Se a avaliação geral do governo Bolsonaro já é ruim ou péssima para a maior parte – 47% pela última pesquisa do Ipec, 44% pelo Datafolha mais recente – dos brasileiros, em relação à Amazônia, o cenário para o presidente fica ainda pior. A mais recente pesquisa encomendada pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade) e realizada em setembro pelo Instituto PoderData aponta que 51% dos brasileiros consideram a ação do governo ruim ou péssima em relação à Amazônia.
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É a terceira pesquisa sobre a Amazônia encomendada pelo iCS: em relação à primeira, em junho, a percepção negativa sobre o governo Bolsonaro na Amazônia subiu três pontos percentuais. A pesquisa de setembro também mostra que a A consciência sobre a importância da proteção da Amazônia cresceu na reta final das eleições 2022, assim como o grau de informação dos brasileiros sobre o tema. Mais de sete em cada dez eleitores consideram que a preservação do bioma é importante para o desenvolvimento econômico do país.
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Veja o que já enviamosPara realizar a pesquisa, o Instituto PoderData ouviu 3 mil pessoas nas 27 unidades da Federação nos dias 6 e 7 de setembro. O levantamento aponta que o eleitor passou a valorizar mais o tema Amazônia durante a campanha eleitoral. Os que consideram a preservação importante para o desenvolvimento econômico do país subiram de 65%, detectados na pesquisa de julho, para 74% em setembro. Os que não consideram importante oscilaram dois pontos: de 19% para 17%.
Governo reprovado
A piora na avaliação do governo Bolsonaro na Amazônia não chega a ser surpreendente: na pesquisa de julho, os entrevistados foram perguntados sobre o combate à criminalidade na região e a grande maioria (65%) apontou ausência de ação governamental contra o crime. A violência segue em alta na Amazônia mas não é o único indicativo com tendência crescente na região: o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) detectou 74,7 mil focos de incêndio no bioma amazônico entre 1º de janeiro e 17 de setembro, aumento é de 51% na comparação com o mesmo período do ano passado. Na série histórica, é o maior número de queimadas na Amazônia neste período desde 2010.
Os dados do desmatamento também crescem mais até do que a avaliação negativa do governo. O sistema Prodes, do Inpe, aponta que, nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, a taxa de destruição da floresta foi superior a 10 mil quilômetros por ano. De agosto de 2020 e julho de 2021, o desmatamento acumulado chegou a 13 mil quilômetros quadrados, o equivalente a quase nove vezes a cidade de São Paulo. Em 2022, os dados mostram que a tendência segue de alta. De acordo com o sistema Deter, também do Inpe, foram desmatados 1.600 quilômetros de floresta na Amazônia só em agosto: aumento de 81% em relação ao mesmo mês de 2021 e a segunda maior taxa para o mês desde 2015.
Por isso, nada surpreende que o trabalho do governo federal na proteção da Amazônia foi considerado ruim ou péssimo por 51% dos entrevistados, três pontos percentuais a mais do que em junho (48%), na pesquisa iCS/PoderData. Só 18% consideraram a atuação do governo federal como boa ou ótima, um ponto a menos, em relação à Amazônia. Esse índice fica bem abaixo da avaliação geral das pesquisas mais recentes em que o governo Bolsonaro tinha 32% de bom e ótimo no Datafolha e 30% no Ipec.
A pesquisa mostrou ainda que o índice dos que querem a proteção da floresta entre as prioridades dos candidatos a presidente foi de 76% em junho para 83% em setembro, outra má notícia para Bolsonaro. A pesquisa detectou não só que o brasileiro dá cada vez mais atenção à Amazônia, mas também que, na hora de votar, leva o tema em consideração. Perguntados se a proteção da Amazônia deve ser uma prioridade para os candidatos a presidente, 83% disseram que sim. O índice é um pouco menor na Região Norte, embora a grande maioria concorde: 67%. O maior índice foi registrado no Centro-Oeste: 94%. A grande maioria disse também que sua chance de votar em um candidato aumenta se ele apresentar um plano específico para proteger a Amazônia: 69%. Em julho, o percentual era de 62%.
Sete em cada dez brasileiros também acham que proteger a floresta impacta positivamente no combate à fome: o índice subiu de 62% para 69%. Os que discordam passaram de 23% para 17%. Os pesquisadores perguntaram a cada eleitor se a chance de votar em um candidato aumentaria ou diminuiria se o postulante apresentasse um plano para proteger a Amazônia. O índice foi subindo ao longo da campanha: de 58% para 69% este mês.
Percepção positiva
A consulta foi feita logo após a realização dos Festivais Dia da Amazônia 2022. O maior evento cultural já realizado no país para celebração da data reuniu mais de 150 mil pessoas em shows e atividades em oito cidades do país. Os festivais, organizados por dezenas de organizações e movimentos da sociedade civil, contribuíram para o aumento do índice de pessoas que se dizem informadas sobre a Amazônia.
“É muito importante o aumento desse grau de conhecimento e de percepção positiva da floresta. A campanha eleitoral politizou o tema e destacou a importância da proteção da Amazônia na agenda do desenvolvimento, do combate à fome e do bem-estar social”, ressalta o cientista político Fabiano Santos, professor e pesquisador da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e coordenador do Legal (Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal).
Um ponto desafiador levantado pela pesquisa, segundo Fabiano Santos, é o grau menor de percepção dos eleitores da Região Norte, comparativamente às demais regiões, sobre a importância da proteção da floresta para o desenvolvimento nacional. No país, 74% disseram que essa proteção é importante para o desenvolvimento, um índice que chega a 80% no Sudeste e a 82% no Nordeste. Na Região Norte, é de 47%, enquanto 37% discordam, ou seja, não consideram essa proteção importante para o desenvolvimento. Também é menor no Norte o índice dos que se dizem informados sobre o que acontece na região: apenas 31%, enquanto a média nacional é de 42%.
“Este merece ser um ponto de atenção, pois as instâncias responsáveis pela proteção da Amazônia não se resumem às federais. Os governos estaduais e as assembleias legislativas também respondem muito pelo que acontece. No combate aos crimes, por exemplo, o papel dos governos locais é fundamental”, diz Fabiano Santos.