O Natal é uma festa da natalidade. Mas o Natal de 2020 será o cume de um ano marcado pela mortalidade da covid-19. Desde 1918, quando a pandemia da Gripe Espanhola deixou milhões de mortes, o mundo não via uma doença que provocasse, em curto espaço de tempo, tanta mortandade. Os números são espantosos, sendo cerca de 80 milhões de pessoas infectadas e mais de 1,7 milhão de óbitos globais ao longo do ano. E a contagem continua.
Até o momento, o país mais impactado pela covid-19, em termos absolutos, tem sido os Estados Unidos (EUA), com quase 20 milhões de pessoas infectadas e 340 mil vidas perdidas. Os EUA com 331 milhões de habitantes (4,3% da população mundial) registravam, no dia 26/12, 24% dos casos e 19,3% das mortes globais. Desta forma, apresenta um coeficiente de incidência de 58 mil casos por milhão de habitantes e um coeficiente de mortalidade de 1.023 óbitos por milhão de habitantes.
Mas o país mais impactado, em termos relativos, tem sido a Bélgica, com 637 mil pessoas infectadas e 19 mil vidas perdidas. A Bélgica tem uma população de 11,6 milhões de habitantes (0,15% da população mundial) e respondia por 0,8% dos casos e 1,1% das mortes globais. Consequentemente, a Bélgica apresenta elevados coeficientes de incidência (55 mil casos por milhão) e de mortalidade (1.644 mortes por milhão).
O Brasil, em termos absolutos, ocupa o terceiro lugar em número de casos e o segundo lugar em número de mortes. O maior país da América Latina, com 212 milhões de habitantes (2,7% da população mundial), acumula 7,5 milhões de casos (9,3% do total global) e pouco mais de 190 mil óbitos (11% do total global). O coeficiente de incidência brasileiro, em 26/12, estava em 35 mil casos por milhão e o coeficiente de mortalidade estava em 900 óbitos por milhão de habitantes.
O novo coronavírus se espalhou pelo mundo ao longo de 2020 e o mês de dezembro baterá todos os recordes de casos e de mortes da covid-19. Será o mês com maior morbimortalidade da pandemia, embora tenha ocorrido um certo arrefecimento na última semana do ano. O mês de janeiro de 2021 será, evidentemente, muito pior do que o janeiro de 2020, embora possa marcar um ponto de estabilização e de inflexão dos números globais.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosTodavia, nem tudo são notícias negativas. Existem exemplos de sucesso no controle do contágio do SARS-CoV-2. A Nova Zelândia, com 5 milhões de habitantes, teve apenas 2.128 casos e 25 vidas perdidas, com coeficiente de incidência de 425 casos por milhão e coeficiente de mortalidade de 5 óbitos por milhão de habitantes. Outro exemplo é Taiwan, com 24 milhões de habitantes, que teve 783 casos e somente 7 vidas perdidas, com coeficientes de 33 casos por milhão e 0,3 óbitos por milhão de habitantes. Estes dois países já retomaram as atividades econômicas, a juventude já voltou para as escolas e ambos devem apresentar ganhos na esperança de vida ao nascer. Desta forma, na medida em que a doença foi sendo eliminada, a economia e as atividades sociais puderam se recuperar nestes países.
Para aqueles que perderam o controle sobre a propagação comunitária do vírus, o início da vacinação em massa constitui a esperança de que o primeiro mês de 2021 seja menos letal do que o último mês de 2020 e que o começo do ano possa também ser o início de um novo tempo marcado pelo declínio contínuo e definitivo da pandemia. A maioria da população mundial deseja que a ciência e a solidariedade coletiva possam promover a saúde e vencer a covid-19. Com esforço e determinação, talvez o Natal e o Réveillon de 2021 se convertam em momentos de festa e verdadeira comemoração.
O panorama nacional
O Ministério da Saúde contabilizou 7.465.806 pessoas infectadas e 190.795 vidas perdidas no dia 26 de dezembro, com uma taxa de letalidade de 2,6%. A despeito de números tão expressivos, houve uma desaceleração do aumento na confirmação de casos e no registro de óbitos na semana do Natal.
O gráfico abaixo, que mostra a variação média diária do número de casos nas diversas semanas epidemiológicas. Na 13ª SE (22 a 28/03) o Brasil teve 397 casos diários em média e os números subiram continuamente até o pico de 45,7 mil casos diários na 30ª SE (19 a 25/07). A partir do final de julho o número médio de casos, com algumas oscilações, caiu até o mínimo de 16,8 mil casos na 45ª SE (01 a 07/11). Mas a partir da segunda semana de novembro teve início uma segunda onda do contágio que culminou com 47,5 mil casos na 51ª semana (13 a 19/12). Porém, na semana passada o número de pessoas infectadas voltou a cair e ficou com uma média diária de 36 mil casos. Esta queda pode estar relacionada com o feriado prolongado do dia 25/12, mas também pode ser um início de decida da curva em função das medidas de isolamento social e de cancelamento das festas coletivas de fim de ano, assim como medidas preventivas que foram adotadas, com maior ou menor grau de eficácia, em quase todo o país.
O gráfico abaixo mostra a variação média diária do número de óbitos nas diversas semanas epidemiológicas. Na 13ª SE (22 a 28/03) o Brasil teve, a cada 24 horas, apenas 13 vítimas fatais pela covid-19. Este número subiu para 1.014 óbitos na 23ª SE e atingiu o pico de 1.097 na 30ª SE (19 a 25/07). Nas semanas seguintes, com pequenas oscilações, os números foram caindo até 343 óbitos diários na 45ª SE (01 a 07/11). Porém, houve inflexão da curva e o número médio de vítimas fatais chegou a 745 óbitos diários na 51ª SE (13 a 19/12). Felizmente, a média caiu na 52ª SE (20 a 26/12) para 634 óbitos.
O panorama global
O mundo chegou a 80 milhões de pessoas infectadas e ultrapassou 1,7 milhão de vidas perdidas pela covid-19 no dia 26 de dezembro, com uma taxa de letalidade de 2,2%. O mês de dezembro começou com uma média diária de casos acima de 600 mil, uma média de mortes acima de 10 mil óbitos diários e com tendência de alta. Mas no final do mês o ritmo arrefeceu, embora ainda continue em alto patamar.
O gráfico abaixo mostra a evolução da média diária dos casos da covid-19 no mundo, desde o início de março. Nota-se que o número de infecções passou de 3 mil casos diários entre 01 e 07 de março para 75 mil casos, quatro semanas depois. Até meados de maio o número de novas infecções ficou abaixo de 100 mil casos. Mas em agosto já tinha ultrapassado 250 mil casos diários, pulou para 495 mil casos na semana de 25 a 31/10, duas semanas depois avançou para 594 mil casos diários e ultrapassou a marca de 600 mil casos na semana de 29/11 a 05/12 e bateu o recorde de 644 mil casos diários duas semanas depois. Na semana do Natal houve uma redução da média diária para 584 mil casos.
O gráfico abaixo mostra a evolução do número diário de óbitos no mundo. Na primeira semana de março houve menos de 1 mil mortes diárias, mas na semana de 29/03 a 04/04 já tinha saltado para 5,2 mil óbitos diários. O primeiro pico aconteceu na semana de 12 a 18 de abril com 7 mil mortes diárias. Nas 26 semanas seguintes os números variaram, mas foram sempre menores do que o pico de abril, atingindo 6,5 mil na última semana de outubro. Todavia, nas semanas de novembro foram batidos recordes sucessivos. Na primeira semana de novembro ocorreram 8 mil mortes diárias, na segunda 8,8 mil mortes, na terceira 9,8 mil e na quarta semana o limiar de 10 mil mortes diárias foi ultrapassado. Na semana de 13 a 19 de dezembro o número diário de vidas perdidas ficou em 11,4 mil óbitos. Na semana do Natal caiu para 10,4 mil óbitos diários.
A pandemia gerou um pandemônio no mundo. Os primeiros casos do novo coronavírus foram identificados em dezembro de 2019 na China. Um ano depois, o SARS-CoV-2, como vimos, já tinha infectado mais de 80 milhões de pessoas e matado mais de 1,7 milhão de vítimas. Mas ao invés de desaparecer, o vírus continua avançando (chegou inclusive na Antártida) e passou até por mutações no seu material genético. O SARS-CoV-2, sem perder sua identidade, tem formado “variantes”, “cepas” e “linhagens” que preocupam os cientistas, além de ter espalhado o medo de uma nova onda de contágio. Uma destas linhagens, identificada na Grã Bretanha como B.1.1.7, fez com que mais de 40 países fechassem suas fronteiras aos residentes do Reino Unido. Essa cepa foi reconhecida também na Holanda, Islândia, Itália, Dinamarca e Austrália e preocupa pelo grau de contágio e pela letalidade.
O fato é que o SARS-CoV-2 tem se mostrado mais resiliente e mais resistente às medidas preventivas, a não ser naqueles países que conseguiram fazer uma eficiente barreira sanitária e que montaram um eficaz sistema de rastreamento e monitoramento das pessoas infectadas.
Onde houve a transmissão comunitária descontrolada do vírus, a única esperança é a vacina. Segundo dados do jornal The New York Times, há 19 vacinas em desenvolvimento que estão na 3ª fase de testes clínicos. Destas, 8 foram liberadas para uso emergencial em diversos países, e duas obtiveram o registro para o uso definitivo. O Reino Unido, em 8 de dezembro, foi a primeira nação a iniciar uma vacinação em massa. A Suíça e a Sérvia fizeram as primeiras aplicações antes do Natal e, em seguida, cerca de 16 países começaram as aplicações, inclusive três da América Latina: México, Chile e Costa Rica. A Argentina deverá aplicar a vacina Sputnik V, fabricada pela Rússia, a partir da semana que vem. Os 27 países da União Europeia iniciam a vacinação neste domingo 27/12, pois encomendaram 200 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela norte-americana Pfizer e pela farmacêutica alemã BioNTech.
Neste cenário internacional de mobilização a favor de uma vacinação em larga escala, o Brasil ficou para trás e o Plano Nacional de Imunização não tem uma logística definida e sequer tem uma data precisa para o início da aplicação das vacinas. As previsões mais otimistas falam em fevereiro de 2021. Assim, o mês de janeiro vai trazer muitos riscos, pois o Brasil está em plena 2ª onda da pandemia, existem mutações do vírus que podem se espalhar pelo território nacional, enquanto o cidadão que ocupa o cargo máximo do Poder Executivo do país apenas diz: “Não dou bola para isso”.
Frase do dia 27 de dezembro de 2020
“A saúde de uma sociedade democrática pode ser medida pela qualidade de funções desempenhadas por seus cidadãos”
Alexis de Tocqueville (1805-1859), cientista político, historiador e escritor francês
Excelente artigo, rico e preciso em todos os sentidos, parabéns a revista e principalmente ao autor.