O Brasil já registrou quase 4 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e mais de 120 mil vítimas fatais nos seis meses posteriores à confirmação do primeiro caso da covid-19, em 26 de fevereiro de 2020. Números que podem ser ainda maiores se consideramos os subregistros em decorrência da falta de testes e das subnotificações em geral. Na maioria dos países do mundo o surto pandêmico foi controlado, ou bastante reduzido, no espaço de 3 ou 4 meses.
O Brasil mantém uma maratona cansativa. Se as projeções mais pessimistas não ocorreram, tampouco as estimativas mais otimistas se confirmaram. Os números no Brasil nem subiram muito e nem desceram significativamente. As curvas epidemiológicas, tanto de casos quanto de óbitos, têm mantido uma estabilidade desconcertante e em alto platô por muitas semanas sucessivas, confirmando o segundo lugar entre os países mais impactados no ranking internacional.
Na 35ª semana epidemiológica (SE de 23 a 29 de agosto), o Brasil ultrapassou os EUA no coeficiente de mortalidade com 568 óbitos por milhão de habitantes, contra 564 óbitos por milhão, segundo dados do dia 29 de agosto. O Brasil já está nas 10 primeiras posições no ranking global do coeficiente de mortalidade e pode chegar ao 3º lugar até o final do mês de setembro, como veremos no gráfico mais à frente.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosA boa notícia da 35ª SE foi a diminuição da média do número de casos e de óbitos do Sars-CoV-2. A média de 7 dias dos casos voltou para o nível prevalecente há 2 meses e a média de 7 dias dos óbitos recuou para o nível de 3 meses atrás. Atualmente, a pandemia apresenta uma tendência de baixa da curva epidemiológica, indicando que o país pode estar “descendo a ladeira” e superando a pior fase da covid-19. A pandemia no Brasil já não avança mais em ritmo muito superior ao da média global. Mas a situação ainda não favorece um relaxamento amplo, geral e irrestrito.
O panorama nacional
Os dados oficiais do dia 29 de agosto registraram 3.846.153 pessoas infectadas e 120.262 vidas perdidas, com uma taxa de letalidade de 3,1%. Foram 41.350 novos casos e 758 óbitos em 24 horas. O general de divisão do Exército Brasileiro, Eduardo Pazuello, Ministro interino da Saúde desde o dia 15 de maio, contabilizou 107 dias de interinidade e durante sua gestão houve 3,64 milhões de casos e 106,3 mil mortes, com uma média diária de 34 mil casos e 993 mortes.
O gráfico abaixo mostra os valores diários das variações dos casos e das mortes no Brasil da 16ª semana epidemiológica (SE = 12 a 18 de abril) até a 35ª SE (23 a 29 de agosto). Nota-se que todas as baixas acontecem nos fins de semana e as elevações nos dias úteis. Mas as linhas (pontilhadas) da tendência polinomial de terceiro grau apresentam uma suavização das oscilações sazonais e indicam uma extrapolação para os próximos 7 dias. O pico ocorreu no final do mês de julho e tanto os casos quanto os óbitos apresentaram tendência de queda em agosto, embora ainda permaneçam em alto platô. No dia 29 de agosto, a média móvel de casos ficou abaixo de 40 mil e a média móvel de vidas perdidas ficou abaixo de 900 óbitos. O ajuste polinomial indica que o mês de setembro será de declínio lento, mas continuado.
A região Norte é aquela que apresenta o maior coeficiente de incidência com 28,5 mil casos por milhão de habitantes, seguida da região Centro-Oeste (25,9 mil casos por milhão), da região Nordeste (20 mil casos por milhão) e da região Sudeste (15,2 mil casos por milhão), sendo que a região Sul tem o menor coeficiente de incidência com 13,2 mil casos por milhão. A média do Brasil é de 18,2 mil casos por milhão e do mundo é de 3,2 mil casos por milhão de habitantes.
Em relação ao coeficiente de mortalidade, a região Norte também apresenta os maiores valores com 717 óbitos por milhão de habitantes, seguido da região Sudeste (611 óbitos por milhão), da região Nordeste (608 óbitos por milhão), da região Centro-Oeste (537 óbitos por milhão) e o Sul com o menor valor (293 óbitos por milhão). A média do Brasil é de 568 óbitos por milhão e do mundo é de 109 óbitos por milhão de habitantes.
A Unidade da Federação com maior coeficiente de incidência é Roraima com 68,6 mil casos por milhão, seguida de Distrito Federal com 52,3 mil casos por milhão e Amapá com 50 mil casos por milhão. Os maiores coeficientes de mortalidade estão em Roraima com 930 óbitos por milhão de habitantes, Rio de Janeiro com 928 óbitos por milhão e Ceará com 912 óbitos por milhão. Minas Gerais é a UF com os menores valores: 9,98 mil casos por milhão e 248 óbitos por milhão de habitantes.
O mundo ultrapassou 25 milhões de casos e 845 mil mortes no dia 29 de agosto, com uma taxa de letalidade de 3,4%. Foram 256 mil casos e 5,3 mil óbitos em 24 horas.
No gráfico abaixo, a curva do número de casos parecia indicar uma reversão em meados de abril, começando a esboçar um declínio. Porém, manteve a tendência de alta e acelerou a subida, com um recorde impressionante de quase 300 mil casos em 24 horas nos últimos dois dias de julho. A curva de mortalidade apresentou uma variação máxima diária em 16 de abril com cerca de 10 mil óbitos. A partir deste dia houve queda até o valor mínimo no dia 25 de maio. Porém, a variação diária voltou a subir e atingiu valores acima de 7.000 óbitos nos dias 06 e 13 de agosto. A pandemia continua avançando no mundo e o ajuste polinomial indica a continuidade do aumento da morbimortalidade na próxima semana (30/08 a 05/09). Os três países mais impactados, em termos absolutos, são EUA, Brasil e Índia, sendo que este último está assumindo a liderança diária no número de casos e de óbitos.
Em termos de coeficiente de incidência os EUA e o Brasil estão praticamente empatados com 18,3 mil casos por milhão de habitantes, enquanto a Índia possui um coeficiente de apenas 2,6 mil casos por milhão de habitantes.
Em termos de coeficiente de mortalidade o Brasil ultrapassou os EUA na semana que passou e agora ocupa a 10ª posição no ranking global, conforme mostra o gráfico abaixo. O primeiro lugar disparado cabe a San Marino com 1.237 óbitos por milhão de habitantes. Acontece que San Marino é um país muito pequeno, com apenas 34 mil habitantes e possui uma alta proporção de idosos na população. Em termos acumulados o país apresentou apenas 710 casos e 42 óbitos. Algo parecido ocorre com Andorra, que tem uma população de 77 mil habitantes e apresentou um coeficiente de mortalidade de 686 óbitos por milhão de habitantes. Mas em termos acumulados são somente 1.124 casos e 53 óbitos.
Assim, desconsiderando estes dois países com menos de 1 milhão de habitantes, o líder do ranking é o Peru com 866 óbitos por milhão, seguido da Bélgica com 852 óbitos por milhão, Espanha com 620 óbitos por milhão, Reino Unido com 611 óbitos por milhão, Itália com 587 óbitos por milhão, Chile com 584 óbitos por milhão e o Brasil com 568 óbitos por milhão de habitantes. A média mundial é de 109 óbitos por milhão. A Índia apresenta coeficiente de mortalidade de apenas 46 óbitos por milhão. No ritmo atual (e desconsiderando San Marino e Andorra que são muito pequenos), provavelmente, o Brasil deve assumir o terceiro lugar no ranking global até o final de setembro de 2020.
O povo brasileiro precisa cobrar das autoridades e das instituições brasileiras uma boa avaliação de como chegamos até aqui, para onde vamos e como minimizar não somente os efeitos da emergência sanitária, mas também as consequências econômicas e sociais de todo este processo.
Frase do dia 30 de agosto de 2020
“Só é digno da liberdade, como da vida, a pessoa que se empenha em conquistá-la”
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), poeta e escritor alemão