O Texas Tribune e a ProPublica, duas organizações de mídia independente e sem finas lucrativo dos Estados Unidos, acabam de lançar uma iniciativa de jornalismo investigativo, com 11 profissionais e US$ 8 milhões de dólares, para fazer reportagens em cinco anos no estado do Texas. Também nos EUA, um fundo de US$ 50 milhões será instituído para financiar organizações locais de mídia digital e independente, sem fins lucrativos e fundadas por jornalistas. Estas duas iniciativas foram citadas por Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas e diretor do Knight Center for Journalism in the Americas, em palestra de abertura do Festival 3i de Jornalismo, para dar exemplos de que o jornalismo tem futuro e passa por organizações de mídia digitais e independentes.
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Veja o que já enviamosNão podemos criar expectativa de que o peso que a publicidade tinha no financiamento da mídia tradicional do passado será substituído pelo peso dos assinantes. A solução passa por uma diversidade de fontes de receita
[/g1_quote]O Festival 3i Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, que vai até domingo (20) na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, é organizado por 13 veículos jornalísticos, todos nativos digitais: #Colabora, (o))eco, Agência Lupa, Agência Pública, Congresso em Foco, Énois, JOTA, Marco Zero Conteúdo, Nexo, Nova Escola, Poder360, Ponte Jornalismo e Repórter Brasil.
Apesar de admitir que a realidade americana é muito diferente da brasileira, Rosental destacou que os 13 projetos envolvidos na realização do Festival 3i e o próprio evento mostram a força desse novo modelo de jornalismo e suas fontes de receita. “Não podemos criar expectativa de que o peso que a publicidade tinha no financiamento da mídia tradicional do passado será substituído pelo peso dos assinantes. A solução passa por uma diversidade de fontes de receita”, afirmou o professor e jornalista.
Rosental Calmon Alves contou que costumava usar duas imagens em suas palestras para ilustrar o passado – uma paisagem do deserto americano com seus cactus – e o futuro – a selva amazônica – do jornalismo.”Vivemos numa era de abundância de informações, de plataformas, de formas de distribuição; numa época de diversidade amazônica do jornalismo. As empresas de mídia tradicional, os cactus do deserto que cresceram na época da escassez, estão encolhendo”, ilustrou o jornalista de 67 anos que, antes de se tornar professor na Universidade do Texas, foi repórter e correspondente internacional do Jornal do Brasil.
[g1_quote author_name=”Rosental Calmon Alves” author_description=”Jornalista e professor da Universidade do Texas” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Este fundo de US$ 50 milhões que será lançado tem exatamente este foco: financiar organizações locais, fundadas por jornalistas e sem fins lucrativos. O dinheiro é para financiar exatamente aquilo que os jornalistas não sabem fazer: o uso das mais moderna tecnologia e a buscar de fontes de receita para tornar a iniciativa sustentável
[/g1_quote]Escolhido como palestrante para abertura do Festival 3i por sua contribuição ao jornalismo digital no Knight Center, Rosental disse que as mídias nativas digitais “estão ajudando decisivamente a reinventar o jornalismo” e citou exemplos de iniciativas norte-americanas recentes e de grande sucesso, como Vox, Político, Buzzfeed News, Axios e Texas Tribune. “São organizações de mídia nativa digital que hoje empregam muita gente, tem alta audiência e alto faturamento”, destacou.
O jornalista e professor contou estar interessado agora no desenvolvimento de iniciativas de mídias nativas digitais locais, sem fins lucrativos, lembrando que os veículos de mídia tradicional local foram os que mais sofreram com a transição do deserto para a selva amazônica tanto nos Estados Unidos como no Brasil e na maioria dos países. “Este fundo de US$ 50 milhões que será lançado tem exatamente este foco: financiar organizações locais, fundadas por jornalistas e sem fins lucrativos. O dinheiro é para financiar exatamente aquilo que os jornalistas não sabem fazer: o uso das mais moderna tecnologia e a buscar de fontes de receita para tornar a iniciativa sustentável”, contou Rosental.
Para o diretor do Knight Center, os veículos de mídia tradicional desde que adaptem-se – “como muitos estão tentando – a esta era da abundância. “Nesse novo e grande ecossistema jornalístico, há lugar para ambos os modelos. Há organizações que já se mostraram capazes de levar o o jornalismo do deserto à selva amazônica”, afirmou Rosental, na palestra de abertura do Festival 3i, realizada na noite de sexta (18/10).
Mais cedo, a programação teve workshops e mesas de discussão sobre temas como fact-checking, elaboração de projetos, modelos de negócios, podcasts e introdução à reportagem investigativa. Também houve palestras de parceiros do evento como o Google News Initiative e o Facebook Journalism Project. Além da organização das 13 iniciativas de mídia nativa digital, o Festival 3i conta com apoio da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
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