Carta na revista Nature Climate Change assinada por Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, e por Mauricio Voivodic, diretor-executivo da WWF-Brasil, reforça a importância de que a restauração da Mata Atlântica também seja inserida na agenda climática mundial, da mesma forma que a Amazônia. “No contexto da mitigação climática, é fundamental a conservação de florestas tropicais altamente ameaçadas e fragmentadas, portanto o caso da Mata Atlântica pode se tornar uma referência”, afirmam.
Os autores lembram que o bioma da Mata Atlântica começou a ser destruído depois da chegada dos europeus e da instalação de ciclos econômicos predatórios, que tiveram início em 1500 e se estenderam até meados do século XX, período em que terras e recursos florestais eram usados para a produção de bens. Hoje apenas 12,4% da vegetação original permanece, o que está abaixo do limite mínimo aceitável (30%) para a sua conservação.
O texto publicado na revista destaca ainda que, apesar de ser considerado um dos principais hotspots de biodiversidade do mundo e de haver lei federal para protegê-lo, o bioma segue ameaçado. “a Mata Atlântica é um dos ecossistemas globais com maior prioridade de restauração, considerando-se os benefícios na conservação da biodiversidade, na mitigação das mudanças climáticas e nos custos da restauração”, destacam os autores.
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Veja o que já enviamosA carta foi publicada nesta quinta-feira, dia 6, a três semanas do Dia da Mata Atlântica, celebrado em 27 de maio. O bioma abriga 70% da população brasileira, responde por 80% da economia, engloba grandes centros urbanos e indústrias, além de ser responsável pela maior parte da produção de alimentos do país.
Guedes Pinto e Voivodic frisam ainda que as atuais tendências apontam para “um aumento do desmatamento devido ao enfraquecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e às mudanças nas leis e regulamentos”. Eles acreditam, porém, na reconstrução de um novo caminho e lembram que o Brasil reduziu o desmatamento durante mais de uma década. “O Brasil conta com estruturas políticas para guiar a proteção e a recuperação da sua vegetação, como o Código Florestal, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG) e a recém-aprovada lei que permite Pagamentos por Serviços Ambientais“.
O PLANAVEG pretende restaurar 12 milhões de hectares; e o Pacto da Mata Atlântica tem planos de restaurar 15 milhões de hectares até 2050 no bioma da Mata Atlântica. Entre 4,1 e 5,2 milhões de hectares de mata ciliar também precisam ser restaurados para estarem em conformidade com o Código Florestal. “Um forte esforço para realizar a restauração florestal em larga escala e sob a fiscalização do Código Florestal, aumentar a proporção de áreas protegidas, implantar uma agenda positiva de incentivos econômicos e novas políticas para combater a degradação florestal, complementaria o atual roteiro para o sucesso das ações de conservação”, aponta a carta.
Os autores destacam ainda que a restauração da Mata Atlântica geraria benefícios não apenas para a população e a economia nacional, mas também para o planeta e a humanidade como um todo. “O objetivo da conservação deve ser reverter o ponto crítico do bioma para assegurar a manutenção e a provisão, a longo prazo, dos serviços ecossistêmicos necessários para a produção de alimentos e o abastecimento de água”.
Os diretores da da Fundação SOS Mata Atlântica e do WWF-Brasil concluem seu texto na Nature Climate Change reiterando a importância de prioridade para a restauração do bioma. “O Desafio Bonn e a Década da Restauração de Ecossistemas da ONU fornecem as estruturas internacionais necessárias para conduzir iniciativas de conservação, as quais devem ser complementadas com vontade política internacional, nacional e subnacional, e investimentos do setor privado”.