Ataques e ameaça da covid-19 são tema de acampamento virtual indígena

Sônia Guajajara na reunião de abertura do Acampamento Terra Livre, com reunião da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil: “estamos sob ataque” (Foto: reprodução/Youtube)

Em encontro online, lideranças protestam contra invasões de suas terras por madeireiros e garimpeiros e falta de apoio para isolamento social

Por Liana Melo | ODS 16ODS 3 • Publicada em 27 de abril de 2020 - 20:04 • Atualizada em 7 de março de 2021 - 14:23

Sônia Guajajara na reunião de abertura do Acampamento Terra Livre, com reunião da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil: “estamos sob ataque” (Foto: reprodução/Youtube)

Pela primeira vez em 16 anos, o Acampamento Terra Livre não ocupou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Devido a pandemia de covid-19, o maior encontro dos povos indígenas começou nesta segunda, 27/4, virtualmente e seguirá assim, somente pela tela do computador, até o próximo dia 30. Organizadora do encontro, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) optou em não cancelar a reunião justamente pela gravidade da situação: o risco de um novo genocídio com a chegada da covid-19 nas aldeias e as ameaças constantes de invasão nos territórios indígenas por desmatadores, garimpeiros, madeireiros, além do aumento da violência contra lideranças indígenas.

“Estamos sob ataque”, denunciou a liderança indígena Sônia Guajajara, referindo-se a mais recente investida do governo Bolsonaro contra os povos indígenas. Às vésperas do encontro, a Fundação Nacional do Índio (Funai) editou medida que libera geral a ocupação e a venda de terras indígenas sem homologação. Com a mudança, o passivo de 237 Terras Indígenas que aguardavam homologação estão correndo o risco de serem transformadas em imóveis privados. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 24, dias antes da abertura do Acampamento Terra Livre.

Enquanto as lideranças indígenas tentam manter “os parentes” nas aldeias estimulando o isolamento social, a quarentena não está sendo cumprida por garimpeiros, madeireiros, desmatadores. Cerca de 20 mil garimpeiros continuam trabalhando nas terras indígenas Yanomami e os alertas de desmatamento aumentaram 29,9% na Amazônia, em março contra o mesmo período do ano anterior, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Enquanto isso, a pandemia do novo coronavírus avança nas aldeias. Um total de 85 indígenas já foram contaminados, levando 11 deles a óbito – todas as mortes ocorreram na região na Amazônia Legal.

Líder indígena Kretã Kaingang, da Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná, na reunião virtual dos coordenadores da Apib: “Para cada novo ataque, criamos uma nova estratégia de luta” (Foto: Reprodução/Youtube)
Líder indígena Kretã Kaingang, da Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná, na reunião virtual dos coordenadores da Apib: “Para cada novo ataque, criamos uma nova estratégia de luta” (Foto: Reprodução/Youtube)

Para o coordenador executivo da Apib, Dinamam Tuxá, a única alternativa que resta aos povos indígenas é “barrar o avanço do genocídio que está em curso” contra os povos indígenas. O enfrentamento da pandemia do novo coronavírus – , denuncia – não estabeleceu uma estratégia que leve em consideração as especificidades dos povos indígenas. Enquanto bancadas no Congresso Nacional, representadas pelos mineradores e madeireiros, querem “usurpar nossas terras”. 

“Queremos demarcação de terras e de telas”, pontuou o líder indígena Kretã Kaingang, da Terra Indígena Mangueirinha, no interior do Paraná, que costuma ser taxativo: “Para cada novo ataque, criamos uma nova estratégia de luta”. Temas como saúde indígena e racismo, agenda LGBTQ +, mudanças climáticas, desmatamento e direitos indígenas são alguns dos assuntos que serão debatidos remotamente durante toda essa semana. 

 

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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