óleo mais importante na sociedade de consumo moderna, depois do petróleo e sua produção avança às custas da extinção da flora e da fauna.

Frase do dia 18/04/2020

“A floresta precede os povos. E o deserto os segue”

François-René Chateaubriand (1768-1848)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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