A boa notícia da 34ª semana epidemiológica (SE de 16 a 22 de agosto) foi a diminuição da média do número de novas pessoas infectadas pela covid-19. A má notícia é que a média de falecimentos voltou a aumentar e ultrapassou ligeiramente a marca de um milhar de óbitos. Na 35ª SE (23 a 29 de agosto) o Brasil completa seis meses desde o registro do primeiro caso do Sars-CoV-2, ocorrido no dia 26 de fevereiro de 2020. Neste período, a média diária de pessoas infectadas ficou em torno de 20 mil casos. O recorde do número diário de casos ocorreu no dia 29/07 com 69.074 casos (e média móvel de 46 mil registros). No mês de agosto os números diminuíram e a média móvel de 7 dias está em torno de 37 mil. É um número elevado, mas que apresenta tendência de queda.
O lado positivo é que a taxa de contágio (Rt) do novo coronavírus caiu para um nível considerado de controle da pandemia. Segundo dados do último levantamento do Imperial College de Londres, a taxa de contágio caiu para 0,98 na 34ª SE. Permanecendo abaixo de 1, significa que cada 100 pessoas contaminadas transmitem o vírus para outras 98 indivíduos, que transmitem para outras 96 pessoas e assim por diante, em uma progressão decrescente. Mas, evidentemente, é preciso ter cuidado, pois este número poderá subir novamente com o processo de flexibilização das atividades econômicas e sociais, especialmente se não houver adoção de medidas efetivas de prevenção, como o uso de máscaras, higiene das mãos e do corpo, distanciamento de 2 metros na interação social e outras ações de controle da emergência sanitária.
O Brasil já ultrapassou 3,5 milhões de casos e 114 mil mortes e ainda possui variação diária em alto platô, mas tudo indica que o pico da pandemia no país ocorreu na última semana de julho. Se não houver uma segunda onda (como aconteceu nos EUA, Israel, Irã e outros países) os próximos meses poderão ser de retração da pandemia. Mas a eliminação de novos casos e novos óbitos não se vislumbra no horizonte antes de 2021. Portanto, ainda teremos alguns meses de travessia de uma “ponte sobre águas turbulentas”, como diria Paul Simon.
O panorama nacional
Os dados oficiais registraram 3.582.362 pessoas infectadas e 114.250 vidas perdidas no dia 22 de agosto, com uma taxa de letalidade de 3,2%. Foram 50.032 novos casos e 892 óbitos em 24 horas. O general de divisão do Exército Brasileiro, Eduardo Pazuello, Ministro interino da Saúde desde o dia 15 de maio, contabilizou 100 dias de interinidade e durante sua gestão houve 3,4 milhões de casos e 100,3 mil mortes, com uma média diária de 33,8 mil casos e 1.003 mortes.
O gráfico abaixo mostra os valores diários das variações dos casos e das mortes no Brasil da 17ª semana epidemiológica (SE = 19 a 25 de abril) até a 34ª SE (16 a 22 de agosto). Nota-se que todas as baixas acontecem nos fins de semana e as elevações nos dias úteis. Mas as linhas (pontilhadas) da tendência polinomial de terceiro grau apresentam uma suavização das oscilações sazonais e indicam uma extrapolação para os próximos 7 dias. Observa-se uma tendência de queda do número diário de casos durante o mês de agosto. Em termos de mortes, a linha pontilhada vermelha mostra que a curva está estacionada em torno de 1 mil mortes diárias. Mas, provavelmente, o número de óbitos diários deve ficar pouco abaixo do limiar de 1 mil óbitos na próxima semana (23 a 29 de agosto).
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Veja o que já enviamosO gráfico abaixo mostra a variação média diária do número de casos no Brasil nas diversas semanas epidemiológicas (SE). Nota-se que o número de pessoas infectadas passou da média de 397 casos na 13ª SE (variação relativa de 19,4% ao dia), para 37.620 pessoas na 27ª SE (2,6% ao dia), um aumento absoluto de quase 100 vezes. Houve uma queda nas duas semanas seguintes e um grande salto para 45.665 casos na média diária da 30ª SE. Nas quatro semanas seguintes os números diários foram menores. Como sempre fazemos todos os domingos, apresentamos uma projeção para a 35ª SE (23 a 29/08), com estimativa de 36,9 mil casos diários no Brasil, com variação relativa de 1,1% ao dia.
O gráfico abaixo mostra que o número de vítimas fatais foi de 13 óbitos ao dia na 13ª SE (variação relativa de 29,7% ao dia), passou para 387 óbitos diários na 18ª SE e chegou a 976 óbitos diários na 22ª SE (24-30/05). Nas semanas seguintes o número diário oscilou em torno de 1.000 óbitos e bateu o recorde de 1.097 óbitos na 30ª SE. Nas semanas seguintes houve queda do número médio diário até 965 óbitos na 33ª SE e um ligeiro aumento para 1.003 óbitos na 34ª SE. Seguindo a tendência de queda, nossa projeção indica que deve haver uma ligeira queda para uma média de 996 mortes diárias na 35ª SE, com variação relativa de 0,86% ao dia.
O panorama global
O mundo ultrapassou 23 milhões de casos e 800 mil mortes. No dia 22 de agosto foram registrados 23,4 milhões de casos e 807,9 mil mortes, com uma taxa de letalidade de 3,5%. Foram 261 mil casos e 5,3 mil óbitos em 24 horas.
No gráfico abaixo, a curva do número de casos parecia indicar uma reversão em meados de abril, começando a esboçar um declínio. Porém, manteve a tendência de alta e acelerou a subida, com um recorde impressionante de quase 300 mil casos em 24 horas nos últimos dois dias de julho. A curva de mortalidade apresentou uma variação máxima diária em 16 de abril com 10 mil óbitos. A partir deste dia houve queda até o valor mínimo no dia 25 de maio. Porém, a variação diária voltou a subir e atingiu valores acima de 7.000 óbitos nos dias 06 e 13 de agosto. A pandemia continua avançando no mundo e o ajuste polinomial indica a continuidade do aumento da morbimortalidade na próxima semana (23 a 29/08). Os três países mais impactados, em termos absolutos, são EUA, Brasil e Índia.
Comparação entre os três países do topo do ranking global: EUA, Brasil e Índia
Os Estados Unidos, Brasil e Índia possuem 24% da população global e respondem por 53% dos casos acumulados e por 44% das mortes acumuladas da covid-19. Os EUA assumiram o primeiro lugar em número de pessoas infectadas no mês de abril, com uma média móvel de cerca de 30 mil casos diários. Mas estes números caíram para a casa de 20 mil e o Brasil assumiu a primeira colocação no mês de junho. A segunda onda dos EUA fez o país voltar à liderança isolada com uma média de quase 70 mil casos diários na maior parte do mês de julho. Porém, a média móvel do número de casos dos EUA caiu para menos de 50 mil casos na última semana (34ª SE).
A média brasileira também caiu e ficou abaixo de 40 mil casos diários na 34ª SE. Já a média móvel da Índia subiu para mais de 60 mil casos na última semana, mostrando que a Índia assumiu a liderança global do número de casos na segunda metade do mês de agosto. Mas o coeficiente de incidência é de 17,6 mil casos por milhão de habitantes nos EUA, de 16,8 mil casos por milhão no Brasil, de 2,2 mil casos por milhão na Índia e de 3 mil casos por milhão na média mundial.
Em relação ao número de mortes, os EUA também ficaram na liderança isolada nos meses de abril e maio e tiveram um pico com média de mais de 2.500 óbitos diários, como mostra o gráfico abaixo. Mas o número de vidas perdidas para a covid-19 caiu e o Brasil ultrapassou o número diário de mortes dos EUA no mês de junho e em quase todo o mês de julho. Ou seja, o Brasil ficou quase 60 dias na liderança isolada do triste ranking global de óbitos para o Sars-CoV-2. No final de julho, os EUA voltaram a apresentar números superiores aos do Brasil e a Índia se aproximou, quase empatando com os dois países das Américas. Na última semana, os 3 países tiveram média móvel próximo de 1 mil óbitos diários. O coeficiente de mortalidade, no dia 22/08, estava em 544 óbitos por milhão de habitantes nos EUA, em 537 óbitos por milhão no Brasil, em 104 óbitos por milhão no mundo e em 41 óbitos por milhão na Índia.
No cômputo geral, o Brasil está em 11º lugar no ranking global do coeficiente de mortalidade, atrás de San Marino (1.237 óbitos por milhão), Bélgica (861), Peru (831), Andorra (686), Espanha (617), Reino Unido (610), Itália (588), Suécia (575), Chile (564), EUA (544). Mas até o final de setembro o Brasil, provavelmente, deve pular para o 4º lugar, pois avança em ritmo mais acelerado do que os outros países que já estão com níveis bem mais baixos de mortalidade.
Dispara o número de casos e de óbitos no Líbano depois da explosão em Beirute
No dia 04 de agosto o porto de Beirute foi totalmente destruído por uma explosão que ocorreu em um depósito que armazenava nitrato de amônio. O estouro lançou uma nuvem de poeira no ar e sacudiu o centro de Beirute destruindo tudo em volta, causando quase 200 mortes e mais de 5.000 feridos, além de forçar mais de 300.000 pessoas a deixarem suas casas. Esta tragédia veio se somar à catástrofe econômica, resultado da convergência de má administração, corrupção e instabilidade política. Desde outubro de 2019, a lira desvalorizou 80%, provocando cenas de fome e desespero até então raras num país que até a década passada era considerado um oásis de prosperidade no Oriente Médio. A insatisfação cresceu entre a população libanesa. Os jovens foram para as ruas protestar e, uma semana depois da explosão o primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou a demissão em bloco de seu Governo.
Com toda a movimentação gerada pela explosão e a mobilização das pessoas para procurar o sistema de saúde, para limpar os destroços e para protestar contra a inépcia do governo, houve um agravamento da pandemia do novo coronavírus.
O gráfico abaixo mostra que a média móvel do número de novas pessoas infectadas estava em torno de 160 casos até o dia 04 de agosto e subiu para mais de 500 casos dez dias depois. No dia 21/08 houve um recorde de 628 casos e a tendência é de aumento. O gráfico do lado direito mostra o número diário de mortes da covid-19 e a média móvel de 7 dias. Antes da explosão o máximo de vítimas fatais diárias foi de 4 óbitos e a média móvel não passava de 2 óbitos. Porém, depois da explosão no porto de Beirute, o número de mortes chegou a 8 vítimas no dia 08 de agosto e a média móvel está em 4 óbitos diários. E apresenta tendência de elevação.
O Líbano é um exemplo de país que está perdendo o controle sobre a pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a continuidade do surto pandêmico e a mudança do perfil epidemiológico, pois os adultos na faixa dos 20, 30 e 40 anos agora estão liderando a propagação em maior proporção e muitos deles nem sabem que estão infectados, mas se tornam um risco para os idosos.
Segundo a OMS, a tendência da covid-19 no Brasil é de estabilização ou de ligeira queda. Mas adverte que, com números ainda em alto platô e com certas áreas ainda apresentando tendência de alta, o país tem muito o que fazer para conseguir caminhar para uma situação de controle. No mundo, a estimativa é de que a doença possa estar sob controle em “menos de dois anos”.
Para Tedros Adhanom, diretor geral da OMS, a redução do número de casos e óbitos não é uma vitória definitiva, pois alguns países europeus e asiáticos estão registrando uma volta no número de casos e servem de alerta para o restante do mundo. Tedros considera que o isolamento social foi importantíssimo, mas que o confinamento indefinido “não é a solução de longo prazo para ninguém”. Todavia, com vacinas e ações globais, há uma perspectiva de que a pandemia possa ser freada “em menos de dois anos”.
Desta forma, ainda há uma longa distância para atravessar a “ponte sobre águas turbulentas”. Cada passo conta na marcha para vencer a covid-19. E as providências efetivas são aquelas tomadas aqui e agora, sem hesitação e sem procrastinação.
Frase do dia 23 de agosto de 2020
“Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe”
Clarice Lispector (10/12/1920-09/12/1977) – cem anos do nascimento