Crianças em quarentena. E agora?

Estéfi Machado com o o filho em casa: máscaras de mentirinha e muita brincadeira durante a quarentena (Reprodução Instagram @blog.estefi.machado)

Especialistas dão dicas sobre como entreter os filhos durante o isolamento em casa

Por Fernanda Baldioti | ODS 3 • Publicada em 17 de março de 2020 - 12:24 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 22:32

Estéfi Machado com o o filho em casa: máscaras de mentirinha e muita brincadeira durante a quarentena (Reprodução Instagram @blog.estefi.machado)

Nos grupos de WhatsApp de pais de estudantes de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, o assunto era praticamente o mesmo nesta segunda-feira: como lidar com as crianças cheias de energia enfurnadas dentro de casa? Neste primeiro dia de quarentena para muitas famílias brasileiras, os memes logo surgiram, e cartilhas com sugestões de atividades também. Diferentemente das férias escolares, o espaço ficou mais restrito, sem opções como cinemas, shoppings ou brincadeiras com os amigos. E com o agravante de que, para muitos pais, é preciso dividir o tempo entre as crianças e o home office. Resultado? Em um dia já foi possível perceber o quanto o confinamento pode elevar o estresse familiar.

Kit de sobrevivência para uma quarentena brincante: material viralizou nos grupos de WhatsApp

A designer, fotógrafa e cenógrafa Estéfi Machado percebeu isso assim que resolveu adotar a quarentena antes mesmo do pedido das autoridades brasileiras. Com o marido diabético e o filho gripado, ela impôs à família a reclusão já no fim da semana passada sem receber visitas. No sábado, resolveu reunir as dicas que há oito anos vem dando em seu blog sobre como unir pais e filhos por meio de brincadeiras simples para ser produzidas em casa. O “Kit de Sobrevivência Para Uma Quarentena Brincante”, em algumas horas, viralizou.

“Não é fácil. Estamos acostumados numa toada e somos obrigados a desacelerar. Leva um tempo para acostumar. Ainda não acostumamos, mas estamos tentando ser criativos. Me pareceu um caminho natural ajudar as pessoas a também entreterem seus filhos com materiais bem simples, que todo mundo tem em casa”, disse ela ao #Colabora, contando que comprou um Ukulele e está tentando aprender a fazer bolo . “Estamos tentando ver luz nessa situação toda. A parte boa é a gente ficar junto. E aprender a conviver junto porque ninguém fica 24 horas junto. Vai ser uma aventura”.

A educadora parental Jackeline Arantes, do blog Apenas Mãe, também viu seu e-book “Férias em casa” viralizar nos grupos de pais. O material de 2018 é sobre atividades que podem ser feitas em casa com materiais baratos e simples e fáceis de ser replicadas.

“A gente tem que passar tranquilidade para as crianças, que vão ver tudo como uma grande férias em casa. Quanto mais pudermos transformar essa fase em um momento lúdico, de brincadeira, melhor vai ser para eles. Claro que é um desafio imenso porque está todo mundo tenso, não é todo mundo que parou de trabalhar, tem muita gente que precisa trabalhar mesmo que de casa. O e-book vem para esses momentos que a gente esgotou o repertório e está sem ideia”.

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As crianças não serão diferentes do que são habitualmente por causa do estado de quarentena

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A equipe do curso de musicalização infantil Brincando de Papel, que também faz shows interativos para bebês e crianças, anunciou um espetáculo online pelo YouTube para proporcionar momentos de alegria de uma forma lúdica e divertida em família. O evento será nesta quarta-feira às 15h, no horário de Brasília.

Para Maria Inês Delorme, professora do Departamento de Estudos da Infância da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autora do blog Papo de Pracinha, o primeiro desafio dos pais consiste em lidar com a verdade sem dramatizá-la ao extremo.

“Devemos falar a verdade sem pesar no tom. É preciso explicar que existe uma gripe nova então temos que nos proteger até que descuram as vacinas, os medicamentos etc“, recomenda ela, enfatizando que é preciso organizar o tempo e o espaço doméstico de modo a não punir as crianças e nem os pais pelo contexto atual desse encontro familiar “compulsório: “As crianças não serão diferentes do que são habitualmente por causa do estado de quarentena. Crianças precisam de atenção, de amor, de gente que lhes conte boas histórias, de brincadeiras instigantes, de montar quebra-cabeças, de criar teatrinhos com fantasias de papel ou de pano”, completa Angela Borba, também do blog Papo de Pracinha.

Uma espécie de livro de histórias infantil para esclarecer aos pequenos, de forma lúdica, o que é o coronavírus, como ele pode afetá-los e como impedir a propagação foi criado pela psicóloga e professora colombiana Manuela Molina. A cartilha chamada “Olá! Eu sou o coronavírus” foi traduzida para diversas línguas e usa a fantasia e o universo simbólico para auxiliar no enfrentamento da doença.

Nas redes sociais surgiram até perfis criados para lidar com esse período, como o @quarentandofeliz , que reúne alguns vídeos e ilustrações sobre a covid-19 voltadas para o público infantil, como a cartilha de Manuela Molina e até experiências que buscam tangibilizar a doença para as crianças.

Já no @desquarentena, uma jornalista vai fazendo um desabafo e mostrando a rotina de quem está trabalhando até mais de casa e cuidando de criança ao mesmo tempo. “Plano de ação 1: preparar a rotina para quando tudo tiver que parar, menos você”, “Home office 100% pronto, saúde mental 0% pronta” foram algumas das legendas postadas por ela na rede.

Para os pais que não podem fazer home office, o problema é com quem deixar as crianças. A auxiliar de serviços gerais Jacqueline Silva, moradora da Pavuna, conta que não teve outra alternativa a não ser deixar a filha Izabela, de 11 anos, sozinha em casa o dia todo após o cancelamento das aulas:

“Só rezando mesmo. Mas não tenho o que fazer. Eu e meu marido não fomos dispensados do serviço. Falei pra ela não abrir a porta pra ninguém e sei que vai ficar no celular o dia todo. Mas, fazer o quê? Faço limpeza em apartamentos de um condomínio. Como ficar em casa e fazer isso pela internet? Não dá”.

Fernanda Baldioti

Jornalista, com mestrado em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trabalhou nos jornais O Globo e Extra e foi estagiária da rádio CBN. Há mais de dez anos trabalha com foco em internet. Foi editora-assistente do site da Revista Ela, d'O Globo, onde se especializou nas áreas de moda, beleza, gastronomia, decoração e comportamento. Também atuou em outras editorias do jornal cobrindo política, economia, esportes e cidade.

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