Desmatamento: biomas brasileiros têm queda generalizada em 2024

Redução no país ficou em 32%: MapBiomas aponta que, pelo segundo ano consecutivo, Cerrado foi o bioma com maior área desmatada, ultrapassando a Amazônia

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 15 de maio de 2025 - 01:30 • Atualizada em 15 de maio de 2025 - 12:15

Operação contra desmatamento no Pará: queda de 16% na área desmatada na Amazônia e mais de 30% em todos os biomas (Foto: Agência Pará – 22/06/2023)

Pela primeira vez desde o início da validação e publicação de alertas de desmatamento no Brasil, em 2019, a iniciativa MapBiomas Alerta registrou, em um mesmo ano, queda generalizada na perda de cobertura de vegetação nativa. De acordo com a nova edição do RAD – Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, a área total desmatada no país recuou 32,4% em relação a 2023, enquanto o número de alertas validados caiu 26,9%. “É uma queda expressiva, importante, mas não podemos perder de vista que o desmatamento continua alto”, destacou o geógrafo Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, na apresentação a jornalistas do relatório, lançado nesta quinta (15/05) com dados até 2024.

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Como em 2023, o Cerrado foi o bioma com maior superfície atingida – ultrapassando até a Amazônia, maior bioma brasileiro. A boa notícia é a redução expressiva da área desmatada no Cerrado em 2024: queda de 41,2% em relação ao ano anterior. Em 2023, o Cerrado havia alcançado o topo do triste ranking ao registrar um aumento de 68% no comparativo com 2022. No fim de 2023, o governo lançou Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento do Cerrado – PPCerrado – com um conjunto de iniciativas para conter o desmate no bioma.

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Com esses números no Cerrado, também pelo segundo ano consecutivo, as formações savânicas foram as áreas mais desmatadas (52,4%) no Brasil, seguidas das formações florestais (43,7%). “Essa mudança ocorreu pela primeira vez em 2023. A gente sempre teve historicamente o desmatamento concentrado em regiões da Amazônia. Esse ano, os dois biomas tiveram uma redução, mas ainda manteve o padrão anterior, porque o desmatamento do Cerrado foi maior que o da Amazônia”, alertou Marcos Rosa.

Também houve quedas expressivas nos menores biomas do país: no Pantanal, a área desmatada teve redução de 56,8% (de 56.302 hectares em 2023 para 23.296 hectares em 2004; no Pampa, a diminuição foi a 42,1% (de 1547 hectares para 896 hectares). “Nesses últimos anos, foram construídos planos de enfrentamento ao desmatamento para todos os biomas, o que não havia antes. Outra questão é que aumentou a participação dos estados nas ações em relação ao desmatamento, em termo de atuarem mais nos embargos e autuações feitas pelo Ibama. O terceiro fator é a questão do crédito rural. Houve um aumento do uso desses dados para a concessão de crédito rural”, explicou Tasso Azevedo, coordenador geral do Mapbiomas.

Na Amazônia, após queda de 32% no desmatamento em 2023, o RAD 2024 registrou nova redução, de 16,8%, na área desmatada. “Esses dois resultados consecutivos demonstram uma tendência que precisa ser mantida, com atuação firme dos órgãos de fiscalização”, destacou a engenheira florestal Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon e do MapBiomas. Na Caatinga, a queda ficou em 13,6%.

A única exceção nesse quadro de redução generalizada da área desmatada ficou na Mata Atlântica, onde o RAD 2024 registrou estabilidade após queda relevante, de mais de 60%, no ano anterior. O resultado – um aumento de 2% – está diretamente ligado ao impacto dos eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul, onde a área de Mata Atlântica desmatada saltou de 150 para mais de 3 mil hectares. Caso os temporais de 2024 não tivessem ocorrido, o bioma teria registrado uma redução de pelo menos 20% na área afetada em relação ao ano anterior.

No total, a iniciativa MapBiomas Alerta – que consolida informações fornecidas pelos vários sistemas de monitoramento do desmatamento no Brasil – validou e publicou 60.983 alertas em 2024: que somaram, no total, 1.242.079 hectares desmatados nos seis biomas brasileiros. Foi o segundo ano consecutivo de redução no desmatamento: em 2023, a retração havia sido de mais de 11% em comparação com 2022. O tamanho também diminuiu em 2024: o número de alertas com área maior que 100 hectares, por exemplo, teve uma redução de 31% em relação a 2023. Ao longo do ano passado, a área média desmatada por dia foi de 3.403 hectares – ou 141,8 hectares por hora. No caso da Amazônia, foram 1.035 hectares por dia, ou cerca de 7 árvores por segundo. No Cerrado, o ritmo da perda foi mais intenso: 1.786 hectares por dia.

Desmatamento no Brasil e por biomas: queda generalizada na área desmatada entre 2023 e 2024 (Arte: Mapbiomas)
Área desmatada no Brasil e por biomas: queda generalizada na área desmatada entre 2023 e 2024 (Arte: Mapbiomas)

Matopiba concentra desmatamento

Pelo segundo ano consecutivo, o Cerrado é o bioma com a maior área desmatada. Em 2024, foram 652.197 hectares – mais da metade (52,5%) do total desmatado no Brasil no ano passado. A região do Matopiba (área formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 75% do desmatamento do Cerrado e cerca de 42% de toda a perda de vegetação nativa no país. “Como em todo o Cerrado, a região do Matopiba também registrou queda no desmatamento, da ordem de 40% em relação a 2023. Mas ainda é uma área crítica, com o avanço da agropecuária. Os quatro estados do Matopiba estão entre os cinco que mais desmataram no Brasil em 2024. O município com maior área desmatada – São Desidério, no oeste da Bahia – também está na região”, destacou a cientista ambiental Roberta Rocha, coordenadora do MapBiomas Alerta Cerrado.

O Maranhão lidera o ranking estadual do desmatamento pelo segundo ano consecutivo, mesmo com redução de 34,3% na área desmatada, que totalizou 218.298,4 hectares no ano passado. O segundo lugar ficou com o Pará (157 mil hectares de área desmatada), seguido por Tocantins (153,3 mil hectares), Piauí (142,8 mil) e Bahia (134,4 mil). Dos cinco estados no topo do ranking, o Piauí foi o único a registrar aumento (cerca de 5%) no desmatamento. Os quatro municípios com maiores aumentos proporcionais também estão no Piauí: Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal.

Áreas críticas de desmatamento: alerta para Matopiba e Amacro (Arte: MapBiomas)
Áreas críticas: alerta para Matopiba e Amacro (Arte: MapBiomas)

Menor área desmatada na Amazônia

Com uma nova redução no desmatamento (de 16,8% em 2024 após 32% em 2023), a Amazônia, maior bioma brasileiro com superfície superior – com mais de 4 milhões de quilômetros quadrados, o dobro do Cerrado – ficou em segundo lugar neste ranking do MapBiomas, com 30,4% da área desmatada no Brasil (377.708 hectares): foi a menor área desmatada no bioma dos seis anos da série histórica do RAD, iniciada em 2019.

O Pará é o estado com maior área desmatada no acumulado de 2019 a 2024, com cerca de 2 milhões de hectares desmatados (1.984.813,8 hectares). Apesar desse volume total, o estado – que sediará a COP30, a Conferência do Clima da ONU, em novembro – registrou o segundo ano consecutivo de redução: depois de registrar uma queda de 60% em 2023, a área desmatada no Pará caiu mais 15% em 2024. Essa tendência foi seguida pela maioria dos estados amazônicos apresentou queda na área, com exceção do Acre, que registrou aumento de 30%.

O resultado do Acre confirma a preocupação dos pesquisadores com a região conhecida como Amacro – acrônimo formado pelo nome dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, a fronteira de expansão agropecuária que engloba o sudoeste do Amazonas, o norte do Acre e o sul de Rondônia. “É uma área crítica, onde há pressão sobre a floresta, apesar de termos registrado queda na área desmatada pelo segundo ano consecutivo”, alertou Larissa Amorim, do MapBiomas. Em 2024, houve uma redução de 13% na superfície desmatada na Amacro, quando comparado a 2023.

Juntos, Amazônia e Cerrado responderam por quase 89% da área desmatada em 2024. Depois aparece a Caatinga com 174.511 hectares (14%). O RAD 2024 destaca, porém que, pela primeira vez desde o início do MapBiomas Alerta, em 2019, o maior desmatamento no Brasil ocorreu no bioma Caatinga: foi também o maior alerta já publicado pela iniciativa MapBiomas Alerta nesses seis anos de projeto. Foram desmatados 13.628 hectares em um único imóvel rural no estado do Piauí, dentro de uma janela temporal de três meses, o equivalente a seis hectares por hora.

Os 3% restantes da área total de perda de vegetação no Brasil ficaram com Pantanal (1,9% ou 23.295 hectares) e Mata Atlântica (1,1%, ou 13.472 hectares). O Pampa aparece com a menor área do relatório: 0,1% do total, ou 896 hectares.

Desmatamento pelos estados: quedas expressivas em Goiás, Paraná, Espírito Santo e Bahia (Arte: MapBiomas)
Áreas desmatadas pelos estados: quedas expressivas em Goiás, Paraná, Espírito Santo e Bahia (Arte: MapBiomas)

Redução do desmate nas áreas protegidas

Dois terços das Terras Indígenas não tiveram qualquer evento de desmatamento em 2024. Nos 33% de TIs no Brasil com área desmatada, o total chegou a 15.938 hectares de perda de vegetação nativa, uma redução de 24% nessas áreas em relação a 2023. Essa superfície equivale a 1,3% do total desmatado no Brasil no ano passado. A Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) foi a que registrou maior área desmatada: 6.208 hectares – um aumento de 125% em relação a 2023. Foi o segundo ano consecutivo que esta TI registrou o maior avanço do desmatamento no país.

Dentro de Unidades de Conservação (UCs), foram perdidos 57.930 hectares de vegetação nativa em 2024 – uma redução de 42,5% em relação a 2023. Em UCs de Proteção Integral a redução foi maior: 57,9%, com 4.577 hectares em 2024. A APA Triunfo do Xingu (PA), na Amazônia, foi a UC com maior área desmatada no Brasil, com 6.413 hectares. Esse número representa uma redução de 31,7% em relação a 2023, quando ocupava o terceiro lugar no ranking, com 9.391 hectares. Em segundo lugar está a APA Serra da Ipiapaba, localizada entre os estados do Ceará e Piauí, com 6.145 hectares, seguida pela APA da Chapada do Araripe, entre Ceará, Pernambuco e Piauí, com 5.965 hectares.

Mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos ocorreram por pressão da agropecuária. Outros vetores têm peso distinto de acordo com o bioma. No caso do garimpo, por exemplo, 99% de toda área desmatada por essa atividade está localizada na Amazônia. Já no caso de desmates associados aos empreendimentos de energia renovável desde 2019, 93% deles estão concentrados na Caatinga. O Cerrado, por sua vez, concentra 45% da área desmatada relacionada à expansão urbana em 2024.

A análise dos dados por estado mostra que Goiás teve uma expressiva queda de 71% no desmate em 2024. O estado passou de 69.388 hectares de vegetação nativa suprimida em 2023 para 19.467 hectares em 2024. Outros estados que também se destacaram foram Paraná, Espírito Santo e Distrito Federal, que apresentaram redução de mais de 60% em relação ao ano anterior. Em seis anos, o desmate no Brasil suprimiu uma área equivalente a toda a Coreia do Sul: foram 9.880.551 hectares de 2019 a 2024 – dois terços dos quais (67%, ou 6.647.146 hectares) ficam na Amazônia Legal.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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